sábado, 3 de agosto de 2013

A Igreja da empatia


O teólogo italiano Vito Mancuso, ex-professor da Università Vita-Salute San Raffaele, de Milão, publicou o artigo abaixo no jornal La Repubblica, 30-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto, para o IHU.

É muito provável que os comentários sobre as declarações do papa sobre as pessoas homossexuais se dividam em duas correntes contrapostas entre si.

De um lado, aqueles que desejam uma decisiva reforma das posições da Igreja Católica entenderão as palavras do papa como revolucionárias, diferentes, anunciadoras de mudanças. De outro lado, aqueles que pretendem conservar o status quo lerão as mesmas palavras do papa como totalmente coerentes com as posições de sempre, aquelas reiteradas várias vezes por João Paulo II e Bento XVI.

E é preciso dizer, na verdade, que, na ausência de atos efetivos de governo do Papa Francisco voltados a modificar a legislação canônica vigente, ambas as posições têm a sua legitimidade própria. De fato, o papa não disse nada que Bento XVI também não teria assinado embaixo, dizendo que: 1) as pessoas homossexuais como tais devem ser acolhidas e em nada discriminadas, enquanto os atos sexuais delas não podem encontrar acolhida dentro da ética católica; 2) para os divorciados em segunda união, o primado deve ser atribuído à misericórdia; 3) a mulher deve ter mais espaço no governo da Igreja, mesmo que a Igreja não poderá chegar a lhe conceder a admissão ao sacerdócio, excluído das mulheres católicas definitivamente.

Por que, então, por parte de todos no mundo se sente nas palavras do papa uma sensação de novidade e de esperança, de inovações? Por que esse entusiasmo por palavras que, nos conteúdos, não modificam em nada a tradicional abordagem ética e dogmática católica? Eu penso que seja pelo clima de empatia que circunda a pessoa do pontífice e pela necessidade de mudança e de reforma que os católicos de todo o mundo sentem. Mas especialmente pela frase, esta sim totalmente inovadora para um papa, "quem sou eu para julgar?". Uma frase que, a meu ver, nem Bento XVI nem João Paulo II jamais poderiam ou quereriam pronunciar.

Essas palavras colocam o papa não mais entre os chefes de Estado e os poderosos deste mundo, que, por definição, julgam, mas sim entre os discípulos de Jesus atentos a pôr em prática as palavras do Mestre: "Não julguem e não serão julgados; não condenem e não serão condenados, perdoem e serão perdoados" (Lucas 6, 37). De tudo isso, porém, deve brotar uma consequente ação de governo, finalmente sob a insígnia da novidade evangélica (assim como são os gestos extraordinariamente simples e poderosíssimos desse papa).

Eu falei antes de empatia e gostaria de salientar que a empatia é muito importante, não só, como é óbvio, em nível psicológico, mas também em nível teológico. O termo, de fato, remete à palavra grega pathos, que significa paixão, e que constitui um dos conceitos centrais do cristianismo, a partir da paixão de Cristo e do amor que define a essência de Deus, amor que, por sua vez, é paixão e gera paixão.

O fato de que o Papa Francisco seja cercado por um abraço de empatia em nível mundial não se explica apenas em nível humano pela sua carga pessoal e pela espontaneidade e a simplicidade dos seus gestos; explica-se também em nível teológico e espiritual pelo seu ser capaz de representar a paixão de Deus pelo mundo.

Portanto, a empatia que circunda o papa (e que nos leva a ver em cada palavra sua algo de novo mesmo quando, por si só, não haja nenhuma novidade) é extremamente preciosa, é um sinal do Espírito, diríamos na linguagem teológica. E o papa não a deve decepcionar, deve estar à sua altura até o fim, indo ao encontro da necessidade de mudança que a maioria dos católicos no mundo sente com relação à Igreja.

De fato, é insustentável a posição católica tradicional com relação tanto às pessoas homossexuais, quanto às pessoas divorciadas, quanto ao papel atualmente ocupado pelas mulheres dentro do governo da Igreja. E é preciso coerência: não se pode proclamar em palavras o respeito pelas pessoas homossexuais e a sua igual dignidade de filhos de Deus e, depois, julgar a sua condição como condenada pela lei natural e pela Bíblia.

Ao contrário, se verdadeiramente se quer mostrar de modo concreto o respeito de que se fala com relação a eles, é preciso pôr em ação hermenêuticas consequentes tanto da lei natural (a ser entendida em sentido formal como harmonia das relações, e não como definições de papéis e de comportamentos), quanto das passagens bíblicas que condenam as pessoas homossexuais relegando tais páginas ao lado daquelas que favorecem a guerra ou a inimizade com relação às outras religiões (e que não merecem ser levadas em consideração). Ou seja, é preciso chegar ao evangélico "não julgar" e "não condenar".

Do mesmo modo, se verdadeiramente se quer que a misericórdia tenha o primado para os divorciados em segunda união, é preciso pôr em ação uma disciplina canônica dos sacramentos que lhes conceda que eles se aproximem sem nenhuma discriminação (assinalo, a esse respeito, o recente livro de Oliviero Arzuffi, Caro papa Francesco. Lettera di un divorziato, Ed. Oltre).

Da mesma forma, enfim, se verdadeiramente se quer que a mulher tenha maior poder dentro da Igreja, deve-se proceder em conformidade e, mesmo sem chegar à ordenação sacerdotal, deve-se permitir que as mulheres se tornem cardeais e ministros com plenos poderes de governo da Igreja (hoje, para se acessar ao cardinalato, é preciso ser diácono ou sacerdote, e as mulheres podem ter acesso ao diaconato, como testemunha o Novo Testamento, basta lê-lo e aplicá-lo).

"Quem sou eu para julgar?", disse o papa, e nisso se fez discípulo de Jesus. Mas Jorge Mario Bergoglio, como pontífice reinante, pode fazer com que essa mentalidade não julgante se torne a prática corrente da Igreja com relação às pessoas homossexuais e aos divorciados em segunda união. Diante dele, está a tarefa de não decepcionar a empatia que o circunda e as esperanças de renovação evangélica de muitos crentes e "pessoas de boa vontade".

Carta de um gay católico ao papa Francisco


Esta semana vários amigos compartilharam no Facebook a notícia de que um ex-padre gay havia escrito uma carta aberta ao papa Francisco. Embora as matérias divulgadas descrevessem a carta e contivessem trechos traduzidos do original espanhol, não encontramos nenhuma tradução na íntegra. Ao ler o original, ficamos muito impressionados com a clareza e qualidade de seu conteúdo, e achamos que valia muito a pena traduzir e compartilhar com vocês o texto completo. Fica para a reflexão de todos nós, Igreja.

Admirado e estimado Francisco:

Paz e bem! Tomo a ousadia de escrever, com todo o respeito e admiração marecidos.

Como milhões de pessoas, venho observando, ouvindo e acompanhando de perto sua nomeação, seus primeiros atos como papa, sua viagem à América Latina, suas belas palavras para os jovens. E, mesmo em meu atual agnosticismo, vi renovar-se minha esperança de que dentro da Igreja se torne realidade o tão esperado "aggiornamento" ["atualização"], como dito e reivindicado pelo Concílio Vaticano II. Estou feliz e comemoro o fato de que o ar fresco segue entrando no Vaticano, e de que há um longo caminho a percorrer.

Pessoalmente, faço eco às suas palavras: quero "criar problemas", "não me excluo", eu pertenço. Quero fazer valer os meus direitos e de muitos outros que estão em situação semelhante, não vou ficar de braços cruzados. Já fui padre, pastor, partilhei desse zelo missionário católico e da necessidade de reivindicar abertura da parte da Igreja - até que decidi me afastar, quando descobri minha própria tendência homossexual e admiti minha incapacidade de exercer o ministério pastoral em celibato. Hoje, meus caminhos seguiram em outras direções, e minha vocação foi tingida com outros tons.

Mas suas palavras e seu exemplo me fizeram reunir forças e tomar esta iniciativa. Atrevo-me a colocar-me como porta-voz de uma grande parcela de pessoas que pertencem à comunidade gay. E simplesmente, humildemente, peço-lhe encarecidamente que encoraje, estimule, promova e acompanhe um maior aprofundamento na teologia moral sexual sobre o lugar e a experiência das pessoas homossexuais.

Não peço que de um dia para outro a Igreja mude sua catequese em relação a este assunto. Pedimos apenas para não estigmatizar os teólogos e pastores que aportam elementos de dissensão a uma resposta pastoral insatisfatória para muitos de nós.

Não pedimos que se oponha à extensa tradição que fala de pecados contra a natureza, mas peço-lhe que reveja e amplie a concepção de "natureza".

Não lhe peço que deixemos de ler e interpretar as Escrituras, mas que nos aprofundemos e façamos leituras menos carregadas de preconceitos. Que não se usem mais como "armas" passagens bíblicas que a Teologia já provou e determinou que não se relacionam com o assunto. Quanto mais água deve correr debaixo dessa ponte para que se dissocie a palavra "sodomia" de um pecado que nada tem a ver com o que a passagem bíblica quer denunciar? Você sabe muito mais do que eu que, como esta, somos assolados por erros de interpretação que fizeram com que a Verdade - essa que nos torna tão livres - tenha sido relegada e escondida por muito tempo. Apenas para ilustrar com um exemplo: quantos anos levou para que João Paulo II pedisse desculpas pelos erros da Igreja em relação a Galileu Galilei - por interpretar mal uma passagem da Escritura (Josué 10,12-14)? É surpreendente que também nessa disputa o conceito de "natureza" esteja na base.

