sábado, 6 de agosto de 2011

O silêncio dos bons

Escultura: Stacey Webber

O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons.

- Martin Luther King

Tuitadas de hoje

Ilustração: Divya Manian

RT @lolaescreva: Carta maravilhosa q @alinemramos enviou ao NYT, contestando reportagem sobre Rafinha: bit.ly/nmcvJ0 Ñ percam!

RT @ivonepita: Support Gay pride: add a #PicBadge to your image picbadges.com/gay-pride-17/1… via @picbadges

RT @semfimlucrativo: Moralismo na sociedade moderna: ser contra o aborto e casamento gay. Corrupção, pedofilia etc é bem moral, pelo jeito.

RT @_ihu: 'Dinheiro não é igual ao rio, q fica para sempre. Dinheiro é como o ar, q se vai'. Caciques Xingu X Belo Monte bit.ly/qMDfrp

RT @pejulio: Frio pode ter causado morte em Pedregulho (SP) folha.com/ct955376 #folha

RT @pejulio: Fome na Somália é "política", diz especialista folha.com/mu955472 #folha

RT @lolaescreva: @rodsouza_ sobre ver o machismo:"é c/orgulho q vejo q estou hj mais perto da superfície q estava ontem" canecaorbital.blogspot.com/2011/06/as-bol…

Datena revela que em telejornal da Record não podia tratar de crimes contra LGBTs http://bit.ly/nQjZ47 via Tantas Noticias X1

Morre último sobrevivente dos "triângulos rosas" nazistas http://bit.ly/mXZ2TD via Tantas Noticias X1

Dia do Orgulho Hétero não é homofobia, afirma Gilberto Kassab http://bit.ly/pqH1I1 via Tantas Noticias X1

Orgulho para quem não tem do que se orgulhar http://bit.ly/nKRMci

6º Encontro Regional Sudoeste de Travestis e Transexuais http://bit.ly/pFo8jR

Convite e Programação Dia Estadual Tuberculose - RJ http://bit.ly/qFcNYh

Convite: palestra "Homoafetividade e famílias contemporâneas" 26/08 - EMERJ http://bit.ly/oPHbeC

Nova marca dos Centros de Referência da Cidadania LGBT RJ http://bit.ly/pfu3U6

Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de SP acredita no veto de Kassab a Orgulho Hétero http://bit.ly/p4Rfj8

II Jornada de Estudos de Gênero da UERJ http://bit.ly/oJ6w51

Filme VIDA NUA, adaptação da autobiografia de Quentin Crisp (ícone gay da Inglaterra no século XX) http://bit.ly/p1fGc6

Carta aberta do Grupo Arco-Íris ao Prefeito da Cidade de São Paulo, Sr. Gilberto Kassab http://bit.ly/nFINAW

RT @Conteudo_Livre: FERNANDO DE BARROS E SILVA - "We Are the World" http://bit.ly/pcQQdi

Manguel lança antologia sobre Jesus http://migre.me/5rd2W

Maria, Maria... da Penha! http://migre.me/5rd4N

Censura


Dois fatos da semana passada nos fazem lembrar que a censura está sempre à espreita, aguardando uma brecha para se insinuar.

Primeiro: a TV Globo decidiu eliminar da trama da novela "Insensato Coração" todas as referências ao relacionamento de um casal gay.

O namoro entre os personagens Hugo e Eduardo vinha sendo conduzido pelos autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares de forma a discutir a questão da homofobia sem cenas apelativas.

Em tempos nos quais pai e filho são agredidos por se abraçarem em público, sob suspeita de serem homossexuais, como aconteceu no interior de São Paulo, o relacionamento equilibrado, amoroso, de um casal gay é censurado.

Os personagens gays estereotipados, aqueles das piadas, estes são mantidos.

Segundo: uma liminar concedida na sexta pela Justiça do Rio, a pedido do DEM do Rio, proibiu uma sessão de "A Serbian Film - Terror sem Limites" que seria exibido sábado em um festival de cinema.

O filme é polêmico. Tem cenas de violência sexual e pedofilia e foi proibido em vários países europeus. Em outros, foi liberado após o corte de vários trechos.

O DEM argumenta que o Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a exibição de cenas de exploração sexual de menores.

Mas o artigo 220 da Constituição Federal estabelece que "é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística".

É um bom imbróglio jurídico. O que deve prevalecer?

Sem dúvida, temos que proteger crianças e adolescentes. Mas compensa proibir a sessão única de um filme, que tinha ingressos sobrando e que já havia sido exibido em Porto Alegre e São Luís, ou isso só aumentará o interesse por seu teor?

Ou incentivará o apetite por brechas nas quais a censura poderá se insinuar?

- Cristina Grillo
Reproduzido via Conteúdo Livre

* * *

Quem quiser pode assinar o manifesto contra a censura, aqui.

* * *

Atualização em 09/08/2011:
Com relação ao caso do A Serbian Film, um posicionamento contrário à ideia de censura e bem fundamentado pode ser lido no Observatório da Imprensa: "Falsa polêmica sobre a censura", de Luciano Trigo.

Em defesa da família


Fiquei muito feliz ao deparar-me com este belo artigo. Não conheço o autor, mas achei o texto uma magnífica coleção de argumentos em favor de uma atuação mais incisiva por parte do Estado no sentido de assegurar os direitos dos gays ao casamento (“As famílias proporcionam identidade, amor, cuidado, alimento e desenvolvimento para os seus membros e formam o núcleo de muitas redes sociais”) e à homoparentalidade (“O bem-estar das crianças está ligado ao da família. Quando as famílias prosperam, as crianças prosperam”). Façamos também nós eco ao apelo pelo aumento do apoio às famílias. Afinal, o custo de não fazer isso é muito alto.


Com amor,


Cris.

A família é a pedra fundamental da sociedade e o melhor instrumento para o bem-estar dos indivíduos.

Estas afirmações são comuns nas fontes católicas, baseadas na antropologia cristã. Mas não é tão comum ouvi-las no mundo laico.

Porém, um relatório recente da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) reproduziu precisamente estas afirmações.

Em nota para a imprensa a propósito do relatório, publicada em 27 de abril, a OCDE afirma que as famílias são uma fonte essencial de apoio econômico e social para as pessoas, além de instrumento crucial de solidariedade.

“As famílias proporcionam identidade, amor, cuidado, alimento e desenvolvimento para os seus membros e formam o núcleo de muitas redes sociais”.

O relatório, intitulado “Garantir o Bem-Estar das Famílias”, reconhece ainda que a pobreza está aumentando nas famílias com filhos em quase todos os países membros da OCDE.

Os pais também têm dificuldades para combinar o trabalho com os compromissos familiares. O relatório pede que os governos adotem políticas de apoio às famílias, dando assistência e ajuda econômica mediante iniciativas como mais flexibilidade laboral para os pais. Segundo a OCDE, o gasto público médio em auxílios familiares representa pouco mais que 2,2% do PIB nesse grupo de países.

Uma das áreas em que poderia ser feito mais é a do incentivo à natalidade. Muitas famílias querem mais filhos, aponta o relatório, e em vários países as pessoas têm menos filhos do que gostariam.

As taxas de natalidade dos países da OCDE caíram significativamente nas últimas décadas, chegando hoje a 1,7 filhos por mulher.

Países com nível mais alto de fertilidade dão mais apoio aos nascimentos, tanto através de pagamentos em dinheiro quanto por meio de serviços para as famílias com filhos pequenos. As políticas de trabalho de tempo parcial para as mães também ajudam as famílias a harmonizar com mais eficácia o emprego e o cuidado dos filhos.

Apoiar as famílias não traz resultados bons somente para os pais. “O bem-estar das crianças está ligado ao da família. Quando as famílias prosperam, as crianças prosperam”.

Pesquisa no Reino Unido

Um estudo recente no Reino Unido ressalta a importância da vida familiar. Foram publicados em fevereiro os resultados de uma pesquisa de 2009, feita em 40.000 domicílios pelo Institute of Social and Economic Research da Universidade de Essex.

O estudo abrange uma gama ampla de assuntos, mas um dos capítulos se concentra na família. Entre os resultados, os seguintes destaques:

- Casar torna os casais notavelmente mais felizes do que apenas morar juntos.

- A satisfação dos jovens com sua situação familiar é claramente ligada à qualidade das relações dos seus pais. Nas famílias em que a mãe não é feliz no relacionamento, só 55% dos jovens se dizem "completamente satisfeitos" com sua situação familiar, em contraste com 73% dos jovens cujas mães são "muito felizes" no relacionamento.

- Filhos de pais solteiros são menos propensos a se considerar plenamente felizes com a própria situação familiar.

- Crianças que não discutem com nenhum dos pais mais de uma vez por semana têm um nível de felicidade maior do que aquelas que têm discussões frequentes. A pesquisa também descobriu que a felicidade das crianças melhora quando elas conversam frequentemente sobre temas importantes com os pais.

