domingo, 13 de abril de 2014

Domingo de Ramos



Hoje, Domingo de Ramos, ao adentrar as portas da igreja, todo nós, exultantes, com os ramos de oliveira e as palmas, daremos um duplo testemunho acerca do Senhor: pelos ramos de oliveira confessaremos o Messias, o Ungido, já que é da oliveira que sai o azeite para a unção; e ao recebê-lo com as palmas da vitória, daremos testemunho de seu triunfo sobre a morte, porque teremos compreendido o significado de seu último sinal que foi o Despertar de Lázaro.
Através destes dois pórticos entraremos na Semana Santa e este curto tempo que vamos viver estará marcado por acontecimentos misteriosos, muitas vezes, aparentemente contraditórios, pouco claro para a nossa mente “pragmática” e “realista”. Se estivermos atentos, isto será uma constante na semana que iniciaremos.
Se olharmos atentamente para o Senhor, veremos no Evangelho deste Domingo de Ramos que o Senhor avança e entra triunfalmente em Jerusalém e é recebido como um rei vitorioso. Não obstante, montado num jumento, se apresenta como um soberano humilde, não-violento. E isto já nos adverte que seu reino não é deste mundo (Jo 18,36).
Jesus recebe silencioso todas estas aclamações do povo e, ante a curiosidade de alguns gregos que querem vê-lo, diz umas palavras que, até mesmo para os discípulos mais próximos são, no mínimo, enigmáticas. 
É chegada a hora em que o Filho do Homem será glorificado. Amém! Amém! Digo-vos: se o grão de trigo caído na terra não morre, fica só; mas se morre, dá muito fruto. Jo 12, 23-24.
Seus discípulos, certamente se perguntariam: Como pode ser que o Senhor, que acaba de ressuscitar Lázaro, e que hoje é aclamado pela maioria do povo de Israel, nos diga agora que sua glorificação consiste em que morrerá como um grão de trigo?
É que neste curto espaço de tempo de uma semana, momento em que vamos nos submergir no Mistério de nossa Salvação, tudo será renovado.
A morte vai adquirir um novo significado, será uma morte frutífera; Deus será glorificado por sua morte porque irá transformá-la numa passagem luminosa para a Ressurreição. Porém, esta transformação o Senhor a realizará atravessando a dor, as trevas e a solidão que a morte contém em suas entranhas.
Todas as palavras que o Senhor dirige à multidão são pouco compreensíveis. Como pode ser que um dos elementos mais repulsivos da época, o elemento de tortura por excelência que utilizavam os romanos, a cruz, seja transformado pelo Senhor, com sua presença, num pólo de atração para Ele? (...)
Quiçá, como diz Martín Buber falando dos profetas, porque as realidades significativas se realizam mais na profundidade do fracasso que na superficialidade do êxito. O êxito é efêmero, passageiro, porém, no fracasso nossa consciência fica perturbada para sempre.
Quem se recorda dos que mataram os profetas e o Cristo? 
Então, com um novo olhar, estes acontecimentos nos podem ser iluminados. 
Nas palavras finais do Evangelho do Domingo de Ramos, o Senhor vai se distanciando lentamente da multidão até ocultar-se dela. A sua vida pública vai chegando ao seu fim. A hora da glória só será compartilhada na intimidade por alguns poucos. Veremos que a maioria dos que hoje o recebem como rei, pedirão que seja crucificado. O aparente êxito de hoje, será transformado no aparente fracasso dos dias que virão. 
Por isso, tudo pode ser novo nesta semana que começa se não abandonamos o Senhor porque, é a partir de suas ações, e não de nossos pensamentos, que cada coisa terá um novo olhar.
Pois bem, se o novo nos dá medo, se todo o edifício que temos cuidadosamente construído por pensamentos e conceitos se nos desmorona ante os acontecimentos que vamos contemplar, como poderemos participar deste tempo da Paixão sem perigo para as nossas almas, como dirá o diácono nos ofícios desta Semana? 
A resposta é bastante simples, porém, não simplória: responder à proposta que o Senhor nos faz no Evangelho: Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará. (Jo 12, 26).
Seguir o Senhor para estar com Ele, para servi-Lo, fazer um silêncio profundo sobre nossas necessidades, sobre nossos pensamentos, sobre nossos sentimentos, sobre nossas opiniões. Estar atentos aos acontecimentos sem a interferência de nosso eu, sequer para tentar compreender. Silêncio receptivo: somente a ação de Deus, seus atos, suas palavras, seu silêncio. Podemos repetir ao longo destes dias uma pequena oração “Não eu, Senhor, senão Tu”. 
E, ao mesmo tempo, com o olhar posto somente n’Ele, pedir-Lhe que nos revele as traições, as negações, a covardia e a indiferença que guardamos em nosso coração, defesas que impedem sua presença redentora em nós.
Quiçá então, ao final deste curto percurso, animemo-nos a recorrer, algo se faça novo em nós, e comece nosso caminho rumo a verdadeira conversão.
O Domingo de Ramos, o Senhor entra em Jerusalém e nos convida para que O sigamos. Pressentindo já a glória da Ressurreição, abraçamos a todos vocês, amigos e fiéis, com o santo ósculo da Páscoa que faz passar por nós o sopro da Vida nova. Que as portas da igreja, que abrimos hoje solenemente na liturgia, sejam simbolicamente as portas de nosso coração aberto e vulnerável, orientado unicamente, neste tempo de uma semana, para a realização do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...