Não lhe peço que deixemos de manter uma doutrina. Peço-lhe que a ajude a continuar crescendo e adaptando-se aos novos paradigmas do mundo contemporâneo que nos desafiam a encontrar novas respostas. Lembra que, não muitos anos atrás, a Moral Sexual afirmava que o único objetivo primário do casamento era a procriação? Quantos casamentos tiveram renovada sua aliança quando foi reconhecido também o aspecto do amor e da ajuda mútua, o bem dos cônjuges? Essas atualizações são ar fresco que renova o coração das pessoas e as ajuda a viver com dignidade.

Não peço para diluir a Cristo; peço-lhe que, olhando para ele, se atreva a procurar todas as ovelhas espalhadas como um Bom Pastor.

Muitos governos e estados estão adotando uma forma mais aberta, uma nova visão de casais. O momento é propício. Há vários anos, o mundo clama por uma mudança de abordagem. Depois de anos de análise científica, em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria retirou a homossexualidade de "Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais". Mas só em 1990 a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais.

A Igreja precisa dar um passo mais contundente e significativo. Para que atrasar ainda mais esse processo? Não seria bom ser pioneira, com respostas de adequação em uma sociedade em constante busca? Até não muito tempo atrás, pensava-se que esta tendência poderia ser curada com várias terapias e tratamentos. E você deve estar ciente de que são muitas as comunidades católicas que insistem nessas técnicas e causam prejuízos à vida de muitas pessoas submetidas a este tipo de prática.

Por experiência no confessionário, sei que há muitas pessoas que abraçam a fé católica e continuam recebendo uma resposta diluída, incompleta, que não cabe em seu estilo de vida. As pessoas de fé que têm essa tendência não tem muitas opções para viver sua sexualidade livremente. Ficam limitadas, na prática, a duas opções: ser casto ou celibatário (mas, de acordo com a doutrina católica, o celibato é um dom dado a poucos, que não pode ser abraçado compulsoriamente, por voluntarismo) ou agir de maneira distinta daquela proposta pelo catecismo e, portanto, viver em pecado, que seria a consequência de agir de acordo com a sua realidade homossexual.

Por outro lado, quando vejo na minha cidade, e em muitas outras do mundo, manifestações e passeatas do orgulho gay, reconheço que não me identifico plenamente com as formas pelas quais as reivindicações são apresentadas. Mesmo quando seu conteúdo seja verdadeiro sob muitos aspectos, me dói ver as duras críticas à Igreja (aquela que com tanto entusiasmo integrei no passado) e outras instituições, e me pergunto se a solução é mesmo o confronto agressivo, em um mundo tão dividido por visões díspares.

Gostaria de ser ponte e elo entre posições tão desencontradas, para que as experiências possam se aproximar e as expressões afetivas da humanidade possam se enriquecer. Aproveitar para transmitir algumas das dúvidas ocultas nestas reivindicações:

Será mesmo que o amor entre duas pessoas do mesmo sexo não demonstra nem reflete de modo algum o amor de Deus? Será que não desvela algum traço ainda por descobrir de sua criação sem limites?

A Igreja realmente insiste na visão maniqueísta de que o sexo homossexual é apenas um ato de prazer carnal, destituída de qualquer real envolvimento espíritual, capaz de enobrecer o diálogo copular e corporal?

A Igreja vai mesmo, com seus silêncios, continuar permitindo que tantos jovens sejam estigmatizados em tantos países onde os gays ainda são mortos apenas por sua tendência? Não está na hora, como você mesmo disse, de sair e defender a integridade do ser humano com uma mensagem conciliadora e inclusiva?

Permita-me, finalmente, remontar-me à minha experiência pessoal. Especialmente quando me descobri homossexual, fiquei apavorado, com medo do novo e desconhecido que teria de enfrentar. Fiquei aterrorizado com a possibilidade de estar desafiando a vontade de Deus e estar à beira dos abismos do inferno. Minha saída do sacerdócio foi caótica, escandalosa, dolorosa. Mas justamente essa cicatriz, essa marca, essa ferida, hoje, me fazem questionar e desafiar esse paradigma, que continua sem nenhuma resposta sensata. Com humildade saudável, eu diria que hoje, depois de quase dez anos de vida monogâmica com outra pessoa do mesmo sexo, sinto-me feliz, realizado e ansioso para compartilhar essa experiência, de modo que muitos outros podem experimentá-la e vivê-la.

Ajude-me, e ajude muitos outros, a descobrir como mover-nos na fé, sem abrir mão da experiência de amor, que, em plena consciência, sentimos ser essencial em nossas vidas.

Com admiração e elevando uma oração por seu ministério.

Gioeni Andrew*, outro filho de Deus.

*Ex-padre católico que se reconheceu homossexual e renunciou ao hábito. Escritor e ator. Fonte

"Quem sou eu para julgar?"


Artigo do New York Times lança uma luz sobre a declaração que o papa Francisco deu na entrevista realizada no avião quando do seu retorno a Roma. Segue a nossa tradução de um trecho e um link para a íntegra do artigo em inglês:

Em primeiro lugar, parece que o papa estava falando especificamente sobre padres gays [...] suas declarações seguiram uma pergunta sobre o caso do Monsenhor Battista Ricca, uma indicação recente do papa que supostamente teve um relacionamento gay no passado, o que inspirou Francisco a uma longa digressão sobre a importância de perdoar pecados passados. Levando em consideração que o Vaticano de Bento XVI reafirmou especificamente a regra de que homens com uma profunda atração pelo mesmo sexo não devem ser ordenados, o tom dos comentários de Francisco – o perdoar e esquecer em relação a um caso específico, e o amplo “quem sou eu para julgar?” – é realmente extraordinário e digno de menção.

Especialmente porque um comentário tolerante em relação a esse tópico condiz com o tom do pontificado de Francisco como um todo. Papas não mudam a doutrina, mas eles escolhem o que enfatizar e o que minimizar, que assuntos destacar e quais descartar, quando julgar e quando perdoar e assim por diante. E nós já vimos o suficiente desse pontificado para saber que o foco de Francisco é: ele quer ser visto como um papa da justiça social e da renovação espiritual, ele não tem muita paciência para problemas que possam divergir dessa perspectiva Cristã. Por isso a retórica que desperta manchetes e os gestos simbólicos que enfatizam a pobreza e a simplicidade acima de tudo, por isso as menções frequentes de que o “clericarismo” é o pior problema que a igreja enfrenta e por isso sua atitude casual (pelo menos nos seus comentários improvisados) em relação à disciplina da doutrina, seus chamados à experimentação e sua aparente hostilidade à liturgia tradicional – e por isso, também, sua aparente determinação de distanciar-se e a sua mensagem dos debates culturais sobre a revolução pós-sexual do Ocidente.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Nova série de vídeos sobre gays católicos


O Papa Francisco não foi o único jesuíta a, nesta semana, ser notícia no que concerne às declarações positivas relacionadas com temas respeitantes às pessoas de orientação homossexual.

Também a Ignatian News Network, uma companhia de produções dos jesuítas da California, lançou um video no YouTube, que é o primeiro de uma série sobre homossexuais católicos e a igreja e intitulado "Quem Somos Nós Para Julgar?".

Este primeiro episódio contém entrevistas com o padre jesuíta James Martins, autor espiritual de renome, e com o padre jesuíta Matt Malone, editor-chefe da America Magazine, uma revista católica americana. O episódio contém ainda uma entrevista com Arthur Fitzmaurice, um homossexual católico que é diretor de recursos da Catholic Association for Lesbian and Gay Ministry. Todos falam de forma positiva sobre os esforços de evangelização que muitas pessoas dentro da igreja católica estão a realizar com as pessoas LGBT.

O pessoal do Rumos Novos (Portugal) legendou o vídeo e o compartilhou aqui.

Criando uma bagunça carregada de verdade e livre de julgamentos

 "Todos" significa "todos"

Tenho refletido sobre as várias mensagens que recebemos do papa esta semana: "viva a sua verdade", "faça uma bagunça", e "quem sou eu para julgar". Esta semana tem sido incrível e eu sei que novas ideias surgirão a cada vez que olharmos em retrospecto para este momento, seja na próxima semana, daqui a dois meses ou daqui a 10 anos.

(...) Foram as suas últimas palavras, "quem eu sou para julgar", que me marcaram mais. Ele está apenas reafirmando a posição tradicional da Igreja, mas mudando o foco da "desordem" para "nenhuma marginalização"? Ou é um vislumbre, ainda que vago, de uma transformação esperançosa que está acontecendo em todos os níveis da igreja? (...)

Talvez não seja a afirmação radical pela qual muitos de nós ansiamos, mas nem por isso deixa de oferecer a este peregrino cansado alguma esperança de que estejam acontecendo certas oscilações e transformações. O trabalho feito por nós, peregrinos LGBTs do Equally Blessed, assim como o trabalho de milhões de pessoas ao redor do mundo que vivem na interseção da fé e da sexualidade, vem de fato tendo um impacto; sementes estão sendo plantadas e vão florescer de formas que ainda não podemos imaginar. É um processo lento, sim, mas as palavras do papa mostram que o processo está se dando. Este processo foi e é muito vivo tanto nas pessoas que encontramos como naquelas que tocamos mesmo sem saber (pessoas que nos viram ou que receberam nossas fitas e adesivos do arco-íris através de sua família e amigos). Os polegares para cima, os pedidos de mais etiquetas, conversas que criaram um espaço seguro para falar e fazer perguntas, os comentários no Facebook e no blog... tudo isso revela que o processo está florescendo e que a transformação está se dando por toda a igreja.