- Também é importante jantar em família. As crianças que jantam com a família pelo menos três vezes por semana são mais propensas a se considerar plenamente felizes do que aquelas que vivem essa experiência menos de três vezes por semana.

Qualidade

Outro estudo recente, feito pela organização Child Trends e publicado nos Estados Unidos em 8 de abril, examina a influência exercida nas crianças pela qualidade do relacionamento de seus pais.

Com o título “Qualidade da Relação dos Pais e Resultados dos Filhos por Subgrupos”, o estudo analisa as respostas de mais de 64.000 pais com filhos de 6 a 17 anos.

A qualidade da relação dos pais é “associada de modo contínuo e positivo a uma série de resultados da criança e da família”. Esses resultados incluem problemas de comportamento, rendimento escolar e comunicação pais-filhos.

Segundo o estudo, as pesquisas dos últimos anos sugerem que as relações de mais qualidade dos pais tendem a propiciar, nos filhos, atitudes mais positivas para com o casamento, o que torna mais provável que eles próprios venham a ter casamentos de boa qualidade.

Elizabeth Marquardt, diretora do site FamilyScholars.org e autora de um livro sobre os efeitos do divórcio nos filhos, lamenta, a respeito deste estudo, a omissão quanto à influência do estado marital nas crianças.

Marquardt afirma que o aprofundamento das tabelas e das estatísticas sobre o tipo de relação familiar proporciona uma interpretação mais adequada dos resultados. Quando detalha o tipo de família, a enquete mostra que os enteados têm o dobro de probabilidade de apresentar problemas de comportamento em comparação com as crianças que moram com seus pais casados. Os problemas aumentam para as crianças que moram com casais amasiados: eles têm quase três vezes mais probabilidade de apresentar problemas de comportamento.

As diferenças de situação marital dos pais repercutem ainda em outros parâmetros, como as relações sociais e o comportamento escolar dos filhos.

Marquardt menciona também que os resultados do estudo mostram que a qualidade da relação entre os adultos depende do fato de estarem casados ou não. A maior estabilidade e durabilidade de um casal casado são de grande ajuda para os filhos.

O casamento é bom

Mesmo não sendo nova a notícia de que o casamento é bom tanto para os casais como para os filhos, ela continua sendo confirmada pelas pesquisas. No início do ano, o doutor John Gallacher e David Gallacher, da Faculdade de Medicina da Universidade de Cardiff, publicaram em artigo no BMJ Student.

Uma reportagem publicada no dia 28 de janeiro pelo jornal Independent analisava, partindo dos dados dos pesquisadores, se o casamento é bom para a saúde.

“A conclusão é que, medicamente falando, o grupo mais longevo é o dos casados”, comentou o Dr. Gallacher.

Seu trabalho fazia referência a um estudo que envolvia milhões de pessoas em sete países europeus. Mostrava que, em média, os casais casados vivem em média 10% a 15% mais.

Quando se trata das crianças, Kay S. Hymowitz, em um artigo publicado no Los Angeles Times no dia 11 de novembro, afirma que as relações instáveis são mais prejudiciais para as crianças do que a pobreza.

Hymowitz se baseava no material publicado na edição de outono da revista Future of Children. Os artigos da revista eram a conclusão de um estudo sobre 5.000 crianças nascidas em áreas urbanas, entre populações de minorias.

O estudo acompanhou crianças que nasceram no fim dos anos noventa. Ao nascer, a metade dos casais vivia junto, sem estar casado, ainda que declarasse a intenção de casar. No entanto, cinco anos depois, só 15% desses casais tinham se casado. 60% tinham rompido.

Muitas das famílias desfeitas tinham problemas econômicos, e os filhos tinham pouco contato com seu pai biológico.

O estudo mostra que as crianças com mães solteiras tinham mais problemas de comportamento do que aquelas com o pai e a mãe casados. Os problemas pioram quando há rupturas e novas relações.

Os governos responderão ao apelo da OCDE pelo aumento do apoio às famílias? O custo de não fazer isso é muito alto.

- Pe. John Flynn
Reproduzido via Amai-vos

Culto de aniversário da Comunidade Betel


Convidamos todos os nossos amigos a celebrar junto aos nossos irmãos da Betel seus 5 anos de aniversário!

Orgulho Mimimi


Nosso querido Tony Goes nos revelou este vídeo profético, postado no You Tube por um rapaz branco e hétero em 26/07/11, ou seja, antes do "Dia do Orgulho Hétero" ser aprovado pelos vereadores paulistanos.

Em seu post, o Tony faz uma bela análise da questão e conclui:

Algum hétero tem vergonha de sua sexualidade? Teve algum dia que reprimir ou esconder os próprios desejos? Teve que contar para os pais que gosta do sexo oposto? Correu o risco de ser expulso do colégio ou demitido do emprego? Foi agredido na rua por ser hétero? Foi condenado ao fogo do inferno por padres e pastores? Ora, francamente. A parada gay não comemora “a delícia de dar o cu”, como me respondeu um imbecil no Twitter (fazemos isto em outros lugares). Ela celebra, isso sim, a não-vergonha de ser homossexual. 
Então vamos dar nome aos bois. O tal “Dia do Orgulho Hétero” é, sim, uma reação à visibilidade dos gays na sociedade, e à conquista de alguns direitos (e não “privilégios”, como insistem alguns boçais). Por mais que jurem que não, quem aprovou o projeto, quem o endossa na internet, quem for desfilar na Paulista, só está se mostrando preconceituoso, atrasado e ignorante. E, sim, homofóbico - aquela palavrinha que hoje em dia ninguém quer ser. Que muita gente é - escolhe ser - mas não assume. Tem vergonha. Então é o Dia da Vergonha Homofóbica. Isto sim, é vergonhoso. Que nojo.

Perdoai-os, Senhor...

O desafio da diferença: o diálogo como única forma de compartilhar a fé


Como uma árvore, a Igreja precisa de uma “interação dinâmica” com seu meio ambiente: a chuva, o sol, o vento e até o pássaro ocasional. Senão, “encerrada em si mesma, ela morreria”. Por isso, a fé cristã precisa de “uma cultura que nos capacite a debater com a sociedade, em vez de ficarmos na defensiva”.

Para Timothy Radcliffe, teólogo e frei dominicano, único inglês a ser eleito para o superior geral de sua ordem desde sua fundação, em 1216, a Igreja tem uma longa tradição de lidar com a diferença, como demonstram os quatro Evangelhos e as demais tradições teológicas da vida católica. Porém, hoje, além de adotar a “tolerância contemporânea”, precisamos oferecer mais, “um envolvimento com as outras pessoas que leve a sério o que elas dizem, para dialogar com elas na crença de que juntos podemos nos aproximar mais da verdade”, afirma, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.

E esse diálogo – considerado por ele como a única forma de pregar, como demonstrou Jesus, que “se tornou humano na forma de um homem do diálogo” – também se refere a questões internas da Igreja (como a ordenação de homens casados, “uma bênção”, e do celibato, “exigente, mas belo, se vivido com generosidade”), com outros credos (“se eu dialogo com um muçulmano, espero que ambos sejamos convertidos”) e com relação ao mundo (“o tempo está pronto para que a Igreja ofereça uma nova visão moral”) .

Nascido na Inglaterra, Timothy Radcliffe é teólogo e frei dominicano. Em 1992, foi eleito Mestre Geral da Ordem dos Pregadores [Dominicanos]. Antes disso, havia sido capelão do Imperial College London, prior provincial da Inglaterra e presidente da Conferência dos Superiores Religiosos de Inglaterra e Gales, tendo lecionado Sagrada Escritura na Universidade de Oxford. Em 2001, após deixar o cargo de mestre geral da ordem, voltou a lecionar na universidade.

Atualmente, é membro da comunidade dominicana de Blackfriars, Oxford, na Inglaterra. Presidente do International Young Leaders Network, Racdliffe foi um dos fundadores do Las Casas Institute, que aborda questões referentes à ética, política e justiça social, ambos desenvolvidos na Universidade de Oxford.

Em 2007, seu livro “What is the point of being a Christian?” [Qual é o sentido de ser cristão?] (Ed. Burns & Oates, 2005) recebeu o prêmio Michael Ramsey de Escritos Teológicos, criado pelo primaz da Igreja Anglicana e arcebispo de Canterbury, Dr. Rowan Williams, para encorajar as obras teológicas mais promissoras. Radcliffe também é autor de diversos livros sobre espiritualidade, como “”I Call You Friends” [Chamo-lhes amigos] (Ed. Continuum, 2001), “Seven Last Words” [As últimas sete palavras] (Ed. Burns & Oates, 2004) e “Why Go to Church? The Drama of the Eucharist” [Por que ir à Igreja? O drama da Eucaristia] (Ed. Continuum, 2008).

Confira a entrevista, reproduzida via IHU On-line.


Qual a sua opinião sobre os rumos da Igreja na primeira década do século XXI, sob o papado de Bento XVI?

