quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Deus, Obama e os Gays


‘Igualdade para gays e imigrantes’. Assim repercutiu pelo mundo a posse do segundo mandato de Barack Obama. Ele decidiu fazer o juramento presidencial sobre as Bíblias que pertenceram a Abraham Lincoln e a Martin Luther King Jr. No discurso, citou a Declaração de Independência dos Estados Unidos: todos os homens são criados iguais, e lhes são conferidos pelo Criador direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à busca da felicidade, entre outros.

É preciso ser igual não só aos olhos de Deus, mas aos olhos dos homens, assevera o presidente. E esta igualdade é uma estrela que guia o povo ainda hoje, como guiou os seus antepassados em Seneca Falls, Selma e Stonewall. Que lugares são estes que Obama menciona? Seneca Falls é o local da primeira convenção norte-americana a lutar pela emancipação feminina, em 1848. Selma é a cidade do Alabama de onde partiram as marchas pelos direitos civis dos negros, em 1965. E Stonewall é o bar gay de Nova Iorque onde eclodiu uma rebelião, em 1969. A igualdade desejada por Deus, portanto, conquista-se nos movimentos e nas lutas sociais.

A tarefa desta geração não está completa, prossegue Obama, até ‘nossos irmãos e irmãs gays’ sejam tratados como os outros perante a lei. E sobre isto conclui: se somos criados iguais, então o amor que juramos mutuamente também tem que ser igual. Pela primeira vez na posse de um presidente dos Estados Unidos, os direitos dos gays são reconhecidos com clareza e firmeza.

A escolha das Bíblias de Lincoln e Luther King não é por acaso. Ambos lutaram até a morte pela emancipação dos negros naquele país. No livro sagrado dos cristãos, eles encontraram inspiração e alento para a sua luta libertária. Isto não foi simples. A Bíblia tem vários trechos que mencionam a escravidão e a segregação, e que historicamente foram utilizados para justificá-las. Lincoln e Luther King não ficaram reféns desta leitura ao pé da letra, arma ideológica de seus adversários. O livro sagrado tem também outros trechos que mencionam a submissão da mulher ao homem, e a proibição das relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Estes textos são utilizados hoje por cristãos fundamentalistas para subalternizar as mulheres e para execrar os gays. Obama também não é refém da interpretação literal. Após jurar sobre as Bíblias e se referir ao Deus Criador, ele defendeu brilhantemente os negros, as mulheres, os gays, os imigrantes, os pobres, as crianças e a preservação do Planeta.

Deus não é rival do ser humano, não é muralha do escravismo e da segregação, não é guardião do patriarcalismo e do status quo, e não é bastião da heterossexualidade compulsória. Deus é o fundamento da igualdade entre os seres humanos, é seu aliado na liberdade responsável, na busca do amor e da felicidade. Esta imagem de Deus transparece no discurso de Obama. Não é necessário afastar da esfera pública a tradição judaico-cristã e seus símbolos religiosos para se garantir a cidadania. É necessário ressignificá-los, como faz o presidente norte-americano.

Ele foi eleito pela maioria dos protestantes, dos católicos e dos judeus dos Estados Unidos, entre outros segmentos da população. Os eleitores destas confissões religiosas não deram ouvidos à mensagem catastrofista de vários de seus líderes, que vêem no casamento gay uma grave ameaça à família, à paz e ao futuro da humanidade. Estes eleitores tiveram o devido discernimento, e são corresponsáveis por esta belíssima lição de fé e cidadania de Obama. Sem negar as luzes e sombras que possa ter o governo norte-americano e sua política externa, um forte vento do Espírito divino está soprando para o bem da humanidade.

Imagem: O pintor renascentista italiano Paolo Veronese representa Deus Pai enviando o Espírito Santo na forma de uma pomba (1570).