Olhando para essas três expressões que mais mexeram comigo, percebo que o papa talvez tenha subversivamente nos abençoado e convidado para viver "a nossa verdade", "fazendo uma bagunça" para que mais e mais pessoas possam viver uma vida livre de julgamentos. A declaração em si causou uma bagunça nas pessoas, lutando para decifrar a verdade contida nessas palavras. Se realmente acreditamos que somos igreja, todos nós juntos devemos continuar tendo a certeza de que ninguém é marginalizado e que todas as pessoas são integradas ao Corpo de Cristo como igualmente abençoadas. Não podemos proclamar que somos igreja e depois esperar que o papa faça e diga tudo sozinho. É preciso criar na nossa igreja espaços onde se viva de formas novas e íntegras de celebrar a todos. Devemos continuar a viver nossas verdades bagunçadas. Sua declaração pode não ser o pronunciamento radical que estamos esperando da boca de um papa, mas para todos nós que foram feridos pela doutrina da Igreja sobre homossexualidade ou a pela falta de reconhecimento das pessoas trans, espero que esta dica de Francisco funcione como uma pequena dose de esperança com que nos curarmos. Pessoalmente, vou tirar daí o máximo que eu puder!

A radicalidade não está nas suas palavras em si sobre homossexualidade e sacerdócio, mas no fato de ele ter dito algo que sacudiu a todos nós. Temos de continuar fazendo a nossa parte... sair em peregrinação na JMJ, escrever cartas, conversar com membros do Magistério da Igreja em todos os níveis, educar os outros e a nós mesmos, criar espaços seguros... confiar que o Espírito irá agitar as águas por toda a Igreja. Somos Igreja e juntos, como Igreja, devemos encarar o desafio de compartilhar a mensagem de que "todos são igualmente abençoados" realmente significa que todos são igualmente abençoados. Com esta nova verdadeira bagunça nascida na JMJ, devemos permanecer comprometidos em agitar as águas, fazer perguntas nas sessões de catequese, conversar, propor orações que celebrem todas as pessoas... tudo isso sabendo, ao mesmo tempo, que Deus está fazendo a sua parte com e através do papa, dos bispos, dos sacerdotes, dos religiosos e de cada um de NÓS.,

As palavras do papa, todas juntas... "fazer uma bagunça", "viva a sua verdade" e "quem sou eu para julgar"... constituem um sinal de que talvez, na próxima Jornada Mundial da Juventude na Polônia, os peregrinos do Equally Blessed possamos compartilhar suas verdades bagunçadas sem ter de justificar quem somos e por que estamos lá e, assim, possamos simplesmente ser. Dou graças a Deus por que, por mais ínfima que seja a possibilidade de esperança que podemos encontrar nas palavras do Papa, a integridade que renasceu nesta JMJ deriva não só das palavras do papa, mas permeou e prosperou em todas as interações, abraços, elogios, sorrisos e conversas. Somos Igreja e, como Igreja, vamos continuar a fazer bagunças criadores de verdade, e a viver as verdades bagunçadas que proclamam que ninguém deve ser julgado, porque somos todos igualmente abençoados! Amém!

- Delfin Bautista, no blog do Equally Blessed

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Padre jesuíta fala sobre homossexualidade e Igreja


O vídeo é de uns 2-3 anos atrás, mas vale aproveitar toda essa discussão a respeito das recentes declarações do papa para lembrar um pouco da história da relação da Igreja com a homossexualidade. Porque contextualizar nunca é demais. :-)

A primeira vez que uma autoridade da Igreja usa a palavra "gay"


(...) Na mesma calorenta Roma, o cenário em torno do Vaticano é radicalmente diferente. Se nos primeiros 100 dias o Papa Francisco mudou a cultura do Vaticano apenas através de gestos simbólicos, na semana que passou no Brasil definiu as grandes linhas do seu papado, com o chamamento para recuperar a ética, a compaixão e a solidariedade. Entre o Rio e Roma, complementou a sua narrativa modernizadora da Igreja, ao abri-la aos gays, defender um novo papel para a mulher e um tratamento diferenciado para os divorciados. Em uma hora de entrevista, consolidou a sua conquista da ala progressista dos católicos.

“Isto tudo sem mudar a doutrina, mudou apenas o tom”, analisou o vaticanólogo John Allen Jr na CNN.

Ontem foi dia de olhar os detalhes da conversa com os jornalistas. Descobriu-se que nunca antes um documento da Igreja ou uma alta autoridade eclesiástica usara a palavra “gay”, sempre preterida pelo mais circunspecto “homossexual” ou pelo horroroso “sodomita”. “Ao recuperar o termo ‘gay’ da militância, reforça a autoestima dos homossexuais”, diz um dos membros do grupo Diversidade Católica. As feministas também foram procurar novos significados no elogio do Papa à mulher paraguaia e descobriram que ele se referia à decisão delas de partir para a produção independente de filhos depois da guerra contra Brasil e Argentina, já que só sobrara um homem para cada oito mulheres e esta seria uma maneira de garantir a descendência no país. “Ele é a favor da família tradicional, mas elogiou um comportamento nada convencional”, disse o padre Luiz Lima.

Ficou faltando modernizar a posição para lá de conservadora da Igreja em relação à contracepção. Alguns dizem que poucos ainda seguem a recomendação de não usar camisinha ou pílula, mas isso ajuda em nada na prevenção da Aids, restringe a liberdade de escolha da mulher e cria mais tensão na discussão sobre a legalização do aborto.

Fonte

O casamento gay no ano 100 d.C.

SS. Sérgio e Baco, uma união homoafetiva. Via

O casamento gay parece ser uma ideia ultra contemporânea. Mas, há quase vinte anos, um estudioso católico de Yale chocou o mundo ao publicar um livro repleto de evidências de que os casamentos homossexuais eram sancionados pela Igreja Cristã durante uma era comumente chamada de Idade das Trevas, a Alta Idade Média.

John Boswell foi um historiador e religioso católico que dedicou grande parte de sua vida acadêmica ao estudo do tempo entre o final do Império Romano e início da Igreja cristã. Analisando os documentos legais e da igreja a partir desta época, ele descobriu algo incrível. Havia dezenas de registros de cerimônias da igreja, onde dois homens se juntaram em associações que usaram os mesmos rituais de casamentos heterossexuais. Em compensação, não conseguiu quase nenhum registro de uniões lésbicas, o que demostra que a cultura é muito mais masculina.

Amparado por esta evidência, Boswell publicou um livro em 1994, um ano antes de sua morte por AIDS, chamado de Same-Sex Unions in Pre-Modern Europe (“Uniões do mesmo sexo na Europa pré-moderna”). O livro será lançado no próximo mês pela primeira vez em edição digital. Foi um pára-raios instantâneo de controvérsia, atraindo críticas da Igreja Católica e da especialista em sexo e gênero Camille Paglia. Sabendo da visão atual da Igreja sobre o casamento gay, esses detratores argumentaram que a história de Boswell parecia uma ilusão.

Mas não era. Boswell na verdade começou sua pesquisa na década de 1970, e publicou um trabalho igualmente controverso em 1980 chamado Christianity, Social Tolerance, and Homosexuality: Gay People in Western Europe from the Beginning of the Christian Era to the Fourteenth Century ("Cristianismo, Tolerância Social e Homossexualidade: Pessoas gays na Europa Ocidental a partir do início da era cristã até o século XIV"). Seu livro revela muito do que ele havia descoberto ao longo de uma vida de pesquisa em fontes primárias nas mais diversas bibliotecas e arquivos.

Como esses casamentos foram esquecidos pela história? Uma resposta fácil é que – como Boswell argumenta – a Igreja reformulou a ideia do casamento no século 13 para fins de procriação. Eruditos e autoridades da igreja trabalharam duro para suprimir a história desses casamentos, a fim de justificar sua nova definição.

Naturalmente, a história é mais complicada do que isso. Boswell afirma que parte do problema é que a definição de casamento hoje é tão diferente que é quase impossível para os historiadores reconhecer documentos de casamentos gays de 1800 anos atrás. Muitas vezes, esses documentos referem-se à união entre “irmãos”, que na época teria sido uma maneira de descrever parceiros do mesmo sexo, cujos estilos de vida eram tolerados em Roma. Além disso, os casamentos mais de um milênio atrás não eram baseados na procriação, mas na partilha da riqueza. Assim, o “casamento” às vezes significava uma união não-sexual de duas pessoas ou famílias. Boswell admite que alguns dos documentos que encontrou poderiam referir-se simplesmente ao fato da união não-sexual enrre dois homens – mas muitos também se referiam ao que hoje chamaríamos de casamento gay.

O jurista Richard Ante escreveu um artigo explicando que o livro de Boswell poderia até ser usado como evidência para a legalidade do casamento gay, uma vez que mostra a evidência de que as definições de casamento mudaram ao longo do tempo. Ele descreve algumas das evidências de Boswell desses ritos do mesmo sexo, no início do primeiro milênio: “O rito do enterro dado a Aquiles e Pátroclo, dois homens, foi o rito do enterro de um homem e sua esposa. As relações de Adriano e Antínomo, de Polyeucte e Nearco, de Perpétua e Felicidade e dos Santos Sérgio e Baco, são semelhantes aos casamentos heterossexuais de suas épocas. A iconografia de Sérgio e Baco era a mesma usada em cerimônias nupciais do mesmo sexo pela Igreja cristã primitiva”.