Os papas deveriam se concentrar em fazer o que melhor sabem fazer. O Papa Bento XVI é um professor, e é isso que ele oferece muito bem à Igreja. Muitas pessoas esperavam que ele se preocupasse sobretudo com a disciplina e o combate à modernidade, por causa de sua reputação na época em que ele era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Mas ele está determinado a escapar dessa imagem de disciplinador, que detestava, e, assim, suas encíclicas vêm tentando nos levar de volta aos aspectos essenciais de nossa fé, começando com o amor. Como acadêmico, ele gosta do debate e queria que seu livro sobre Jesus de Nazaré provocasse discussão. Essa é possivelmente a primeira vez que um Papa tenha escrito buscando uma reação intelectual ativa de outros teólogos. Um grupo de teólogos notre-americanos e britânicos aceitou o desafio e ofereceu uma resposta que é positiva e crítica. Portanto, todo esse aspecto de seu papado é muito positivo.

Entretanto, tem havido dificuldades em sua comunicação com a mídia, como, por exemplo, a revogação da excomunhão do bispo lefebvriano que parecia negar o Holocausto, as observações do Papa a jornalistas sobre preservativos em sua viagem à África etc. Essas coisas provocaram alvoroço, e o Vaticano parece não ter condições ou disposição para se relacionar com a mídia de forma profissional. Isso talvez está ligado às profundas divisões existentes dentro do Vaticano, que estão enfraquecendo seu papel de serviço à Igreja universal.

O cardeal Basil Hume percebeu claramente que necessitamos de uma reforma do governo da Igreja, em que o Vaticano sirva ao seu governo por meio do Papa e dos bispos, em vez de os bispos serem muitas vezes vistos como servos do Vaticano. Este é um desafio central, e não se poderia esperar que o atual Papa, com a idade que tem e não obstante todos os seus dons e sua inteligência, o empreendesse.

Questões éticas em torno da vida e da morte (como os casos de Terry Schiavo e Eluana Englaro) e questões culturais (como os crucifixos em salas de aula na Itália e na Espanha) têm suscitado uma reação do Vaticano. Isso é a demonstração de um certo conservadorismo nesses debates por parte da Igreja ou é apenas uma tentativa de normatização de uma instituição histórica? Essa é uma luta da Igreja para defender sua identidade em uma sociedade plural?

Uma fé cristã precisa de uma cultura cristã que a sustente. A fé em Cristo significa que veremos o mundo de uma forma diferente das pessoas que estão enredadas no mundo do mercado e na cultura contemporânea do consumismo. Veremos o mundo em termos de bênçãos, gratidão e indícios de transcendência. Essa percepção da realidade precisa ser sustentada por uma cultura, que está necessariamente em tensão com a cultura secular global de nosso planeta. A tentação para os cristãos é tentar sustentar essa cultura simplesmente lutando contra a modernidade e seus pressupostos. Isso poderia levar a Igreja a um gueto que estaria muito distante da hospitalidade aberta de Jesus. Precisamos de uma cultura cristã que, ao mesmo tempo em que tenha autoconfiança, também esteja aberta para ser alimentada por nossos contemporâneos, independentemente de eles crerem ou não. Em outras palavras: precisamos de uma cultura que nos capacite a debater com a sociedade, em vez de ficarmos na defensiva. A imagem que gosto de usar neste sentido é a de uma árvore, que é uma imagem bíblica tradicional. É claro que a árvore é ela mesma, mas só pode florescer se tiver uma interação dinâmica com seu meio ambiente – a chuva, o sol, o vento e até o pássaro que pousa nos seus galhos. Encerrada em si mesma, ela morreria.

Portanto, esses debates a respeito de várias questões culturais são formas pelas quais estamos negociando que espécie de interação temos com a sociedade. Às vezes, a Igreja é tentada a ficar nervosa e defensiva demais, mas precisamos nos envolver mais positivamente com as pessoas mais criativas e imaginativas de nossa época. Em vez dessas discordâncias serem conflitos de poder, elas requerem um envolvimento inteligente com nossa sociedade, suas esperanças e seus temores.

Como o senhor analisa as recentes negociações da Igreja com os lefebvrianos, os anglicanos conservadores e os ortodoxos? O que isso indica para o futuro do ecumenismo no século XXI?

O Papa tem uma percepção profunda da necessidade de reunir os cristãos em unidade. A unidade cristã é um aspecto necessário e profundo do chamado que Cristo nos dirige. Depois da ressurreição, os discípulos dispersos foram reunidos, e, assim, a unidade visível em Cristo é uma parte intrínseca da maneira como somos o Corpo de Cristo. Assim, a cura da divisão precisa ser uma prioridade, e ela está por trás de muitas das iniciativas do Papa. Está claro que ele fez muito progresso na cura da mais antiga das divisões, que é com os ortodoxos. Eles o respeitam como um homem que tem uma visão teológica profunda, arraigada no evangelho e nos mesmos teólogos antigos do Oriente que eles também reverenciam.

A iniciativa do Papa de ir ao encontro dos anglicanos que estão descontentes com mudanças recentes em sua Igreja também faz parte desse desejo de curar as feridas do passado. É claro que ela também é uma iniciativa arriscada na medida em que poderia, ao mesmo tempo, debilitar a crescente amizade entre as Igrejas Católica e Anglicana. Penso que o Papa tentou manter um equilíbrio oferecendo um lugar em nossa Igreja a esses anglicanos descontentes e, ao mesmo tempo, dando ao arcebispo de Canterbury [Rowan Williams] uma cruz episcopal, o que é um sinal de respeito e amizade.

Sua iniciativa de ir ao encontro dos anglicanos criou muita ansiedade na Grã-Bretanha. Isso se deve em parte a um medo de que sejamos inundados por anglicanos tradicionalistas que atrapalharão nossa própria evolução na Igreja Católica. É importante entender que muitos dos anglicanos que se tornaram católicos em anos recentes de modo algum são tradicionalistas misóginos mesquinhos. Muitos não são contra a ordenação de mulheres como tal, mas creem que certas decisões só podem ser tomadas pela Igreja universal e que, ao fazer isso sozinha, a Comunhão Anglicana está perdendo todas as possíveis reivindicações de ser membro dessa Igreja universal. Infelizmente, a questão foi mal encaminhada pelo Vaticano, sem uma consulta adequada junto aos bispos católicos ou anglicanos nesse país ou até junto a outras partes do próprio Vaticano.

É claro que o mesmo desejo de curar a divisão e trazer as pessoas de volta para a unidade do corpo de Cristo está presente na iniciativa do Papa de ir ao encontro dos lefebvrianos. Espero que a Igreja mostre a mesma abertura e vá da mesma maneira ao encontro das pessoas que se afastaram da Igreja por causa de opiniões que são mais progressistas!

Outro problema que a Igreja enfrenta é a redução do número de novos padres. Já foram indicadas algumas possíveis soluções, radicais demais para o Vaticano, como a ordenação de homens casados (os chamados “viri probati”), o fim do celibato e a ordenação de mulheres. Como o senhor analisa isso? O celibato é o principal problema?

Não creio que o celibato seja o principal problema. Muitas Igrejas que têm clérigos casados também têm problemas semelhantes. Isso acontece em parte porque, muitas vezes, os jovens percebem os sacerdotes como empresários excessivamente ocupados, com pouco tempo para a vida “real”. Como podemos ser sinais do Deus de vida abundante se estamos correndo para lá e para cá, como se fôssemos os salvadores do mundo? Nós precisamos mostrar que ser sacerdote ou religioso é realmente uma forma de estar vivo, imaginativa, emocional e humanamente vivo!

Creio, entretanto, que precisamos pensar sobre a ordenação de homens casados. Perderíamos muito se o celibato deixasse de fazer parte da vida de nossos sacerdotes. Ela é uma vida que só faz sentido como um sinal do Reino. Ele é exigente, mas belo, se vivido com generosidade. Mas se tivéssemos sacerdotes casados, também ganharíamos muito. Eles trariam sua experiência do casamento e da criação de filhos para nossa pregação, e isso seria uma bênção. Assim, temos de discutir isso como Igreja, e, já que o sacerdote é o servo do povo todo de Deus, precisamos saber o que os leigos pensam e querem. Eles estariam, por exemplo, dispostos a arcar com a considerável despesa adicional de manter uma família no presbitério?

Como a Igreja pode lidar com o mundo contemporâneo em um tempo de crise, “líquido”, incerto?