Jônatas e Davi


Jônatas foi um príncipe que combinava bravura e arrojo com modéstia e nobreza de coração, o filho de Saul, Jônatas, bem poderia ter sido um dos grandes reis da história de Israel, não tivesse ficado dividido entre a impetuosidade e paranoia do pai e a amizade e lealdade a Davi, o herói emergente de Israel, a quem Saul acabou por temer e odiar.
Quando os filisteus afirmaram seu domínio sobre os israelitas, o jovem soldado Davi, que era um jovem bonito, de pele corada e olhos lindos, emergiu como o herói da guerra. Além da boa aparência e de ser um valente guerreiro, Davi também falava bem e sabia tocar. Jônatas encontrara uma alma gêmea e “apegou-se a Davi... [e] começou a amá-lo como a si mesmo”(I Sm 18,1). No início, Saul exaltou Davi, no entanto, a inveja temerosa antes dirigida ao filho voltou-se com mais veemência contra Davi.
Jônatas ficou numa situação delicada. No começo, defendeu Davi diante do pai, e em dado momento achou que havia reconciliado os dois. A certa altura, porém, Saul ordenou explicitamente que seus guardas matassem Davi, mas acabou cancelando a ordem por insistência de Jônatas.
Jônatas não perdeu a esperança de reconciliar o pai, a quem não podia abandonar, e o amigo querido, de cuja inocência não duvidava. Jônatas encontrou-se com Davi em segredo e planejou descobrir num banquete que aconteceria em breve, a dimensão do ódio do pai e comunicar isso a Davi. O resultado foi bem pior do que antecipara Jônatas. Saul estava mesmo determinado a matar Davi e desacatou o filho por defendê-lo. Furioso e extremamente sentido, Jônatas deixou a festa e foi dar a notícia a Davi. Quando os dois se despediram, juraram amizade eterna, inclusive entre seus descendentes.
O comportamento de Saul convenceu Jônatas de que a dinastia do pai não poderia durar, mas ele jamais abandonou o rei para juntar-se ao bando de seguidores de Davi, estando ao seu lado quando os filisteus os cercaram no Monte Gelboé. Quando Davi foi informado da morte de Jônatas, chorou pelo mesmo: “Jônatas, meu irmão, por tua causa meu coração me comprime! Tu me eras tão querido! Tua amizade me era mais preciosa que o amor das mulheres.” (II Samuel 1:26).

Adaptado por Hugo Nogueira a partir de "Quem é quem na Bíblia: dicionário ilustrado da sagrada escritura". Reader's Digest, 2012. Tradução de Who's Who in the Bible.
Inspirado pelo panfleto "Homosexuality. Our Story Too. Lesbians & Gay Men in the Bible" de Nancy Wilson. 1992.

Imagem: Davi despede-se de Jônatas.

Noemi e Rute


Noemi e Rute
Na época dos juízes, Noemi vivia em Belém com o marido Elimelec e os dois filhos, Maalon e Quelion. Mas a fome forçou a família a abandonar Judá e a migrar para Moab, a leste do Mar Morto. Depois da morte de Elimelec e dos filhos, que se casaram com Rute e Orfa, Noemi decidiu voltar para Judá. Rute recebeu ordem de Noemi, que deve ter pensando que seus parentes lhe dariam um lugar para viver mas não acolheriam Rute, para ficar em Moab com sua família e encontrar novo marido, mas ficou em sua companhia. (Rt 1, 14). Rute estava determinada a acompanhar Noemi: “Onde for tua moradia será também minha... teu povo será meu povo, e teu Deus será meu Deus. Nem mesmo a morte”, prometeu solenemente Rute, “nos separará: onde morreres quero morrer e ser sepultada” (Rt 1, 16-17).
As duas mulheres chegaram a Belém na época de colheita da cevada. A colheita da cevada estava no começo e Rute, então, decidiu ir atrás dos ceifadores, e acabou indo para o campo de Booz. O homem ouvira falar que Rute se recusara a abandonar Noemi, e imediatamente gostou dela. Seguindo conselho de Noemi, Rute convenceu Booz a tomá-la como esposa para que as terras de Elimelec, que não podiam ser resgatadas por nenhuma das duas viúvas, permanecessem na família. Rute gerou Obed, mas as vizinhas disseram “Nasceu um filho a Noemi” (Rt 4, 17). Obed foi avô do rei Davi. Numa das últimas cenas do livro, Noemi segura o neto no colo e lhe serve de ama. E as mulheres do povoado exaltam Rute porque amava Noemi e valia para ela mais do que sete filhos, um número simbólico da perfeição. Essas mesmas mulheres deram à criança o nome de “consolador de Noemi” (Rt 4, 15). Estudiosos da Bíblia não sabem ao certo quem é o autor do livro de Rute. Tampouco sabem quando e porque ele foi escrito. Pode ter sido permitir que as futuras gerações aprendessem com o exemplo inspirador do amor de Rute por Noemi.