A principal evidência de que essas uniões do mesmo sexo eram casamentos é que eram muito parecidas com cerimônias heterossexuais. O especialista em literatura Bruce Holsinger descreve os minuciosos relatos de Boswell sobre cerimônias do mesmo sexo: “[Boswell] inteligentemente descreve o desenvolvimento de ofícios nupciais heterossexuais e homoafetivos como um mesmo fenômeno, acompanhando o desenvolvimento deste último de ‘um mero conjunto de orações’ na Idade Média até seu florescimento no século XII, quando já envolvia ‘a queima de velas, a colocação das mãos dos dois noivos sobre o Evangelho, a união de suas mãos direitas, a ligação de suas mãos (…) com a estola do sacerdote, uma ladainha introdutória, a Oração do Senhor, a comunhão, um beijo, e às vezes a circulação ao redor do altar’. Boswell dedica um capítulo inteiro à comparação desses rituais com seus homólogos heterossexuais, revelando uma série de semelhanças extraordinárias entre os dois; em vários apêndices, que totalizam quase 100 páginas, ele compilou inúmeros exemplos diretamente dos documentos (incluindo cerimônias de matrimônio heterossexual e rituais de adoção, para fins de comparação) a fim de permitir que ‘os leitores julguem por si mesmos’, como ele diz”.

Eram estas uniões do mesmo sexo na Idade Média a mesma coisa que os casamentos gays de hoje? Provavelmente não. Pessoas da época talvez não vissem nada de extraordinário em dois homens formando uma união. O próprio casamento significava algo diferente há milhares de anos, e os tabus sociais em relação à homossexualidade ainda não tinham se consolidado. Ainda assim, na obra de Boswell, encontramos registros de instituições em que os casais do mesmo sexo eram celebrados com as mesmas cerimônias dos casais de sexo oposto. Dois homens podiam viver como irmãos, partilhando riqueza, casa e família. E, sim, podiam amar uns aos outros, também.

Embora Boswell tenha morrido antes de seu país começar a permitir essas uniões, ele poderia se vangloriar por saber algo que a maioria das pessoas não conhecia. Mesmo os tipos mais fundamentais de relações humanas mudam com o tempo. Aqueles que foram banidos hoje podem ser abençoados amanhã – assim como foram, mais de mil anos atrás.

Fonte (e também aqui)

quarta-feira, 31 de julho de 2013

"A Igreja precisa estar atenta aos sinais dos tempos"


E o Diversidade Católica, representado por Arnaldo e Cristiana, esteve mais uma vez no CBN Mix Brasil desta semana, conversando com os apresentadores André Fischer e Petria Chaves sobre a visita do papa Francisco ao Brasil e as perspectivas de transformação da Igreja e diálogo com os LGBTs. No player acima, a partir de 12:30.

Papa Francisco não é juiz dos gays

 Missa de envio da JMJ2013 na praia de Copacabana. (Foto: Cristiana Serra)

O que o Papa disse na entrevista aos jornalistas a bordo do avião que o transportava a Roma, a respeito dos gays, parece ser uma continuação da sua mensagem durante uma semana aos jovens da JMJ-Rio.

O carinho com que ele foi cercado por todos não se deve unicamente ao seu charme, mas ao farto de que ele manifestou a todos a misericórdia de Deus em Jesus Cristo. Sua mensagem foi sempre a do Evangelho, uma mensagem libertadora, que requer justiça, solidariedade, amor, alegria e paz.

Assim como Jesus Cristo, o Papa não veio para julgar nem condenar. Mas ele sabe que o Evangelho não é uma superestrutura, ele supõe um lastro humano sobre o qual ele trabalha, para levar o ser humano à perfeição. Se quiséssemos usar uma expressão provocativa poderíamos – inspirados no Concílio do Vaticano II – dizer que “Jesus Cristo veio revelar o homem ao homem” (Cf. Gaudium et Spes, 22). Sob este aspecto, o importante não é ser cristão, é ser homem, pois na visão antropológica da Igreja, cristão é o verdadeiro homem, disposto a crescer até alcançar “a estatura de Cristo” (Ef 4,13).

Houve um tempo, na verdade ele ainda não acabou, em que os gays foram estigmatizados, e para isso até mesmo a Igreja colaborou. A sociedade os enquadrava num catálogo de doenças. Há religiões que tratam os gays como criminosos. Ainda hoje tomamos conhecimento de países onde a legislação civil e religiosa é tão retrógrada que leva gays à prisão e à morte, tal como fazem com mulheres consideradas adúlteras. Ora, nem a sociedade civil, nem a religiosa podem admitir tais situações.

O que o Papa disse é a doutrina da Igreja. Todos os seres humanos têm uma dignidade que lhes vem do Criador. Cabe a cada ser humano reconhecer e aceitar a sua identidade, inclusive sexual. A diferença e a complementaridade físicas, morais e espirituais estão orientadas para os bens do casamento e para o desabrochar da vida familiar. Esse é o caminho dado a todos, razão pela qual o casamento, na visão da Igreja, sempre será a união estável entre um homem e uma mulher para seu mútuo enriquecimento humano e santificação, mediante a doação de seus corpos, abertos para a geração e educação de filhos. Se a história nos revelar outras modalidades de união, desde que mantida a qualidade verdadeiramente humana – isto é, livres e respeitando as consciências – entre seres humanos, quem poderá se arvorar com o direito de desrespeitá-las ou julgá-las?

Ora, tudo na vida deve estar aberto ao aperfeiçoamento, razão pela qual não é desejável que se façam lobbies para impor visões e pragmáticas que ferem a sensibilidade dos simples, ou dos que ainda não se desvincularam de uma leitura fundamentalista de textos bíblicos (que fomenta a culpabilidade e discriminação de qualquer tipo de diferença existencial). A solução está (e o papa insistiu bastante sobre este aspecto) no diálogo. O universo da afetividade, com suas expressões na sexualidade, é fenômeno demasiadamente complexo e polivalente, que envolve enraizamentos biológicos, culturais e psíquicos das pessoas, com desdobramentos em outras forças nem sempre conhecidas pelas nossas pretensas sabedorias. OPapa nos falou da cultura do encontro, mas ainda estamos longe de sequer nos aproximarmos, quanto mais compreendermos o mundo dos gays e de tantos outros que a nossa sociedade se compraz em ofender e humilhar.

Respeitar os homossexuais, achar que eles também podem aspirar à perfeição moral, renunciando às práticas que contrariam a exigente ética do Sermão da Montanha, é ser revolucionário, é ir contra a corrente. Assim como muitos não esperavam que “algo de bom pudesse vir de Nazaré” (Jo 1,46), assim também nos surpreenderíamos se Deus comunicasse a sua Palavra, através de quem nós menos esperaríamos?

- Domingos Zamagna, no G1 de 29/07/2013

terça-feira, 30 de julho de 2013

Lobby Gay X Lobby Anti-gays


Comentário de Frei Betto sobre a declaração do papa Francisco.

"Se uma pessoa é gay, procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu, por caridade, para julgá-la? O catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados, mas integrados à sociedade. O problema não é ter essa tendência. Não! Devemos ser como irmãos. O problema é fazer lobby."

São palavras do papa Francisco ao deixar o Brasil, no voo entre Rio e Roma. A mensagem é esperançosa, mas, ao contrário do que o papa diz, o problema no Brasil é o lobby antigay, liderado pelo deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.

Deputados que consideram a homossexualidade uma doença propõem a "cura gay". Querem alterar a resolução do Conselho Federal de Psicologia que impede seus profissionais de tratar homossexuais como doentes. O que é um gay? Como diz a palavra inglesa, é uma pessoa alegre. Se os homossexuais são felizes, por que submetê-los à terapia?

Terapia é própria para obsessivos, como é o caso de quem odeia constatar que homossexual é uma pessoa feliz. Isto sim é doença: a homofobia, aliás, como toda fobia. E há inúmeras: desde a eleuterofobia, o medo da liberdade que, com certeza, caracteriza os fundamentalistas, até a malaxofobia, o medo de amar sobretudo quem de nós difere.

Sugiro aos deputados cortar o mal pela raiz: proibir a promíscua narrativa de "Branca de Neve e os Sete Anões", a relação pedófila entre o lobo mau e a Chapeuzinho Vermelho e, na Bíblia, o relato da íntima ligação entre Jônatas e Davi, aquele que "ele amava como a sua própria alma". (1 Livro de Samuel, 18).

Segundo censo do IBGE, há no Brasil 60 mil casais assumidamente gays. São pelo menos 120 mil pessoas que, em princípio, deveriam ser "submetidas a tratamento". Considerando que a Parada de Orgulho LGBT reúne, em São Paulo, cerca de 4 milhões de pessoas, haveria que construir uma clínica do tamanho de 50 Maracanãs para abrigar toda essa gente.

O processo terapêutico certamente teria início com uma sessão de exorcismo, já que, no fundo, a obsessão fundamentalista considera a homossexualidade muito mais coisa do demônio do que doença.

Outra sugestão é comprar um armário para cada gay e obrigá-lo a ficar lá dentro. Dizem os moralistas que qualquer um tem direito de ser gay, não deve é sair do armário.

Imagino que, terminado o processo de "cura gay", haverá uma grande Parada de Ex-Gays subindo a rampa da Câmara em Brasília para agradecer aos deputados que, iluminados, aprovaram a medida.

Ainda que todos os gays sejam confinados na clínica dos deputados, de uma coisa não poderão se queixar: será divertido contar ali com shows de Daniela Mercury e sir Elton Hercules John.