Um dos desafios com que nos deparamos hoje, mais do que nunca, é nos defrontar com a diferença: diferenças entre culturas, diferenças entre religiões, diferenças entre gerações, diferenças sempre crescentes entre ricos e pobres. Isso só pode ser feito com o diálogo inteligente e a razão caridosa. A Igreja deveria ser capaz de oferecer um modelo disso. Papas recentes, especialmente Bento XVI, acentuaram que nós cremos na razão. Temos uma longa tradição em lidar com a diferença, desde os quatro Evangelhos, até as múltiplas tradições teológicas que fazem parte de nossa vida católica. Assim, deveríamos ter condições de oferecer um bom modelo de envolvimento com a diferença. Para nossa cultura contemporânea, o modelo usual é o da tolerância. Isso é excelente, e é maravilhoso que vivamos numa sociedade que é imensamente mais tolerante. Mas tolerância não basta. A mera tolerância pode ser uma forma de deixar de se envolver com as pessoas e de levar a sério no que elas creem. “Se você quer acreditar que deus é um alienígena do espaço sideral, se você se sente bem assim, não há qualquer problema”. Como Igreja, certamente precisamos adotar a tolerância contemporânea, mas oferecer mais, que é um envolvimento com as outras pessoas que leve suficientemente a sério o que elas dizem, para dialogar com elas na crença de que juntos podemos nos aproximar mais da verdade. Isso quer dizer que precisamos descobrir na Igreja não apenas como crer na razão teoricamente, mas nos envolver num diálogo mais caridoso e inteligente.

É possível praticar o diálogo inter-religioso sem que as Igrejas percam sua identidade? Nesse sentido, quais são os desafios para o futuro da Igreja Católica?

O diálogo é a única forma de compartilhar nossa fé. Nós cremos na Trindade, a conversa eterna e amorosa do Pai e do Filho que é o Espírito Santo. Essa é a razão pela qual Deus se tornou humano na forma de um homem do diálogo. Todo o Evangelho de João consiste numa série de conversas: Jesus conversa com Nicodemos à noite ; ele conversa com a mulher junto ao poço , para escândalo dos discípulos que se perguntavam por que ele haveria de falar com uma mulher de má reputação; conversa com o cego de nascença, ao passo que todas as outras pessoas só falam sobre ele. Toda a Última Ceia é uma longa conversa . Ele conversa com Pilatos até que este põe fim à conversa dizendo: “O que é a verdade?” . E na manhã de Páscoa, o diálogo ressuscita dentre os mortos quando ele dirige a palavra a Maria Madalena no jardim: “Maria”; “Rabunni!” .

Essa é uma doutrina que só podemos compartilhar com outras pessoas numa conversa. Não é coincidência que São Domingos tenha fundado a Ordem dos Pregadores [Dominicanos] num bar! Ele conversou a noite toda com o dono da taverna, e, como disse um de meus irmãos, ele não pode ter passado a noite inteira dizendo: “Você está errado, você está errado!”.

Há um certo nervosismo em relação a essa equiparação da pregação com o diálogo. No Sínodo dos Bispos Asiáticos em Roma, os “lineamenta” [“estado da arte” sobre determinado tema] insistiram inicialmente que precisamos pregar o Evangelho. Se acentuássemos o diálogo demasiadamente, isso poderia levar ao relativismo, como se uma religião fosse tão válida quanto a outra. Mas isso é uma dicotomia errônea. A única forma de proclamar a boa nova do Deus Trino é através da conversa. O meio é a mensagem. Agir de outra forma seria como espancar as pessoas para que elas se tornassem pacifistas. O diálogo não é uma alternativa à pregação. Ele é a única forma de pregar. Isso é algo que o Papa Bento XVI entende bem. Em sua última encíclica, “Caritas in Veritate”, ele afirma: “Com efeito, a verdade é 'lógos' que cria 'diá-logos' e, consequentemente, comunicação e comunhão.”

Toda conversa verdadeira leva à conversão, mas para todo mundo! Se eu dialogo com um muçulmano, espero que ambos sejamos convertidos. Que forma essa conversão vai assumir é algo que está nas mãos de Deus.

A encíclica “Caritas in Veritate” faz referência indiretamente ao humanismo cristão, como um critério orientador de ação moral. Em sua opinião, como a Igreja pode ser fonte de ensinamentos morais em um mundo secularizado?

Em “Secular Age”, Charles Taylor demonstrou brilhantemente como o Iluminismo esteve na raiz do que ele chama de “cultura do controle”. Vemos a ascensão de monarcas absolutos, o desenvolvimento do poder do Estado centralizado, a escravidão, que é o maior exercício de controle na história da humanidade, o imperialismo. Tudo isso estava ao menos em parte arraigado numa compreensão do mundo como um mecanismo que pode ser ajustado e manipulado. Depois de deixarmos de crer no governo providencial do mundo por parte de Deus, nós tínhamos de assumir as coisas e dirigir tudo por conta própria! Isso é ateísmo prático. E essa mesma cultura de controle acabou infectando a Igreja também, que, em parte tentando manter sua liberdade face ao poder crescente do Estado, tornou-se cada vez mais parecida com aquilo a que se opunha. Tudo isso levou a uma compreensão da moralidade como controle de nossas ações. Tínhamos de nos submeter à vontade arbitrária do Estado e de Deus. Isso é a moralidade como obediência a coações externas. Isso não pode sustentar uma sociedade humana. Assim, o tempo está pronto para que a Igreja ofereça uma nova visão moral.

Os Dez Mandamentos eram um convite para estabelecer uma relação pessoal com Deus. “Eu sou o Senhor teu Deus que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses diante de mim” (Êxodo 20,2s.). Os Dez Mandamentos não são a vontade arbitrária de Deus. Eles significam compartilhar da amizade e liberdade de Deus. Eles foram dados a Moisés, com quem Deus falava como se fala com um amigo. São um aprendizado na liberdade da amizade.

O mesmo ocorre no caso de Jesus. Ele revela seu novo mandamento aos discípulos na noite anterior à sua morte, no exato momento em que os chamou de amigos. “[...] vos chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai vos dei a conhecer” (João 15,15). Na Bíblia, os mandamentos não são a submissão da vontade, mas o estabelecimento de amizade com Deus e uns com os outros,

Creio que o recente renascimento do interesse na ética das virtudes é muito empolgante. Mas isso tem a ver com se tornar alguém que é verdadeiramente um agente moral, alguém capaz de veracidade e justiça, alguém que tem maturidade moral e, em última análise, encontra a felicidade na amizade com Deus. Se pudermos compartilhar essa visão moral com nossa sociedade, as pessoas descobrirão que não estamos colocando fardos pesados sobre seus ombros, mas oferecendo amizade umas com as outras e com Deus. A amizade pode ser exigente, mas não é um fardo.

(Reportagem de Moisés Sbardelotto)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Tolerância?


Tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferente, ainda é muito pouco.
Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro.


- José Saramago
(via X1 Tantas Notícias)

Tuitadas de hoje

Ilustração: Frank Chimero

E os Smurfs negros, conhecem? http://bit.ly/rnUM3y

Enfim um ponto de vista positivo: "Pesquisa aponta avanço na aceitação da sociedade aos direitos à diversidade sexual" http://bit.ly/mSl4Si

Visita virtual à Capela Sistina. Tenha paciência para carregar, vale MUITO a pena. http://bit.ly/p9dT3L

Vale pelo folclore: "Não tenho preconceito! Mas... (Juro! Tenho até amigos que são...!)" http://j.mp/j6nCJ7

RT @ABIA_HSH Para você que é soro positivo ou tem um(a) namorado(a) soro positivo, é IMPORTANTÍSSIMO conferir este relatório! hsh.abiaids.org.br/HSH2/queromais

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Excelente! RT @EduAmazonia: INTOLERÂNCIA SEXUAL x INTOLERÂNCIA RELIGIOSA http://j.mp/lH5FOP

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Petrobras apoia Parada LGBT e reconhece isonomia de direito de casais homossexuais http://bit.ly/j8QMjF

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RT @EduAmazonia: "Dentro da noite escura, na terra dura do povo meu, nasce uma luz radiante, no peito errante, já amanheceu!" #bomdia

Excelente: A história da homossexualidade http://j.mp/n0EDTL

Sozinhos chegamos rápido, juntos chegamos mais longe! (Provérbio Chinês) RT@alisongaspar

A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar é aproximar-se de Deus. (Pitágoras) RT@MarcosGrutzmann

RT @acarlosbiten: Preparação para o Magis 2011 http://bit.ly/gO6Ze7

RT @_ihu: Dia de Hiroshima: bispo japonês pede discernimento sobre energia nuclear http://bit.ly/pX6Tif

RT @padrecidoSP: Hoje, primeira sexta-feira, contemplamos o Coração de Jesus, e pedimos a ele um coração misericordioso.

RT @andretrig: "Quando os ventos da mudança sopram, alguns constroem abrigos, outros, moinhos" (Claus Möller) #bomdia

Sobre os direitos civis dos LGBTTs http://bit.ly/mVCn1D

RT @andretrig: Um olhar muito especial de Jerusalém do nosso correspondente Carlos de Lannoy http://t.co/lGNPAwk

Confirmado: existem mesmo diferentes tamanhos de cérebro entre humanos com características distintas. #lol http://twitpic.com/619494

Gays: #eurespeito, e você? Dois depoimentos http://bit.ly/nCGOum RT@NossosTons

Abaixo-assinado online: Diga a Rafinha Bastos que sexo e estupro são diferentes e que estuprador merece cadeia http://chn.ge/rsAdha

Ao reivindicar um direito que nunca esteve ameaçado, o que se visa é bombardear direitos inexistentes ou em gestação http://bit.ly/oPb4uf

A base do racismo não é a negação da diferença, mas "o temor da semelhança" http://bit.ly/qkIN65 Vale, talvez, para toda discriminação, não?