Adaptado por Hugo Nogueira a partir de "Quem é quem na Bíblia: dicionário ilustrado da sagrada escritura". Reader's Digest, 2012. Tradução de Who's Who in the Bible.
Inspirado pelo panfleto "Homosexuality. Our Story Too. Lesbians & Gay Men in the Bible" de Nancy Wilson. 1992.

Imagem: Noemi e Rute. Ao fundo se veem os trabalhadores no campo de cevada de Booz.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Não se deve julgar um livro pela capa


O livro “The Pope Is Not Gay!”, tradução para o Inglês de “No, No, No! Ratzy non è gay!” de Angelo Quattrochi pode passar a impressão de ser uma crítica irresponsável sobre as vestimentas do Papa Bento XVI e sobre a sua relação com o assistente Georg Gänswein.
Na realidade é um estudo bem fundamentado sobre o uso da imagem e as relações de poder no Vaticano. Além disso, apresenta um material rico de estudo: a íntegra de todos os documentos sancionados pelo Papa Bento XVI que tratam da homossexualidade até o ano 2007 em que o livro foi lançado.
Todos os documentos condenam qualquer reivindicação por direitos iguais aos homossexuais, o que é interpretado como uma reivindicação por direitos especiais baseada na falsa assunção de que a homossexualidade não é uma condição desordenada.
No entanto encontramos um parágrafo que poderia e deveria servir de norte para uma postura diferente e quiçá mais verdadeiramente cristã. É o parágrafo 16 da “Carta sobre a cura pastoral das pessoas homossexuais – Homosexualitatis problema (Epistula de pastorali personarum homosexualium cura), 1° de outubro de 1986:
A pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, não pode definir-se cabalmente por uma simples e redutiva referência à sua orientação sexual. Toda e qualquer pessoa que vive sobre a face da terra conhece problemas e dificuldades pessoais, mas possui também oportunidades de crescimento, recursos, talentos e dons próprios. A Igreja oferece ao atendimento da pessoa humana aquele contexto de que hoje se sente a exigência extrema, e o faz exatamente quando se recusa a considerar a pessoa meramente como um “heterossexual” ou um “homossexual”, sublinhando que todos têm uma mesma identidade fundamental: ser criatura e, pela graça, filho de Deus, herdeiro da vida eterna.

Resenha: Hugo Nogueira

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Uma Porta Entreaberta...


No passado mês de setembro, o Conselho Família e Sociedade da Conferência Episcopal Francesa fez publicar um documento intitulado «Estender o casamento às pessoas do mesmo sexo? Abramos o debate!», que passou despercebido a muita gente, mas que, pela importância que lhe está subjacente, merece a nossa análise e que aqui partilhamos nas suas partes mais importantes.

Depois de implicitamente afirmar a posição já sobejamente conhecida da hierarquia católica ao reconhecer que a «abertura do casamento civil (em França, como noutros países, não existe a palavra casamento – para o casamento civil – e matrimónio – para o casamento religioso, como acontece em Portugal) a pessoas do mesmo sexo e a consequente possibilidade destes recorrerem à adoção, é um problema grave, reconhece que a Igreja participará neste debate «que se quer respeitador das pessoas» no sentido de servir o bem comum. Aqui reside a primeira «novidade» do documento um debate «respeitador das pessoas» quando todos sabemos que, normalmente, a hierarquia católica, a começar nas suas mais altas instâncias, tem por hábito falar para os homossexuais e não com eles, em escuta e partilha.