Saiba Feliciano que Alan Chambers, ex-presidente da associação Exodus International, destinada a curar gays, declarou em junho deste ano que também é gay, pediu perdão pelos sofrimentos causados a homossexuais e fechou a entidade.

À luz do Evangelho, o melhor é seguir o conselho de santo Agostinho: "Ama e faz o que quiseres." Ou, como diz Francisco, sejamos todos irmãos.

- Frei Betto, ontem na Folha de S. Paulo

Repercussões da declaração do Papa Francisco sobre o acolhimento dos gays na Igreja Católica

"'Igualmente abençoados': Católicos fervorosos comprometidos
com a plena igualdade das pessoas LGBT" (Foto: Cristiana Serra)

De organizações de católicos LGBT:

"[Nessa entrevista,] o papa explica suas motivações: abrir caminho para os jovens ao invés de insistir nas proibições da moral sexual. Isto que muitos já tinham percebido, e que gera forte oposição dos segmentos conservadores, foi explicitado por ele. Seguir neste propósito de abrir caminhos vai nos ajudar muito. A cultura do encontro e da acolhida, estimulada pelo papa, é a grande chance de romper as barreiras da homofobia e dos demais preconceitos.

De qualquer maneira, ele não absolutiza a família tradicional. Uma coisa são os princípios morais, outra coisa são as circunstâncias concretas que levam a atitudes ousadas. Tudo isto dá muito samba..."

- Diversidade Católica


"O Papa Francisco proferiu algumas das palavras mais encorajadoras já ditas por um pontífice a respeito de gays e lésbicas. Ao fazer isso, ele criou um grande exemplo para os católicos em todos os lugares.

O Papa rejeitou a linguagem dura de seu antecessor, Bento XVI, substituindo-a por uma abordagem de compaixão e um tom pastoral. Lésbicas e gays não são mais uma 'ameaça à civilização', mas pessoas de fé e boa vontade.

Líderes católicos que continuam a menosprezar gays e lésbicas não podem mais alegar que seus comentários inflamados representam os sentimentos do papa. Bispos que se opõem à expansão de direitos civis básicos, tais como o fim da discriminação no local de trabalho, não podem mais afirmar que o papa aprova suas pretensões discriminatórias.

O Papa Francisco não articulou uma mudança no ensinamento da Igreja hoje, mas falou com compaixão; ao fazê-lo, incentiva um diálogo renovado, que pode um dia tornar possível para a igreja abraçar plenamente os católicos LGBT."

- Equally Blessed


"Muita gente estava à espera de uma mensagem clara do Papa Francisco sobre questões LGBT, e essa sua fala parece indicar que ele terá uma abordagem decididamente diferente daquela de seus antecessores imediatos.

Alguns dirão que isso não é suficiente, que ele ainda se refere aos pecados dos homossexuais, mas acho que o importante é a questão da ênfase. Enquanto seus antecessores enfatizava o pecado em relação às pessoas LGBT, o Papa Francisco parece preferir enfatizar a dignidade humana, o respeito e a integração social. Mesmo não abandonando o discurso do 'pecado', ainda é um grande passo adiante, que pode abrir caminho para novos avanços mais à frente."

- Francis DeBernardo, New Ways Ministry


"A declaração do papa, adotando uma atitude de não-julgamento quanto à integração dos gays na sociedade é um avanço considerável em relação aos duros comentários de seu antecessor, sempre que a mídia entrevistava o antigo papa sobre homossexualidade. Se Francisco algum dia decidir visitar as Filipinas, adoraremos se ele buscar a juventude LGBT pobre e urbana, desempregada e mal remunerada, que enfrenta a tripla opressão da discriminação de gênero, a pobreza e a vulnerabilidade às doenças sexualmente transmissíveis, problemas agravados pelo velho estigma de inspiração católica contra nós."

- Clyde Pumihic, ProGay (Filipinas), via

* * *


Da hierarquia da Igreja Católica, teólogos e representantes do movimento LGBT:

"Não é uma mudança do ponto de vista moral, é de ordem pastoral. É extremamente positiva e importante para marcar uma posição, não de ordem normativa, mas de ordem pastoral, de respeito, de confiança. Ele não entra no mérito da questão, mas tem uma postura pastoral, de quem deve acolher as pessoas. Ele quer acentuar esse lado de acolhimento e de compreensão."
- Frei Luiz Carlos Susin, professor de Teologia na PUCRS

"Não é que seja novidade o que o Papa disse. É o modo como ele fala. Os outros papas, em geral, quando falam sobre esses assuntos, é por meio de discursos, homilias, um texto previamente estabelecido. O papa Francisco tem inovado nesse sentido. O centro de toda a pregação de Cristo é a pesssoa humana. O Papa está nessa esteira."
- Leandro Chiarello, diretor da Faculdade de Teologia da PUCRS

"Nossa, gostei tanto da declaração do Papa! Segue o que ele tem demonstrado em suas manifestações, de absoluta inclusão e aceitação. Outros padres já se manifestaram, mas não era oficial. Claro que isso não revela aceitação ao vínculo homoafetivo, é a aceitação da pessoa, a Igreja faz essa distinção. Mas não dá para deixar de reconhecer que é um avanço."
- Maria Berenice Dias, advogada e presidente da Comissão da Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) federal

"Fiquei feliz com a declaração, me surpreendeu. Só pelo fato de não atacar a comunidade gay já ajuda muito. Já me dá uma esperança de que a Igreja possa, futuramente, mudar. Tínhamos o histórico dos papas anteriores, condenando a nossa comunidade. Acho que abre uma porta, uma esperança. A Igreja precisa assumir o debate sobre os direitos da comunidade."
- Carlos Magno, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT)

"A frase é forte se comparada com as posições que o Vaticano sempre teve. Os outros papas não iam nessa linha. Essa posição dele parece abrir a possibilidade de outro entendimento por parte da religião. Acho que influenciará as pessoas que acreditam no discurso da Igreja Católica. Mas será que essa é a posição do Vaticano ou é uma posição mais individual do Papa?"
- Célio Golin, coordenador do Nuances - Grupo pela Livre Expressão Sexual

"Ele lança a questão a todos nós: quem é ele e quem somos nós para julgar a homossexualidade? O ponto chave nessa declaração é abrir mão da ideia de julgamento da sexualidade humana, seja ela qual for. Ele também diz que não podemos marginalizar as pessoas. Não é mais possível hoje qualquer ideia de marginalização da homossexualidade. Por muitos anos, a Igreja tomou a homossexualidade como pecado, desvio de norma, déficit moral. Ele começa a colocar em cena alguns problemas que até então eram internos da Igreja."
- Norton Cezar Dal Follo da Rosa Junior, psicanalista e membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA)

"Ele manda uma mensagem para seus fiéis, de que os dogmas da Igreja não podem ser usados para justificar a violência e a discriminação. Ainda é preciso esperar mais para ter clareza das consequências da entrevista do Pontífice. Mas o Papa tirou do armário o assunto, que veio para a antessala. Veremos, agora, se virá para a sala. Mas já é um passo importante."
- Cláudio Nascimento, coordenador do programa estadual Rio Sem Homofobia (RJ)

"Agora, vamos esperar ações concretas da Igreja. Primeiro, vejo (as declarações) como uma posição dele (do Papa). Mas, como líder e com poder de influência, creio que ele possa inspirar outros católicos."
- Julio Moreira, presidente do Grupo Arco-Íris

"Ele fala diretamente desse acolhimento ao homossexual. Temos um Papa falando isso de forma direta: vamos amar aquele que está numa condição de segregado, tratado de maneira discriminatória."
- Paulo Bosco, teólogo da Universidade Católica de Brasília

"No próprio cristianismo, Cristo sempre esteve do lado dos mais fragilizados. Hoje, entre outros grupos, os LGBTs estão entre os mais fragilizados. Nada mais justo do que uma visão mais humana sobre o tema."
- Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo

"A Igreja Católica tem aprofundado estudos sobre homossexualidade. É preciso esperar a continuidade desses estudos e aguardar os avanços da própria sociedade."
- Érico João Hammes, teólogo e professor da PUC-RS

* * *


"(...) é perfeitamente possível interpretar a declaração de Francisco sobre os gays em geral no mesmo contexto do que ele disse sobre sua recusa em mencionar temas como aborto, casamento homossexual (e não orientação gay em geral) e ordenação de mulheres.

Nesses três temas polêmicos, ele se limitou a dizer: o ensinamento da Igreja não muda e não achei que era o caso ficar martelando esses temas, em especial durante a Jornada Mundial da Juventude.

Por outro lado, é inegável que, numa instituição com tanto peso histórico quanto a Igreja, enfoques e ênfases também são importantes. Só para citar um exemplo, é improvável que João Paulo 2° achasse supérfluo, ou "fora de hora", insistir nessas questões.

E abordar a questão da homossexualidade primeiro pelo ângulo da "misericórdia", por mais que isso possa soar condescendente aos ouvidos da militância gay, pode ter repercussões importantes na maneira como a questão é tratada no cotidiano pastoral da Igreja."
- Reinaldo José Lopes, jornalista e editor do caderno "Ciência", da Folha de S. Paulo

(Fontes: Equally Blessed, New Ways Ministry, Zero Hora, Extra, Folha de S. Paulo)

Arcebispo Tutu 'não adoraria um Deus homofóbico'



O prêmio Nobel da Paz sul-africano, arcebispo Desmond Tutu, disse que nunca adoraria um "Deus homofóbico" e prefere ir para o inferno.