RT @homofobiaNAO: Orgulho de Lavar Roupa. http://t.co/iEfWtBV #homofobiaNAO

A sociedade não está preparada para ver um beijo gay, mas está preparada para ver um gay morrer a pontapés em horário nobre. (Romulo Yaron)

Apartar religião e política não é vital só para o Estado laico. Religião envenenada de política perde a alma e morre. http://twitpic.com/61ckm7

"Negro fede", "deficiente físico é nojento", "veado tem que morrer". Qual a diferença entre as 3 frases? A terceira não é crime. :-(

Virá daí tanta homofobia? RT @reginanavarro: Os homens estão exaustos de perseguirem o ideal masculino da sociedade patriarcal - força, sucesso, poder e nunca falhar.

Absolutamente imperdível: "Eu sou uma travesti", entrevista com o cartunista Laerte. Pra guardar e ler com calma. http://bit.ly/qY9Q0j

RT @festimada êee Saramago: "a gente não precisa amar toda a humanidade. respeitar está de bom tamanho!" simples assim!

RT @Wedge_issue Parabéns pela coragem de abordar o tema, @Sen_Cristovam RT @mundalternativo Cristovam Buarque condena bulying homofóbico http://t.co/8Lbtgj6

Duelo

Milk Maid: Kerstin zu Pan

O que é este horror ao semelhante que nos torna a todos alheios uns aos outros? Mas, se não nos aproximarmos, se não olharmos ao menos com olhos pacíficos as diferenças, nunca vamos vislumbrar, para além delas, as semelhanças...


Com amor,


Cris

Gosto de caminhar no meio da multidão. Num cruzamento da avenida Paulista, à uma hora da tarde, sinto-me anônimo e protegido como um peixe no cardume. Nada me distingue, sou só mais um, sem nome, credo ou classe social.

Sensação completamente diferente de quando, andando por uma calçada deserta do bairro, vejo despontar na esquina oposta um outro pedestre. Se entre a turba me diluo, tranquilo, diante dessa presença que se aproxima me concentro, aflito. Agora sou apenas eu, ele é o Outro, com maiúscula, é todo mundo, é a teletela do Big Brother (de Orwell, não do Bial), espelho-janela das salas de interrogatório da polícia, em filme americano.

Que pensarão de mim esses dois olhos inquisidores? Que juízo farão de meus passos, das minhas roupas, da expressão que levo em minha face -ainda mais agora, que tropeço nessas dúvidas? Subitamente, os braços me sobram, as mãos quase roçam o chão, como as orelhas de um basset hound.

Questão prática: devo encarar esse ser que vem em minha direção ou ignorá-lo por completo? Não, não, ignorar seria suspeito -suspeito de que, meu Deus? Não sei, mas talvez ele saiba, ou então descubra: melhor é dar uma olhada rápida, ainda de longe, como quem não quer nada - e, por acaso, eu quero alguma coisa?! -, depois fixar as pupilas num ângulo de 45 entre o horizonte e o chão, inclinação cívica e recatada, como bem sabem os passageiros do ônibus e do metrô, os pedestres bem treinados e as ripas das persianas.

Enquanto levanto os olhos para checar o concidadão, torço para encontrar alguém muito diferente de mim: uma platinada perua, um porteiro de uniforme cáqui, um senhor de bengala, uma estudante mascando chicletes. Afinal, para a perua eu serei apenas um homem pobre. Para o porteiro, um homem rico. Para o velho, um homem novo. Para a menina, um homem velho. Não haverá disputa nenhuma entre nós e, mesmo que nos encaremos, a distância de nossos mundos impedirá um julgamento preciso.

Já ao passar por um semelhante, um sujeito da mesma idade e faixa socioeconômico-cultural, será impossível fugir da herança de milênios de competição por comida, mulheres, poder. Ainda que só por um segundo, nos mediremos, perguntando-nos: esse que vem aí é melhor ou pior do que eu? Se fôssemos gorilas, bateríamos no peito, mandando nossos gritos para a selva. Se fôssemos alces, chocaríamos nossos chifres, até sangrarem. Fôssemos ursos, nos estapearíamos, até que um dos dois desistisse e voltasse para o bosque, enquanto o outro buscaria, orgulhoso, o olhar de uma fêmea.

Ainda bem que não sou gorila, nem alce, nem urso. Sou tímido e covarde e só ia levar bordoada num documentário do National Geografic Channel. Ainda bem que, ao levantar os olhos, percebo que o pedestre vindo em minha direção é o seu Wilson, dono da banca na rua de baixo. Cumprimentamo-nos com um meneio de cabeça, amistosos e desinteressados, como uma zebra e um flamingo que bebem água de um mesmo laguinho, na savana. Então ele passa por mim e eu sigo em frente, levando minhas neuroses para longe dali.

- Antonio Prata
antonioprata.folha@uol.com.br
Reproduzido via Conteúdo Livre

Dodóizinha, eu?! Ressignificar para derrotar

Ilustração: Laura Wesson

Homossexualidade ou homossexualismo? Esta discussão sempre recai sobre o segundo sufixo designar de doença. Bom, sendo doença dá pra ver que não é contagiosa, afinal, lá estão papai e mamãe ainda heteros, depois de décadas de convivência. E o que dizer dos meus irmãos: cama, roupa, brinquedos, escola, tudo ali, bem partilhado e embolado e nada: o irmão casado com uma mulher, a irmã casada com um homem. O vírus do homossexualismo não os pegou. A única dodóizinha lá de casa sou eu. É claro que não dá para avaliar o restante da família ou a cada 10, no máximo, vamos encontrar outro infectado! Claro que é brincadeira ou a previdência teria quebrado de tantos aposentados por doença e incontáveis empresas teriam falido com tantos atestados! “Hoje não posso ir, ainda estou com homossexualismo. Sim, sim, certeza absoluta, esta madrugada mesmo um forte sintoma se manifestou’.

Nessa discussão sobre o ismo, alguém sempre explica que o dito cujo também serve para designar outras coisas, por isso poderia se falar homossexualismo. A questão é que quem faz uso do termo homossexualismo, ainda hoje, é homofóbico de carteirinha ou é completamente alheio a estas questões. Sendo um desavisado, aí sim, vale à pena explicar a luta para tirar a pecha de doença de todo um grupo social, através da palavra. Sendo um homofóbico, este tem o propósito de desqualificar e agredir, além de desviar o foco da discussão - perdida desde sempre, se a tentativa de diálogo se dá com uma pedra. Portanto, vamos lutar para que o ismo não manche nossa comunidade, mas vamos também superar o incômodo que esta praga nos causa a cada vez que é mencionada.

A palavra homossexual foi cunhada como protesto à palavra sodomita e heterossexual era quem tinha “atração mórbida pelo sexo oposto”, tudo ali pelo final do século XIX, depois logo tudo se inverte e homossexual é o desviante e o normal é o hetero. Duvida? Google it! O que importa é ver que as palavras vão sendo ressignificadas. Hoje, a oposição entre os sufixos dade ou ismo pode dizer respeito também ao que é individual ou coletivo, assim, é correto afirmar que homossexualidade diz respeito ao indivíduo e homossexualismo ao grupo. Portanto, heterossexualismo neles!

A idéia é ressignificar para derrotar. Veja a palavra sapatão, o que até então era um termo agressivo, pejorativo, usado como xingamento para agredir mulheres ditas masculinas, perdeu sua força e de forma muito simples: as próprias começaram a fazer uso do termo, tomaram para si “o poder da palavra”. Esvaziaram-na do sentido opressor para lhe ressignificar de forma transgressora. Passamos de vítimas a agentes. Não novos algozes, mas agentes. E passar de uma posição a outra é uma grande subversão. Cada um de nós deveria acatar esta ação como exercício diário. Ah, sapatão! Ah, bicha! Ah, mona! É isso mesmo, se alguma palavra lhe incomoda, vá em frente, tome-a para você, se aproprie! Veja como ela deixa de lhe ferir rapidamente. Digo isso com toda propriedade, pois até um tempo atrás, meus cabelos – todos! – quase caiam ao ouvir sapatão dirigido a mim. Sapatão, eu? Sim, eu, Ivone Pita, sapatão, muito prazer. E se for para o bem geral da nação LGBT, diga ao povo que minha individual homossexualidade, de hoje em diante, passa a servir ao nosso coletivo homossexualismo.

- Ivone Pita
Publicado originalmente no Gay Um

Furo MTV - Dia do Orgulho Heterossexual

Definitivamente é o que penso sobre o dia do Orgulho Hetero.