Reconhece depois o documento que «a homossexualidade sempre existiu, mas até há relativamente pouco tempo, nunca houve a reivindicação por parte das pessoas homossexuais em dar um quadro jurídico a uma relação destinada a se inscrever no tempo, nem a se verem investidos numa autoridade parental. Pertence ao poder político escutar esta exigência e de lhe proporcionar a resposta mais adequada.»

Para que o debate em torno desta questão se possa realizar de forma salutar, reconhecem os bispos franceses que, por um lado, não se podem qualificar como homofóbicas as reticências e as interrogações colocadas a esta importante reforma do direito e, por outro lado, as pessoas homossexuais não podem, a priori, ser desqualificadas, pois o respeito por «todos os atores do debate implica uma escuta mútua, uma apetência para compreender os argumentos expostos e a procura de uma linguagem comum». Reconhecem ainda que «não se trata de impor um ponto de vista religioso, mas de dar a sua contribuição para este debate.»

Uma parte igualmente importante e a reter deste documento é o capítulo denominado «Recusar a homofobia». Demos, novamente, a palavra aos bispos franceses: «Durante muito tempo, as pessoas homossexuais foram condenadas e rejeitadas. Foram objeto de toda a espécie de discriminações e provocações. Atualmente isso não é mais tolerado, o direito proíbe toda a discriminação e todo o incitamento ao ódio, nomeadamente em função da orientação sexual, e devemos saudar essa evolução» e acrescentam «é preciso admitir claramente que a homofobia não desapareceu completamente da nossa sociedade. Para as pessoas homossexuais a descoberta e a aceitação da sua homossexualidade são muitas vezes um processo complexo. Nem sempre é fácil assumir a sua homossexualidade no meio profissional ou familiar. Os preconceitos são difíceis de morrer e as mentalidades mudam lentamente, incluindo nas nossas comunidades e famílias católicas… Pois o que fundamenta, para os cristãos, a nossa identidade e a igualdade das pessoas, é o facto que somos todos filhos e filhas de Deus.»

Seguidamente os bispos pretendem compreender a exigência das pessoas homossexuais, começando por afirmar que «as práticas homossexuais evoluíram e a aspiração a viver numa relação afetiva estável encontra-se mais hoje do que há 20 anos atrás» e constatando que «a diversidade das práticas homossexuais não deve impedir de levarmos a sério as aspirações daquelas e daqueles que desejam comprometer-se numa relação estável. O respeito e o reconhecimento de qualquer pessoa assumem agora uma importância primordial na nossa sociedade.»

Depois de reconhecerem a existência de diferenças específicas entre o casamento heterossexual e o homossexual, reconhecem que «podemos estimar o desejo de um compromisso na fidelidade de um afeto, de um compromisso sincero, da preocupação com o outro e de uma solidariedade que vai além da redução da relação homossexual como um simples compromisso erótico.»

Concluem os bispos franceses, depois de várias ilações «clássicas» sobre casamento, procriação e paternidade, que a igreja «reconhece, para além do aspeto sexual por si só, o valor da solidariedade, do cuidado e da preocupação com o outro que podem surgir numa relação [homossexual] afetiva estável. A Igreja quer-se acolhedora para com as pessoas homossexuais e continuará a sua contribuição na luta contra toda a forma de homofobia e de discriminação», sendo que «uma evolução no direito da família é sempre possível».

O tom apaziguador e sobretudo conciliador deste documento é certamente mais uma porta entreaberta, como outros sinais que aqui e acolá vão surgindo, no caminho certo do acolhimento verdadeiro e autêntico das pessoas homossexuais no seio da Igreja Católica. Precisamos todos (hierarquia católica, sacerdotes e fiéis, onde se incluem os homossexuais católicos), cada vez mais de buscar a orientação do Espírito Santo, para respondermos aos imperativos e exigências do Evangelho e da sociedade em que vivemos, de modo a que a Igreja, seja uma autêntica comunidade de fé, onde se proclama Jesus Cristo como Senhor e Salvador, evitando os perigos de modificar a Sua mensagem e de não mudar de métodos.