O arcebispo emérito falou no lançamento de uma campanha da ONU para promover os direitos gays na África do Sul.

Apesar de as relações entre pessoas do mesmo sexo serem legais na África do Sul, o país tem alguns dos piores casos de violência homofóbica, segundo a diretora de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay.

O Arcebispo Tutu, 81 anos, é um ativista de longa data pelos direitos dos homossexuais.

Tendo se aposentado como arcebispo da Cidade do Cabo em 1996, seguiu sendo, segundo correspondentes, a consciência moral da nação.

As relações entre pessoas do mesmo sexo são ilegais em mais de um terço dos países do mundo e puníveis com a morte em cinco deles, assinalou Pillay.

Na África, os atos homossexuais ainda são um crime em 38 países, segundo a Anistia Internacional.

"Eu me recusaria a ir para um céu homofóbica. Não, eu diria que sinto muito, seria muito melhor ir para outro lugar", o arcebispo Tutu disse no lançamento da campanha Free and Equal na Cidade do Cabo.

"Eu não adoraria um Deus homofóbico, e é assim que me sinto em meu âmago a esse respeito."

O Arcebispo Tutu apontou a semelhança entre a campanha contra a homofobia e aquela empreendida contra o racismo na África do Sul.

"Sou tão apaixonado por esta campanha quanto foi pela luta contra o apartheid. Para mim, está no mesmo nível", acrescentou.

Pillay disse que os gays e lésbicas da África do Sul contam hoje com algumas das melhores salvaguardas legais desde o fim do apartheid, em 1994, mas ainda enfrentam ataques brutais.

No mês passado, uma lésbica foi encontrada morta, depois de ter sido estuprada com uma escova de vaso sanitário.

"As pessoas estão literalmente pagando pelo seu amor com suas vidas", disse Pillay à agência de notícias AFP.

A ONU vai pressionar para que os direitos dos homossexuais sejam reconhecidos em países onde são ilegais, reforçou Pillay.

"Sempre ouço os governos alegarem 'mas esta é a nossa cultura, a nossa tradição, e não podemos mudá-la' (...) Portanto, temos muito trabalho a fazer", sublinhou.

O Arcebispo Tutu ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1984, por sua participação na campanha contra o governo da minoria branca na África do Sul.

Fonte

segunda-feira, 29 de julho de 2013

O debate sobre a criminalização da homofobia


Reproduzimos aqui uma importante nota de esclarecimento sobre a criminalização da homofobia, publicada originalmente aqui, por acreditarmos na importância do debate bem informado e bem fundamentado.


NOTA PÚBLICA DE ESCLARECIMENTO AO SENADOR PAULO PAIM E À POPULAÇÃO BRASILEIRA

A Lei nº 7.716/89 (conhecida como lei antirracismo), originalmente punia APENAS manifestações de preconceito decorrentes de “RAÇA OU COR”. Posteriormente foi aprovada a Lei nº 9.459/97, que acrescentou (nos artigos 1º e 20º) “ETNIA, RELIGIÃO E PROCEDÊNCIA NACIONAL”. São conquistas importantes decorrentes da luta de cidadãos por visibilidade e respeito. Entretanto, há outros grupos vulneráveis que precisam de proteção legal. Como aceitar que se criminalize a discriminação por religião, mas não o preconceito contra a pessoa com deficiência, por exemplo? Logo, como aceitar a não-criminalização de outras formas de discriminação que notoriamente assolam a sociedade?

A Constituição da República, desde 1988 – portanto há vinte e quatro anos e exatos cinco meses – estabelece entre os OBJETIVOS FUNDAMENTAIS da República Federativa do Brasil a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das desigualdades sociais e regionais, bem como a promoção do bem de todos, sem preconceitos e discriminações de quaisquer espécies (artigo 4º, incisos I a IV). Esta mesma Constituição também destaca que todos são iguais perante a lei, não admitidas distinções de quaisquer natureza, garantindo-se a todos a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade e à segurança (dentre muitos outros), bem como determina a obrigatoriedade da criminalização do racismo e de quaisquer discriminações atentatórias a direitos e liberdades fundamentais (artigo 5º, 'caput' e incisos XLI e XLII).

Em razão disso, a Senadora Fátima Cleide (PT-RO), após ampla discussão, inclusive com os setores mais conservadores, elaborou uma emenda, aprovada pela Comissão de Assuntos Sociais (Emenda nº 01 - CAS), incluindo as demais modalidades de discriminação NA LEI EM VIGOR (Lei nº 7.716/89, c/redação dada pela Lei nº 9.459/97). Essa emenda, em síntese, se limitou a incluir, entre as discriminações criminalizadas por esta lei, aquelas praticadas em razão da orientação sexual, da identidade de gênero, do gênero, do sexo, da condição de pessoa idosa e da condição de pessoa com deficiência, fazendo-o também relativamente ao crime de injúria qualificada constante do artigo 140, §3º, do Código Penal. Em suma, o que o Substitutivo de Fátima Cleide fez foi simplesmente garantir uma igual proteção pena a vítimas de tais discriminações às vítimas de discriminações por cor, etnia, procedência nacional e religião, garantindo àquelas a mesma punição que se atribui a estas.

Parece, portanto, que o Senador Paulo Paim não entendeu qual é o texto que toda a população LGBT e demais pessoas comprometidas com a luta contra toda e qualquer forma de discriminação têm se empenhado para que seja aprovado. O que Paim deveria fazer, portanto, era tentar convencer seus pares de que o PLC 122/06 não viola a liberdade de expressão por visar apenas garantir que as discriminações por orientação sexual, por identidade de gênero, por condição de pessoa idosa e com deficiência sejam punidas da mesma forma que as discriminações por cor, etnia, procedência nacional e religião. Deveria se esforçar para fazê-los ver que liberdade de expressão não é liberdade de opressão, como disse paradigmática faixa da última Marcha Nacional contra a Homofobia (2012). Deveria tentar convencê-los, portanto, que somente discursos de ódio, ofensas individuais e coletivas, discriminações e incitações/induzimentos ao preconceito e à discriminação são objeto de repressão pelo PLC 122/06. Um critério didático é o seguinte: "se não pode contra negros/religiosos, também não pode contra pessoas LGBT"... Jamais deveria simplesmente se conformar com a oposição arbitrária ao projeto...

Não é admissível se pretender criar hierarquias entre as formas de discriminação. Nem admissível nem constitucional.

O que se pretende é só e somente uma LEI ANTIDISCRIMINAÇÃO. Tudo o mais são falácias e esforços no sentido de construir animosidades e mal-entendidos: criar uma lei específica para a homofobia distinta e de forma mais branda do que a punição constante da Lei de Racismo gerará tal hierarquização de opressões e, com isso, não se pode concordar de forma alguma.

Sabe-se que a explicitação dos vetos ao racismo e à intolerância religiosa decorreram de lutas pela visibilidade e erradicação de tais práticas discriminatórias, que requereram historicamente o veto explícito na forma das mencionadas leis, dada a insuficiência do veto universal à discriminação, presente desde a Constituição Federal de 1988, para o enfrentamento de tais prejuízos aos referidos grupos específicos. Portanto, nada mais justo que incluir - na mesma perspectiva do reconhecimento de que grupos são vulneráveis a terem seu direito à não discriminação violado – o veto explícito à discriminação associada à condição idosa, à pessoa com deficiência, à orientação sexual e à identidade de gênero na nossa Lei de Racismo, que é, como diz o jurista Roger Raupp Rios, a nossa Lei Geral Antidiscriminatória que já pune as opressões relacionadas à cor, à etnia, à procedência nacional e à religião. Dado que não cabe do ponto de vista constitucional hierarquizar discriminações, visto que todas são inconstitucionais, pretende-se, portanto, igualdade no tratamento legal a diferentes grupos vitimados pela discriminação, fazendo justiça à igualdade do direito à não discriminação. Cabe, portanto, inclusão explícita do veto aos grupos referidos posto que os mesmos têm sido objeto de intensa discriminação na sociedade brasileira.

Ocorre que, com argumentos semelhantes aos que lutaram contra avanços como a Lei do Divórcio, por exemplo, setores conservadores visam impedir a promulgação da lei. Seu principal argumento é que esta feriria a liberdade de expressão – já consagrada na Constituição Federal – quando, de fato, desejam manter a liberdade de oprimir pessoas que discordam de seus preceitos morais. Nesse contexto, o Sr. Relator pretende procurar, como já foi feito anteriormente, uma "solução de consenso". Nessa matéria, entretanto, a expressão "de consenso" tenta demonstrar uma suposta disposição dos antagonistas ao PLC 122/2006 mas, na verdade, condena as LGBT a uma cidadania de segunda classe, como querem esses mesmos antagonistas, que nunca demonstraram disposição nenhuma com o projeto (só quiseram destruí-lo, nunca melhora-lo). É curioso como se insiste em chamar tais antagonistas ao debate, afinal, como escreveu o criminalista Túlio Vianna em antológico artigo: “O Congresso Nacional brasileiro não costuma convidar traficante de drogas para audiências públicas destinadas a debater se o tráfico de drogas deve ou não ser crime. Também não convida homicidas, ladrões ou estupradores para dialogarem sobre a necessidade da existência de leis que punam seus crimes. Já os homofóbicos têm cadeiras cativas em todo e qualquer debate no Congresso que vise a criar uma lei para punir suas discriminações. Estão sempre lá, por toda a parte; e é justamente por isso que a lei ainda não foi aprovada [...] O Direito Penal tem, neste momento histórico, um importante papel como instrumento de promoção de direitos. A Lei 7.716/89 tem sido, desde sua entrada em vigor, uma poderosa ferramenta no combate à discriminação racial. Que sirva também para combater a homofobia [do mesmo jeito que serve para combater o preconceito religioso]. Assim como hoje é considerado criminoso quem discrimina o negro [bem como o evangélico e o judeu], amanhã também deve ser quem discrimina a(o) homossexual, a(o) travesti, a mulher, a(o) idosa(o) e a(o) deficiente físico.