Dispenso qualquer tentativa de formar um discurso a respeito.
Há opiniões muito mais significantes que a minha sobre o assunto,
a quem interessar tivemos 2 posts ótimos:

O Dia da Vergonha Política

Ufanismo hétero

De resto fico com a irônica opinião do Furo MTV. Divertidíssimo, confiram:

Sobre cismas e divisões

Foto: aqui

Agora, em Jesus Cristo, vós que outrora estáveis longe, vos tornastes próximos, pelo sangue de Cristo. Ele, de fato, é a nossa paz: do que era dividido, ele fez uma unidade. Em sua carne ele destruiu o muro de separação: a inimizade. Ele aboliu a Lei com seus mandamentos e decretos. Ele quis, assim, a partir do judeu e do pagão, criar em si um só homem novo, estabelecendo a paz. Quis reconciliá-los com Deus, ambos em um só corpo, por meio da cruz; assim ele destruiu em si mesmo as inimizades.

Ef 2,13-16

Há um cisma na Igreja entre a cúpula hierárquica e as bases


“Diagnóstico: doença terminal. A Igreja ainda tem salvação?” Esta é a pergunta que se coloca em seu último livro, publicado na Alemanha pela Editora Piper Verlag, o teólogo crítico e especialista em ética mundial Hans Küng. “Na situação atual não posso guardar silêncio”, disse Hans Küng. Na sua opinião, a Igreja católica se encontra imersa em uma grave crise. Crise que é necessário descrever com objetividade e sem preconceitos antes de aplicar a terapia adequada. Crise que se plasma, entre outras coisas, em censura, absolutismo e estruturas autoritárias.

A entrevista é de Ralf Caspary e está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 30-07-2011. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista, aqui reproduzida via IHU.


Senhor Küng, me chamou a atenção que seu livro está impregnado de um certo alarmismo. Não podia mais ficar calado, devia escrever este livro neste momento concreto da história. Metáforas como “doença”, “recaída”, “aumento da febre” são abundantes no seu livro. A que se deve este alarmismo?

Alarma, sim, mas não alarmismo. Se me permite, explico imediatamente. Vou lhe dizer com toda a sinceridade que nestes momentos, apenas alguns meses depois da sua publicação, vejo as coisas inclusive mais pretas que a cor da capa do meu livro. Temos uma iniciativa de diálogo dos bispos que ficou esquecida. Creio que o sociólogo da religião Michael Ebertz (Friburgo) tem razão quando fala de uma segunda crise na Igreja católica, depois da crise dos crimes sexuais. O episcopado se mostra obviamente incapaz de nos comunicar o que realmente aconteceu, para que se possa encaminhar devidamente o diálogo. Seguimos sem saber como proceder para iniciar este diálogo, os bispos não se colocam de acordo e querem excluir determinados temas. Recentemente assistimos a uma série de acontecimentos muito desagradáveis que justificam tanto a minha análise quanto o meu alarma.

Você chegou a dizer que estamos na segunda fase da crise. Falou da falta de disposição para dialogar. Esclareça-nos, por favor, este ponto.

Vamos supor que os bispos tenham aprendido que não podem continuar a agir de uma forma tão autoritária como vinham fazendo até agora, que vão escutar o povo. Mas não é bem assim, nem sequer aprenderam isso. Creio que nós somos o povo! As pessoas dizem: nossa paciência está chegando ao fim, queremos participar das decisões, também em nossas paróquias. Queremos escolher os nossos bispos, queremos ver mulheres nos diferentes cargos, queremos que haja agentes de pastoral, homens e mulheres, que sejam ordenados/as sacerdotes. São slogans e demandas que refletem o descontentamento das pessoas. De fato, se produziu um cisma dentro da Igreja entre os que, lá encima, pensam que podem continuar atuando com o estilo de sempre e o povo e uma boa parte do clero liberal.

Que reações seu livro produziu até agora?

Eu o enviei a todos os bispos alemães e até agora as reações foram, quando menos, cordiais. Também o enviei ao Papa Bento com uma carta cortês na qual exponho como, no fundo, minha intenção é ajudar a Igreja, embora tenha uma ideia diferente de como deveríamos proceder. Ele me fez chegar seu agradecimento, o que me parece um gesto positivo. Tenho sumo cuidado em tentar conduzir o debate com objetividade, sem ultrapassar a barreira da ofensa pessoal e sem que a questão derrape para um assunto pessoal.

Que reações provocou entre os leigos?

Em poucas ocasiões recebi tantas cartas de agradecimento pelo livro, apesar de se tratar, de fato, de uma análise algo “deprê” que pode produzir desânimo. Me agradecem muito pelo fato de que afirme que a recuperação é possível. O livro está repleto de propostas concretas. Não posso me queixar das reações, pelo contrário, me anima muito receber quase diariamente cartas de tantas pessoas, muitas vezes de pessoas simples.

Quais são, para você, os principais sintomas desta crise da Igreja católica que diagnostica no livro?

Basicamente que as paróquias estão secando lentamente, em parte por causa da mensagem dogmática que vem reiteradamente prescrita de cima. Naturalmente, temos também o problema dos cargos eclesiais. No livro o ilustro com o exemplo da minha própria comunidade na Suíça. Durante muito tempo tivemos quatro sacerdotes (os “quatro cavaleiros”); hoje não resta nenhum. Continuamos a ter dois aposentados e um diácono. O diácono faz tudo de maneira fenomenal, um alemão, certamente. Não obstante, não pode presidir a eucaristia por não ter sido ordenado sacerdote. E não pode ser ordenado sacerdote porque é casado. É completamente absurdo. Temos que abordar uma série de pontos muito concretos: 1. O celibato deve ser opcional; 2. As mulheres devem ter acesso aos cargos eclesiais; 3. Deve-se permitir que os divorciados participem da eucaristia; 4. Deverão se estabelecer comunidades eucarísticas entre as diferentes confissões sem esperar outros 400 anos.

Estes são alguns pontos para a terapia. Voltemos ao diagnóstico. Como você denominaria a doença que afeta o núcleo da Igreja católica?

A doença é o sistema romano. Foi introduzido pelos Papas da denominada Reforma Gregoriana, em honra a Gregório VII. Foi assim que se introduziu o papismo, o absolutismo papal, segundo o qual uma só pessoa na Igreja tem a última palavra. Isto produziu a cisão da Igreja oriental que não aceitou estas modificações. Dessa época procede o predomínio do clero sobre os leigos. Padecemos um celibato para todo o clero que se introduziu no século XI. Aqui penso que está a origem da doença. Aí surgiu o germe. Tentou-se erradicá-lo com a Reforma, mas em Roma encontrou resistência. Com o Vaticano II se tentou lutar contra tudo isto. Teve um êxito parcial, embora não se permitiu debater nem sobre o celibato nem discutir sobre o papado. Pode-se considerar que o Concílio teve um sucesso pela metade. Neste momento a situação é calamitosa. Em Roma, em vez de ter aprendido algo, como era de se esperar, e ter empreendido o caminho da liberalização, os dois Papas restauracionistas – Wojtyla e Raztinger – fizeram o contrário. Fizeram todo o possível para que o Concílio e a Igreja retrocedam a uma fase pré-conciliar.

Refere-se ao Concílio Vaticano II que tentou produzir uma certa abertura?

Sim, os frutos do Concílio Vaticano II foram excelentes: integrou o paradigma da Reforma na Igreja, incorporou as línguas vernáculas na liturgia, todo o povo participa hoje ativamente da liturgia, se revalorizou o papel dos leigos e o da Igreja oriental. Inclusive houve uma integração dos paradigmas da Ilustração, da Modernidade. Desde então se reconhece a liberdade de culto e os direitos humanos; e temos uma atitude positiva em relação às religiões do mundo e em relação ao mundo secular. Mas estes são precisamente os pontos em que Roma quer retroceder. Roma está organizada para reter o poder.

Se entendi corretamente, nas últimas décadas, na Igreja católica, se produziu uma recaída, um retrocesso, uma forte concentração no sistema de domínio romano. É isto que você critica?

Sim. Isto fica claro nos seguintes pontos: primeiro, foram sendo publicados continuamente documentos sem perguntar o episcopado e sem consultar ninguém previamente. Trata-se de documentos da cúria que destacam a pretensão de estar em posse da verdade, ter o monopólio sobre a verdade da Igreja católica. Em segundo lugar, temos toda a infeliz diretriz relacionada com a moral sexual que foi sendo publicada. Esta é a linha. Em terceiro lugar, temos a política de escolha de pessoas. De forma sistemática, para os postos de bispo e outros cargos da cúria se elegem pessoais exclusivamente fiéis a essa linha. Escrevi um capítulo inteiro sobre os motivos pelos quais os bispos guardam silêncio: porque já foram selecionados, porque previamente se comprometeram, porque na ordenação prestaram juramento ao Papa, porque não podem falar livremente. Por isso escutamos de todos a mesma opinião. Os bispos se encontram em uma situação de grande pressão, por um lado a que chega de cima, por outro, a da comunidade crente.