Saibamos todos, a exemplo de Cristo, dar testemunho através do amor, do serviço e do diálogo.

José Leote

Fonte: Rumos Novos

domingo, 27 de janeiro de 2013

Gays católicos praticantes buscam seu espaço na igreja


Eles se reúnem em grupos de oração e estudo, com apoio discreto de padres

A psicóloga Cristiana Serra, de 38 anos, brinca que deve sua união com a confeiteira Juliana Luvizaro, de 32, ao papa Bento XVI.

Não há nenhum tom desrespeitoso na brincadeira. É que, no Natal de 2008, o pontífice fez um pronunciamento em que considerou tão importante "salvar" a humanidade do comportamento gay quanto livrar as florestas do desmatamento. Indignada, Juliana mandou e-mail à Arquidiocese do Rio. Dizia que era gay e católica, mas que uma restrição da própria Igreja poderia fazê-la deixar a religião.

Juliana conta que recebeu de um padre da arquidiocese uma resposta "mais que amorosa" e a sugestão de entrar em contato com o padre Luís Corrêa Lima, que coordena um grupo de pesquisa sobre diversidade sexual na PUC-RJ. Esse contato a levou ao Diversidade Católica, um grupo leigo de reflexão, oração e debate formado por gays católicos, em que conheceu Cristiana.

As duas estão juntas desde março de 2009 e há três anos formalizaram em cartório a união estável. Têm expectativa de convertê-la em casamento civil.

Cristiana e Juliana fazem parte de um movimento de gays católicos praticantes que pretendem conciliar as duas identidades. Nos últimos anos, eles têm se reunido em espaços como o Diversidade Católica, no Rio, e a Pastoral da Diversidade, em São Paulo. Participam de celebrações, estudam, trocam experiências. No cotidiano, frequentam igrejas e muitas vezes participam das atividades paroquiais.

Os grupos têm o apoio de alguns padres, como d. Anuar Battisti (mais informações nesta pág.), que atuam com discrição para evitar sanções da hierarquia da Igreja, como o silêncio (restrição a entrevistas e pronunciamentos públicos), já imposto a alguns sacerdotes.

A doutrina católica, reforçada nos textos e discursos do papa Bento XVI, acolhe o homossexual, mas condena a prática da homossexualidade. E rejeita vigorosamente a união de pessoas do mesmo sexo e mais ainda a adoção de crianças por esses casais.

Para mostrar o outro lado da Igreja, os integrantes do Diversidade Católica recorrem a palavras do próprio Bento XVI: "A Igreja não é apenas os outros, não é apenas a hierarquia, o papa e os bispos; a Igreja somos nós todos, os batizados". Como primeiro passo, eles querem participar da vida religiosa sem ter de esconder que são gays, como relatam terem feito durante anos.

Vivências. Após infância e adolescência vividas no ambiente católico, o empresário Arnaldo Adnet, um dos fundadores do Diversidade Católica, se afastou da Igreja no período em que assumiu ser gay. Anos depois, quando retornou à religião, ia discretamente à missa aos domingos, na Igreja da Ressurreição. Aos poucos, passou a participar da vida da paróquia. Foi chamado para cantar no coro e fez parte da coordenação pastoral. "Para mim, dizer que sou católico é que foi sair do armário", diz Adnet, que vai às missas dominicais com o companheiro e a mãe.

Cristiana e Juliana frequentavam as missas de um padre "acolhedor" no bairro da Glória e, após se mudaram para Copacabana, também passaram a ir na Igreja da Ressurreição. "A gente vê gays antirreligiosos e, entre os religiosos, a homofobia é cada vez mais arraigada. Isso tende a obscurecer um campo intermediário que fica silencioso, por não ser tão extremista. A polarização impede o diálogo", diz Cristiana.