Em razão disso, nós, cidadãs e cidadãos comprometidos com a erradicação de todas as formas de discriminação neste país, não aceitaremos nada menos do que a LEI ANTIDISCRIMINAÇÃO, conforme elaborada pela Senadora Fátima Cleide, em 2009.

Esta mesma posição já havia sido objeto de consenso em 28 de Julho de 2011, na sede da APEOESP na capital paulista, após um intenso, rico e democrático debate, realizado em Plenária do Movimento LGBT de São Paulo em que estiveram presentes as seguintes organizações (aqui).

Assinam a nota: aqui.

'Se uma pessoa é gay e busca Deus, quem sou eu para julgá-lo?', diz papa



Na mais ousada declaração de um pontífice sobre homossexualismo homossexualidade, o papa Francisco disse que os gays "não devem ser marginalizados, mas integrados à sociedade" e que não se sente em condição de julgá-los.

"Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-lo?", afirmou Francisco aos cerca de 70 jornalistas que embarcaram a Roma com ele. "O catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem. Diz que eles não devem ser discriminados por causa disso, mas integrados à sociedade."

As declarações foram em resposta a recentes revelações de que um assessor próximo seria homossexual e a uma frase atribuída a ele no início de junho, de que havia um "lobby gay" no Vaticano. Segundo ele explicou ontem, o problema não é ser gay, mas o lobby em geral.

"Vocês vêm muita coisa escrita sobre o "lobby gay". Eu ainda não vi ninguém no Vaticano com um cartão de identidade dizendo que é gay. Dizem que há alguns. Acho que, quando alguém se encontra com uma pessoa assim, devemos distinguir entre o fato de que uma pessoa é gay de formar um lobby gay, porque nem todos os lobbies são bons. Isso é o que é ruim."

"O problema não é ter essa tendência [gay]. Devemos ser como irmãos. O problema é o lobby dessa tendência, da tendência de pessoas gananciosas: lobby político, de maçons, tantos lobbies. Esse é o pior problema."

Questionado sobre o movimento carismático no Brasil, Francisco disse que, no início, chegou a compará-los com uma "escola de samba", mas que se arrependeu: diz que os movimentos "bem assessorados" são parte da "igreja que se renova".

Antes de aceitar perguntas, Francisco disse que "foi uma bela viagem" e elogiou o "povo brasileiro". "Espiritualmente me fez bem, estou cansado, mas me fez bem", afirmou.

"A bondade e o coração do povo brasileiro são muito grandes. É um povo tão amável, que é uma festa, que no sofrimento sempre vai achar um caminho para fazer o bem em alguma parte.

Um povo alegre, um povo que sofreu tanto. É corajosa a vida dos brasileiros. Tem um grande coração, este povo."

O papa elogiou os organizadores "tanto da nossa parte quanto dos brasileiros", com menções à parte artística e religiosa. "Era tudo cronometrado, mas muito bonito."

Sobre a segurança, uma grande preocupação principalmente no início, o papa lembrou que "não teve um incidente com esses jovens, foi super espontâneo".

Fonte: Folha de S. Paulo hoje

Lampedusa, uma homilia que é também o programa de um pontificado


Afirma o historiador da Igreja Alberto Melloni: "Muitos não se deram conta. É um texto comparável ao discurso de abertura do Concílio".

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 16-07-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto (via)

"A homilia que o Papa Francisco proferiu em Lampedusa representa uma reviravolta, é um documento comparável ao Gaudet Mater Ecclesia, o discurso de abertura do Concílio de João XXIII. Parece-me que muitos não se deram conta disso realmente". A convicção é do historiador da Igreja Alberto Melloni, que convida a considerar bem as palavras proferidas pelo papa durante a sua visita a Lampedusa no dia 8 de julho passado.

"O Papa Roncalli [João XXIII] – explica Melloni ao Vatican Insider –, dentro de uma trama linguística perfeitamente tradicional e devocional, dizia coisas de um poder evangélico enorme. E estava consciente desse poder, como atesta a decisão de conservar o manuscrito do discurso de abertura do Vaticano II, para que, no futuro, se pudesse ver como se tratava de farinha do seu saco. O segredo do Papa Francisco é diferente: com uma linguagem acessível, ele comunica conteúdos doutrinais extraordinários. Lampedusa é um desses casos, o mais importante para mim".

Para o estudioso, qualquer outro, em uma ocasião como aquela, "teria feito um discurso imputando aquelas mortes à nossa sociedade, à modernidade, ao indiferentismo. Francisco, ao invés, falou do lugar dos cristãos na sociedade e no mundo. Ele celebrou uma liturgia penitencial, e não nos deixou de fora. Nem mesmo o papa se deixou de fora".

A referência de Melloni é à passagem da homilia em que Bergoglio afirmou: "Muitos de nós, eu também me incluo, estamos desorientados, não estamos mais atentos ao mundo em que vivemos, não nos importamos, não cuidamos do que Deus criou para todos e não somos mais capazes sequer de cuidarmo-nos uns aos outros. E quando essa desorientação assume as dimensões do mundo, chega-se a tragédias como a que assistimos".

O papa (...) "não quer ensinar aos seus interlocutores como estar no mundo, mas diz coisas que têm a ver com o pranto e a acusação de si mesmo. E, na oração final que ele pronunciou, quando pediu perdão 'pela indiferença para com tantos irmãos e irmãs', por quem 'se fechou no seu próprio bem-estar que leva à anestesia do coração', por 'aqueles que, com as suas decisões em nível mundial, criaram situações que conduzem a esses dramas', Francisco indicou um papel e uma função da Igreja no espaço público".

Para Melloni, depois de João Paulo II, que "concebia a Igreja como um elemento tencionado a demonstrar a sua própria força no mundo", e depois de Bento XVI, "que falava da Igreja como de uma pequena e humilde comunidade, uma minoria criativa, que de modo não arrogante ajuda o mundo a se dar conta dos seus males, eis Francisco que nos fala de um 'povo teóforo', portador de Deus".

A referência é, nesse caso, aos lampedusanos, que, vivendo a sua vida, interpretaram humanamente os versículos de Mateus 25: "Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era forasteiro e me hospedastes, nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e fostes me ver".

Com essas palavras, segundo o historiador, o Papa Bergoglio "disse que a tarefa da Igreja no espaço público não é o de manifestar a sua força. Basta ver o que aconteceu com o episódio do casamento homossexual na França. O fato de que Francisco não tenha falado a respeito não significa que ele aprove ou que não tenha ideia do que está acontecendo, nem que busque mediações. Ele propõe uma perspectiva completamente diferente, que vê no centro o último, a presença de Cristo nos pobres. Uma presença que julga não o mundo, mas a Igreja. E, ao fazê-lo, o papa – observa Melloni – faz uma operação doutrinal prodigiosa".

O papa, explica o estudioso, "não diz: 'Sigam o direito natural e ao menos considerem Deus como hipótese, vejam que as coisas na sociedade vão melhorar'. Ao contrário, ele diz que há um poder evangélico que se manifesta lá onde é exercida a custódia do pobre. E é lá que a Igreja encontra o seu sentido. O papa vai em busca do povo descrito em Mateus 25, não só os cristãos ou aqueles que ajudam como cristãos".

Para o professor Melloni seria equivocado se concentrar apenas no problema da imigração: "A Igreja é penitente diante do seu Senhor. O papa reconhece que há, lá fora, no tempo, na vida de cada dia, realidades que dizem o Evangelho à própria Igreja. É a doutrina conciliar dos 'sinais dos tempos', isto é, as coisas que nos falam do Evangelho. Pessoalmente, considero o discurso de Lampedusa como uma encíclica programática de pontificado".

domingo, 28 de julho de 2013

"Grande inspiração: Diversidade Católica"



Um dos mais gratos encontros que tivemos no evento que realizamos na quinta-feira foi a presença dos seis peregrinos do Equally Blessed, uma coligação de grupos de católicos LGBTs americanos. Uma delas, Lauren, postou no blog deles uma nota contando como foi para eles estar conosco.

Na quinta-feira tivemos uma grande dose de inspiração, ao participar de um evento organizado por um grupo católico LGBT local chamado Diversidade Católica. Tínhamos entrado em contato com o grupo durante o planejamento da nossa peregrinação e participar do evento acabou sendo uma experiência extremamente rica.

Fiquei impressionada com a semelhança entre o Diversidade Católica e o DignityUSA. Eles se reúnem uma vez por mês de 15 em 15 dias na casa de um padre dos membros para a celebração eucarística e depois socializar. Começaram em 2006, com apenas seis integrantes, e, desde então, chegaram a mais de 300. Sua missão é muito semelhante ao do Dignity: ser um espaço de afirmação, onde as pessoas possam viver de maneira autêntica tanto sua sexualidade quanto sua espiritualidade. Para mais informações, confira o site deles.