Portanto, você dirige suas críticas também contra o monopólio do poder e o monopólio da verdade do Papa?

Sim, exatamente.

Essa seria a principal ferida?

Imagino que se tivéssemos tido outro Papa na linha de João XXIII, a instituição de Pedro seria algo magnífico. Poderia ser uma instituição de guia pastoral, que inspira, que une. O papado atual é uma instituição de domínio que divide. O Papa divide a Igreja. Esta é uma tese que não está sendo suficientemente levada a sério. Segundo as últimas pesquisas, 80% dos católicos alemães querem reformas. Os 20% que não as querem são, infelizmente, os que são levados a sério. Alguns bispos sustentam que entre os católicos há dois grupos. Não é correto, não se trata de dois grupos. A maioria quer reformas. É apenas um grupo minoritário, com forte presença na mídia, que é contra as reformas. Eles não representam a Igreja que desejamos ter. Como povo de Deus, queremos uma Igreja na qual nos sentamos na mesma roda, não queremos um pequeno grupo dominante que controle tudo.

Há algo que não entendo bem. Se você critica o Papa atual e o compara com outros Papas mais liberais, então não é um problema da estrutura da Igreja, mas da personalidade do Papa.

Também recai na personalidade do Papa. Joseph Ratzinger procede de um ambiente conservador. Eu também procedo de um ambiente conservador. Isto não é nenhuma vergonha, inclusive se poderia tornar uma vantagem. Mas ele interiorizou este ambiente. Ele viveu principalmente na Alemanha sem conhecer bem o mundo. Depois se mudou para Roma onde viveu em um gueto artificial no qual não se percebe o que acontece no resto do mundo. Ao ler algumas declarações suas, como o decreto que publicou sobre as outras Igrejas sendo ainda cardeal, a gente se pergunta: onde vive este homem realmente, na lua? Agora anunciou uma campanha de evangelização nada convincente. Como se quer evangelizar o mundo com um catecismo que pesa literalmente um quilo? Pretende torturar as pessoas? Além disso, há a questão do Ensino na Igreja. Ele fala expressamente do “ensino do Papa”. Isto, evidentemente, não há pessoa ilustrada que leve a sério. Quem vai admitir a estas alturas que uma pessoa sozinha reclame para si o poder legislativo, executivo e judiciário sobre uma comunidade de mais de um bilhão de pessoas? Em terceiro lugar, está se dando um impulso problemático ao tipo de religiosidade popular tradicional que se quer promover. Assim acontecem essas cenas terríveis na qual um Papa beija o sangue de seu predecessor em seu relicário de prata. Mas, bom, onde estamos? Este é o obscurantismo medieval.

Aprecio o fato de que se indigne quando fala do Papa atual.

Não, não se trata do Papa atual.

Em seu livro o critica com dureza. Fala, por exemplo, de boato e de esbanjamento, de estruturas autoritárias. Se poderia censurar: Küng fala com certo ressentimento?

Não. Creio que continuo tendo a capacidade de poder falar muito bem com o Papa pessoalmente. Continuamos mantendo correspondência e ele sabe que minha preocupação é simplesmente a Igreja; mas que tenho uma concepção diametralmente oposta à dele no que se refere ao caminho a seguir. Interessa-me ressaltar que não chegamos a esta situação pelo Papa Ratzinger, mas em decorrência de uma evolução desde o século XI. Embora Joseph Ratzinger e seu predecessor tenham feito todo o possível para voltar a um paradigma medieval da cristandade.

Sr. Küng, o sistema romano não se fundamenta no Novo Testamento e na História da Igreja?

Não. A própria palavra “hierarquia” não a encontrará no Novo Testamento. Aparece seis vezes a palavra “diaconia” com a famosa frase: “quem quiser ser o primeiro, seja o servo de todos”. Nessa mesma linha temos também a cena do lava-pés. Mas o Papa quer ser senhor entre os senhores. Aparece como um faraó moderno. Se observarmos as cerimônias na Praça São Pedro, uma só pessoa está no centro, ao passo que os bispos se mantêm à distância, como figurantes. Ninguém tem nada a dizer, apenas uma pessoa fala, apenas uma pessoa decide tudo. Esta não é uma Igreja de nosso tempo. E não corresponde absolutamente ao Novo Testamento nem à sua época, onde reinava a fraternidade, onde as mulheres estavam presentes e onde havia uma comunidade carismática, como se vê nas comunidades paulinas.

Todo o contrário do que se pratica hoje. Atualmente, reina uma estrutura medieval que, no princípio, só se encontra nos países árabes. Recorda-nos o comunismo: baseia-se no secretário de um partido único que decide tudo. O resto foi escolhido em função de sua lealdade à linha papal. O mesmo acontece com os bispos. Embora haja cada vez menos crentes que aceitam este sistema autoritário. Nem na Arábia se aceita mais os autocratas. Eu defendo que na Igreja católica os autocratas também não tenham nenhum futuro.

Você disse que a Igreja católica não está à altura da época moderna. Não obstante, se poderia objetar que essa é precisamente sua vantagem. Em que você pensa que deveria se transformar? Em uma empresa moderna em sintonia com os tempos atuais? Nesse caso, não ofereceria nenhuma alternativa.

Não é que eu seja um partidário absoluto da modernização. A Igreja deveria, em primeiro lugar, voltar às suas origens. Trata-se de ver se ainda podemos apelar a Jesus de Nazaré ou não. No meu livro descrevo uma cena: é impensável que se Jesus de Nazaré aparecesse em uma cerimônia do Papa, tivesse lugar. É simplesmente uma manifestação de poder pomposa e imperial, onde todos aplaudem e os senhores deste mundo participam para serem vistos e recolher votos. Essa imagem não tem nada a ver com a Igreja que Jesus queria, ou seja, não tem nada a ver com a comunidade de discípulos de Jesus. Não se trata de modernizar a qualquer preço. Em determinadas circunstâncias, precisamente será preciso oferecer resistência à Modernidade, justamente nos aspectos nos quais é desumana. Escrevi suficientes livros críticos com a Modernidade, por exemplo: “Anständige Wirtchaften” (Uma economia honrada), que trata sobre a falta de moral da economia. O que não pode acontecer é que adotemos como solução a Idade Média, quando deveríamos dar o passo da Modernidade à Pós-modernidade.

Hans Küng apela para Jesus, o Papa apela para Jesus. O que pode fazer um leigo diante destas duas tentativas de legitimação?

Deveria ler a Bíblia, assim se daria conta de onde está Jesus. Quando Ratzinger, na qualidade de teólogo, também como Papa, escreve sobre Jesus – embora realmente não devesse que escrever livros, mas dirigir a Igreja – o que faz sobre o Cristo dogmático que caminha sobre a terra? Não fala de que Jesus contradizia as instituições religiosas de seu tempo, de que no final foi assassinado por aqueles que se consideravam ortodoxos. Pelo contrário, sempre fala do Cristo dos dogmas, da Igreja e da administração.

Voltemos aos bispos. Você mencionou que são todos muito fiéis à linha papal, e que se trata, de fato, de um grupo hermético e estanque. Como se chegou a isto?

É como se o Papa pudesse nomear sozinho todos os bispos. Sobretudo, se comprometem com sua linha. Acontece literalmente como no partido comunista, onde ninguém tem nada a dizer salvo o chefe de Moscou. Por isso, todos dizem a mesma coisa. Se falas individualmente com os bispos, te dizem: “Você tem razão, evidentemente, mas...”.

Se houvesse apenas um bispo na República Federal da Alemanha que, por fim, dissesse como está a situação, que assim não se pode continuar, que é preciso fazer reformas, viriam por cima dele de Roma e do Vaticano, interviriam através do núncio, etc. Também teria contra si o resto dos bispos, em especial a facção de Meisner, que procura exercer o terror psicológico na Conferência Episcopal e, naturalmente, toda a cúria romana. Teria contra si todo esse pequeno grupo de conservadores e suas agências de imprensa, as quais divulgam continuamente notícias. Teria que ser muito forte. Embora pudesse contar, ao menos, com o apoio do povo.

No centro de sua crítica está o sistema romano. Esta questão já foi abordada. Na conversa prévia à entrevista você comentou que preferiria não falar dos casos de abuso sexual. Não obstante, o menciono porque há um ponto que deveríamos esclarecer: estes casos de abusos sexuais fazem, do seu ponto de vista, parte de um problema estrutural? Em sua crítica ao papado você fala justamente de problemas estruturais.