Histórias de acolhimento e rejeição se alternam. Um rapaz que cumpria atividades em uma paróquia conta que, ao revelar ao padre que era homossexual, foi perdendo suas funções. Na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em Madri, em 2011, ele encaminhou por escrito, sem esperança de ser atendido, uma pergunta ao arcebispo do Rio, d. Orani Tempesta, sobre como a Igreja lida com a presença dos gays católicos. O rapaz se surpreendeu ao ver que sua pergunta foi respondida por d. Orani, que, segundo ele, pregou a existência de uma Igreja para todos. Hoje, o rapaz participa da organização da nova edição da JMJ, que ocorrerá em julho no Rio, com a presença de Bento XVI.

Em São Paulo, os integrantes Pastoral da Diversidade, que não tem vínculo com a arquidiocese, reúnem-se a cada 15 dias em uma missa comandada pelo padre inglês James Alison, na casa do sacerdote ou em espaços de ONGs.

Por ter deixado a ordem dominicana e não ser subordinado à hierarquia da Igreja, Alison fala sem restrições. Ele sustenta que a Igreja parte de um pressuposto equivocado ao considerar que a homossexualidade vai contra a natureza e, portanto, não pode ser aceita como prática.

"Será verdade que os gays são héteros defeituosos ou será que é uma variante minoritária e não patológica da condição humana? Na medida em que a sociedade se dá conta de que não é um defeito, a situação vai mudando, queira a hierarquia da Igreja ou não", diz Alison. "Expus minha consciência há 17 anos e eles (autoridades do Vaticano) nunca me chamaram a dar explicações. Eles têm uma dificuldade sobre qual é o meu status canônico como padre. A única razão por que posso falar abertamente é que não tenho nada a perder", afirma.

Foto: Arnaldo Adnet (Wilton Junior/Estadão)

O Estado de São Paulo, 27 de janeiro de 2013

Há muitos membros e, no entanto, um só corpo.


O programa de ação assumido por Jesus é este: anunciar a boa-nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos, recuperar a visão dos cegos e libertar os oprimidos. Jesus sabe que não há vida digna com a fome, a miséria, a doença, a prisão. Propôs-se, portanto, cumprir uma tarefa nada fácil, à qual se dedicou ao longo de sua vida missionária.
Demonstrou com sua prática que o evangelho é boa-nova de libertação para os pobres e injustiçados. Não é uma mensagem "cor-de-rosa" que serve para dar "conforto espiritual" aos que vivem na miséria ou para apaziguar a consciência dos que tiram proveito da miséria alheia. A proposta de Jesus é bem concreta.
Se quiser ser fiel ao Mestre, a Igreja terá de fazer sua essa tarefa. A sua missão preferencial aos pobres jamais pode ser esquecida, sob risco de perda de rumo. A Igreja é um corpo de muitos membros unidos; se algum membro sofre, deve receber cuidados preferenciais.
Como membros da Igreja, Corpo de Cristo, fomos, no dia do batismo, ungidos e chamados a assumir o projeto de continuar a missão libertadora iniciada por Jesus. Todos os membros da Igreja são importantes e têm uma missão, assim como os membros do corpo têm cada um sua função. Só assim o evangelho se mostra vivo, e não letra morta que ficou a dois mil anos de distância.
Em todos os tempos, a palavra que vem de Deus possui a força e a eficácia dele proveniente - interpela, provoca, consola, cria comunhão e salva das mais diversas maneiras. Ela continua se tornando o "hoje" da história. E cada um de nós - membro do povo de Deus - é chamado a dar atualidade ao texto antigo, isto é, torná-lo relevante para os nossos dias.

Pe. Nilo Luza, ssp

O DOMINGO. SEMANÁRIO LITÚRGICO-CATEQUÉTICO. 27 de janeiro de 2013.

A MAIOR TRAGÉDIA DE NOSSAS VIDAS




Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça.

A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta.

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa.

A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada.

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.

Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.

Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.

Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.

Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.

Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.

Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo?

O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.

A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.

Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.

Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos.

Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.

As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.

Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.

As palavras perderam o sentido.

Fabricio Carpinejar

(Rezando pelas almas e por todos aqueles que perderam seus entes queridos.)
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