O evento foi voltado para os peregrinos da a Jornada Mundial da Juventude e teve um bom número de participantes [apesar das dificuldades para chegar, devido aos engarrafamentos na cidade]. Durante o evento, três membros do grupo compartilharam suas histórias de gays e católicos. Depois dessa partilha, o microfone foi aberto, e qualquer um poderia apresentar seu depoimento. Foram mais de 10 pessoas contando suas experiências. Felizmente, um dos membros do grupo falava inglês fluentemente e foi capaz de traduzir para nós. Ficamos muito gratos por isso, porque as histórias foram tão fortes, especialmente pela semelhança com as nossas próprias histórias e as histórias de outros católicos LGBT nos EUA. Ainda que nossa língua e cultura sejam tão diferentes, pude facilmente me identificar com muitas das histórias compartilhadas, e não parava de pensar em todos os meus amigos católicos LGBT.

Todos no evento mostraram-se muito interessados em ouvir sobre o nosso grupo e o que estávamos fazendo na Jornada Mundial da Juventude. Todos vieram nos agradecer, tirar fotos e fazer grandes perguntas. Eu me senti inspirada pelo evento, por me mostrar que o movimento LGBT pela justiça na igreja não é apenas um movimento americano, é mundial. Às vezes o DignityUSA pode se sentir tão pequeno quando comparado com a enormidade da Igreja Católica, mas saber que há outros movimentos assim em outras partes do mundo me dá a esperança de que um dia a igreja pode realmente mudar.

As fotos acima mostram nosso grupo no encontro organizado pelo Diversidade Católica, cuja missão é semelhante à do DignityUSA, no sentido de proporcionar apoio e uma comunidade para os católicos LGBTQ. O fórum foi uma oportunidade para as pessoas compartilharem suas histórias e saber que não estão sozinhas na luta para viver a reconciliação de fé e sexualidade. O evento foi em português, mas um dos participantes, Arnaldo, gentilmente nos serviu de tradutor (inesperadamente veio até nós e começou a traduzir do português para o inglês).

Salmos, 137


— Vou cantar-vos ante os anjos, ó Senhor,
e ante o vosso templo vou prostrar-me.
— Vou cantar-vos ante os anjos, ó Senhor,
e ante o vosso templo vou prostrar-me.

— Ó Senhor, de coração eu vos dou graças, porque ouvistes as palavras
dos meus lábios! Perante os vossos anjos vou cantar-vos e ante
o vosso templo vou prostrar-me.

— Eu agradeço vosso amor, vossa verdade, porque fizestes muito mais
que prometestes; naquele dia em que gritei, vós me escutastes
e aumentastes o vigor da minha alma.

— Os reis de toda a terra hão de louvar-vos, quando ouvirem, ó Senhor, 
vossa promessa. Hão de cantar vossos caminhos e dirão:
"Como a glória do Senhor é grandiosa!"

— Estendereis o vosso braço em meu auxílio e havereis de me salvar
com vossa destra. Completai em mim a obra começada; ó Senhor,
vossa bondade é para sempre! Eu vos peço: não deixeis inacabada
esta obra que fizeram vossas mãos!

Três chamados de Jesus


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 11, 1-13, que corresponde ao 17º Domingo do Tempo Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto, aqui reproduzido via IHU.

“Todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta” (Lc 11,10). É possível que Jesus tenha pronunciado estas palavras quando ele andava pelas aldeias da Galileia pedindo alguma coisa para comer, procurando ser acolhido e batendo na porta da casa dos vizinhos. Ele sabia aproveitar as experiências mais simples da vida para despertar a confiança de seus seguidores no Pai de todos.

Curiosamente, em nenhum momento é dito para nós o que devemos pedir ou buscar nem em qual porta devemos bater. O mais importante para Jesus é a atitude. Diante do Pai, devemos viver como pobres que pedem o que precisam para viver, como os perdidos que procuram um caminho que ainda não conhecem bem, como desamparados que batem à porta de Deus.

Nas três chamadas de Jesus, somos convidados a despertar a confiança no Pai. Este convite é realizado com diferentes matizes. “Pedir” é a atitude própria do pobre. Devemos pedir a Deus aquilo que não podemos dar a nós mesmos: o sopro da vida, o perdão, a paz interior, a salvação. “Buscar” não é somente pedir; é dar passos para conseguir o que não está ao nosso alcance. Assim devemos buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça: um mundo mais humano e digno para todos. “Chamar” é bater na porta, insistir, gritar a Deus quando o sentimos longe.

A confiança de Jesus no Pai é absoluta. Ele quer que seus seguidores não esqueçam nunca: “todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta”. Jesus não disse que recebem concretamente o que estão pedindo, que encontram o que estão procurando ou que atingem aquilo pelo que clamam. Sua promessa é outra: para quem confia nele, Deus se dá a eles; quem recorre a ele, dele recebe “coisas boas”.

Jesus não oferece explicações difíceis. Apresenta três exemplos que podem entender os pais e as mães de todos os tempos. Quem é o pai ou a mãe que, quando um filho pede um pedaço de pão, lhe dá uma pedra como aquelas que estão nos caminhos? Ou se pede um peixe lhe dá uma cobra? Ou ainda: se pede um ovo, será que vai lhe dar um escorpião daqueles que estão na beira do lago? (Lc 11, 11-12).

Os pais não zombam dos filhos. Não os enganam nem dão aquilo que possa machucá-los, mas somente "coisas boas". Jesus dá rapidamente uma conclusão: “quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo àqueles que o pedirem” (Lc 11,13). Para Jesus, o melhor que podemos pedir e receber de Deus é Seu sopro que sustenta e salva nossa vida.

Impressões do evento "O Jovem Homossexual na Igreja"


Queridos amigos, é com grande alegria que encerramos este ciclo da JMJ 2013 com um saldo extremamente positivo para nós, especialmente, do Diversidade Católica. Nosso evento foi, para nós, um grande sucesso, ocasião de encontros e reencontros, de fortalecimento de laços, de troca e partilha, de diálogo e crescimento conjunto, de aprendizado e de muitas razões para esperança (fotos aqui). E, sobretudo, como bem assinalou a Lauren, do Equally Blessed, é sempre bom saber que não estamos sozinhos e que, por mais discretas que às vezes possam parecer, as vozes da mudança estão aí, agindo e transformando. E isso é sempre motivo para enorme emoção.

Depois do relato detalhado do amigo Sergio Viula, que já compartilhamos aqui, aproveitamos este espaço para partilhar as impressões de alguns dos membros do grupo.


"Amei exercitar meu dom e relembrar meus tempos de Ministério de Música no evento. Agradeço ao Pedro Borges pelo convite e a todos que, apesar de eu andar sumida, SEMPRE me recebem com tanto carinho, o que me faz sentir mesmo muita dó de não poder estar presente sempre nas reuniões quinzenais.

Mas, voltando ao encontro: foi a minha participação mais efetiva na JMJ, se é que posso dizer isso, pq não topo muito com multidão e tals. Então, fiquei muito feliz de poder estar lá, desfrutando da companhia de nossos amigos de fora, reencontrando os amigos antigos.

Muito maneiro, também, foi encontrar pessoas da minha paróquia do coração, N. Sra. de Loreto, em Jacarepaguá, que também passaram pelo Encontro de Adolescentes com Cristo (EAC), que eu fiz em 1990. Foi lá que me encontrei no catolicismo, fiz minha primeira comunhão aos 18 anos e me crismei aos 19. O Diversidade Católica e tudo o que ele me proporcionou e proporciona, em termos de entendimento do fato de que Deus não comete erros e eu, portanto, sou amada como sou e tenho meu lugar no mundo, é uma porta aberta pros jovens da minha paróquia, gays como eu, e isso me emociona profundamente." (Simone)

* * *


"Agradeço a todos pela participação. A doação dos que trabalharam para o evento acontecer, a partilha das dores, alegrias e esperanças, a acolhida dos que chegaram, mesmo à última hora, e o reencontro dos amigos queridos. Foi comovente, forte, lindo! Tão forte que ecoa e vai ecoar por muito tempo no meu coração, no meu ordinário-extraórdinário quotidiano em que Deus se revela. Um forte abraço." (Rosilene)

* * *

Parabéns a todos que organizaram e participaram do Encontro dia 25. Fiquei muito feliz por estar com vocês ouvindo Cristiana, Juliana, Bruno, Pedro e muitos outros. Este encontro trouxe reflexão a todos, encorajamento a muitos para enfrentar as dificuldades nas relações sociais, pois sabem que não estão sozinhos. Parabéns também a todos que participaram da JMJ mostrando a sua fé. Acredito que um caminhar diferenciado iniciou. (Ana)

* * *

"Estes dias de Jornada Mundial da Juventude está sendo inesquecível e abençoado. Desde a minha participação na pré-Jornada inaciana MAG+S, no evento aberto organizado pelo Diversidade Católica e mais recentemente na Via Sacra e em breve na peregrinação e missa, um sentimento comum é gerado por um misto de coisas (tenho consciência de quem sou, confesso um amor apaixonado por Deus, professo minha experiência divina com a Igreja e para tod+s): ALEGRIA.

Todos ouvimos que "Deus é bom" e podemos acrescentar consolador com a experiência de reunirmos tantos amigos no Senhor e partilhar nossas dores, dificuldades e, ao meu ver, principalmente graças no evento aberto do Diversidade. Reunir a Igreja tem dessas maravilhas. Você se percebe membro de um corpo muito amplo e diversificado. Reunido por interesse? Não. Reunido pelo amor de Deus. E assim gays, lésbicas, simpatizantes e todas outras orientações nos fazemos presentes na Igreja, igualmente abençoados. Sim, muito feliz e pertinente o nome do grupo americano que participou: Equally Blessed." (Fábio)
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