Evidentemente. Sempre houve uma aversão em relação à sexualidade, não apenas na Igreja, mas também na Antiguidade. Mas temos o problema do celibato do clero, cuja origem remonta às normas impostas pelos Papas do século XI. Não quero dizer, em absoluto, que o celibato desemboque necessariamente na homossexualidade ou no abuso sexual. Em absoluto. Mas quando dezenas de milhares de padres reprimem sua sexualidade e, por mais que sejam ótimos párocos, não podem ter esposa nem família, então temos um problema estrutural. Estas condições devem ser mudadas definitivamente. Embora pareça ser um tema sobre o qual não se deve discutir. O Bispo de Rottenburg fez uma conferência fabulosa sobre o Espírito Santo, ao qual é preciso se abrir, e se manifesta a favor do diálogo; mas, no dia seguinte, leio na imprensa – para grande decepção de muitos dentro e fora da diocese – que o próprio bispo, que fala tão maravilhosamente, suspendeu uma jornada sobre a sexualidade em sua própria academia. O que nos resta?

Essa jornada estava prevista para o final de junho e o tema era a moral sexual atual.

Sim, e em vez de participar e defender suas ideias nas quais está tão bem formado, se esquiva. Desautoriza a diretora da academia e todos aqueles que querem participar. Dessa forma, deixa claro que o diálogo de que fala não é mais que uma frase vazia.

Como pensa que a Igreja católica está agindo em relação aos casos de abusos sexuais?

Segue sem adotar uma postura clara, por exemplo, sobre se os agressores deverão responder diante de um tribunal civil ou como vai se proceder, como se deduz das últimas notícias que chegam de Roma e dos Estados Unidos. Na Alemanha, dizem que já se desculparam e se dá o caso por encerrado. Ao mesmo tempo, nenhum bispo quer falar de que sejam questões estruturais, nem de que é preciso abordar de uma vez por todas temas como o celibato dos homens ou a ordenação de mulheres. Mas, por que não? O que se esconde por trás disso, na minha opinião, é simples e chama-se covardia, o contrário dessa franqueza apostólica que caberia esperar e da qual se fala na Bíblia, da mesma forma como os apóstolos falavam com liberdade. Os bispos atuais calam. E, se há ocasião para exercer o seu poder, o exercem.

É uma vergonha que se vaie o presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha no Dia da Igreja. Por quê? Porque ele, de forma arbitrária, tomou a palavra para criticar o Manifesto dos teólogos. Quando o Manifesto dos teólogos – assinado por 300 – é redigido em termos muito educados. Assim não se pode continuar.

Até aqui o diagnóstico da crise. Neste contexto você recorre continuamente à metáfora da enfermidade; passemos agora às propostas para a terapia. Você tem uma imagem concreta da reforma da Igreja. Da nossa conversa deduzo que a reforma que o Sr. Küng tem em mente passa pela eliminação total da instituição da Igreja.

Não, pelo contrário. Gostaria que reconstruíssemos a instituição da Igreja a partir de baixo, evidentemente, com base no Novo Testamento e no humanitarismo.

Então, é preciso se desfazer totalmente das estruturas atuais ou não?

É preciso abolir, evidentemente, o absolutismo do Papa. Embora se possa manter e apoiar perfeitamente uma instituição que dirija a pastoral, presidida por um bispo em Roma, sempre que for na direção do Evangelho. Poderia ter incluído uma função ecumênica. O que critico é que uma só pessoa queira dizer tudo e, por exemplo, que destitua um bispo, como voltou a fazer o Papa Ratzinger, pela primeira vez desde o Concílio.

Temos o caso do bispo Morris da Austrália. Foi destituído porque disse que não tinha mais padres e pedia a abolição do celibato e que se admitisse mulheres ao sacerdócio. Quando se cessa uma pessoa de seu cargo desta forma só cabe concluir: esta não é a Igreja de Jesus Cristo, isto é um sistema que exige uma total identificação e nem sequer aos seus bispos é permitido a menor divergência.

Não obstante, a instituição do papado lhe pareceria aceitável se o Papa fosse mais liberal, mais aberto? Ou diria que esta função do papado já não está em consonância com os tempos atuais?

Não. Sempre fui a favor do equilíbrio, do check and balance. É bom que haja uma comunidade, também é bom que haja algumas autoridades. Um homem como João XXIII teve um efeito maravilhoso na Igreja. Fez mais em cinco anos que Wojtyla com suas dezenas de viagens. Mudou toda a situação. Foi uma grande oportunidade. Não obstante, Sr. Caspary, devo lhe confessar que hoje tenho mais confiança nas paróquias e não o quero privar de uma boa notícia que recebi. Duas paróquias de Bruchsal, as comunidades romano-católicas de St. Peter e a comunidade paroquial de Paul Gerhardt, evangélica, escrevem: “Damos por terminada a divisão que durante quase 500 anos a cristandade viveu em nossa zona”. E acrescentam – espero que isso se publique logo: “Reconhecemos que em todas as paróquias que assinam este comunicado se vive igualmente como seguidores de Cristo e como comunidades de Jesus Cristo. Reconhecemos que em nossas paróquias Jesus Cristo nos convida à mesa do Pai e sabemos que Ele não exclui ninguém que queira segui-lo. Pela presente, manifestamos expressamente a nossa recíproca hospitalidade”.

Espero que haja muitas paróquias na Alemanha que façam o mesmo. Caso os de cima não queiram, em nível paroquial podemos dar por superada e finalizada essa cisão.

Como você imagina essa Igreja construída de baixo para cima? Quais seriam seus fundamentos institucionais? Não haveria um risco de caos, de que a Igreja se dividisse ainda mais em múltiplas direções?

O que acabo de ouvir de Bruchsal é justamente o contrário de uma cisão. Aproxima as paróquias. E na época do Concílio desfrutamos de grande unidade na Igreja. A divisão atual vem de cima porque se tentou invalidar o Concílio, porque alguns estão convencidos de que é preciso reintroduzir a missa em latim. Diante destes fatos é preciso protestar. É possível oferecer resistência como no caso das coroinhas. Os crentes disseram simplesmente: queremos que haja coroinhas e pronto. Agora, os de cima procuram estabelecer que, ao menos nas missas em latim, não haja mulheres. Necessitamos que haja uma resistência ativa, do contrário a Igreja vai a pique. Estamos em uma situação desesperada, perdemos praticamente toda a geração jovem. Esta é a diferença com relação aos países árabes onde centenas de milhares de pessoas saem às ruas. Há hoje 100.000 que saem às ruas para pedir reformas na Igreja católica? Continuamente me encontro com pais que dizem: “Você sabe, me dá tanta pena que, sendo católicos convencidos, depois de ter tido sempre um bom ambiente familiar em casa, não consigamos que nossos filhos participem da Igreja”.

Falou de desobediência civil. Pode concretizar isso? O que fazem os padres nas paróquias?

Os párocos, em sua maioria, praticam uma desobediência discreta. Se um pai evangélico se aproxima para receber a comunhão, não lhe perguntam se é evangélico, assim como se chegou a fazer nas jornadas de jovens de Colônia. Também não anunciam, assim como se volta a exigir que, em conformidade com o Papa, só determinadas pessoas possam participar da eucaristia. Os párocos, os bons párocos, prescindem dessas normas e se viram bastante bem. Embora eu seja a favor de que houvesse mais párocos como os de Bruchsal que trouxeram à luz sua resistência, de forma que as pessoas se deem conta de que avançamos.

A Igreja católica é capaz de iniciar ela mesma a reforma a partir de dentro?

Bom, conheço o sistema a partir de dentro e luto para que as reformas sejam feitas. Sei que tenho milhões de pessoas do meu lado. Neste sentido é questão de tempo. Simplesmente não podemos avançar baseando-nos em um senhor absoluto que prescreve o que deve ser feito na cama (palavra chave: a pílula...) e que estabelece todas as normas desde seu limitado campo de visão. Creio que a política papal demonstrou já ser um fiasco e não nos deveria corromper mais. A única pergunta que também se fez no partido da União Soviética, o partido comunista, é esta: há algum Gorbachov que possa nos tirar desta choça?

Quer isto dizer que seria favorável a algo como uma Perestroika na Igreja? Isso requer uma personalidade muito carismática.

Reclamo uma Glasnost e uma Perestroika, especialmente para as finanças da Igreja. Gostaria de saber como realmente se pagam as coisas em Roma, quem parte o bacalhau.

Esse seria outro assunto. A Perestroika seria para você...

... a independência.

Veremos se suas ideias e sua visão da Perestroika caem em solo fértil e o que vai acontecer nos próximos 20 anos dentro da Igreja católica. Uma vez lido o seu livro, me inclinaria por um certo ceticismo e pessimismo. Não obstante, se encontra entre as coisas boas, penso.

Só posso apelar e esperar que haja suficiente gente que se ponha em pé e, por fim, se rebele.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Pelo menos estou vivo

Foto: Todd Korol

Pelo menos estou vivo. Em movimento, andando por aí, perdendo ou ganhando, levando porrada, passando fome, tentando amar. "De cada luta ou repouso me levantei forte como um cavalo jovem", onde foi que li isso? Sei: Clarice Lispector, me Deus, foi em Perto do Coração Selvagem.

- Caio Fernando Abreu
(via X1 Tantas Notícias)

Tuitadas do dia #amaivosunsaosoutros

Blue bird: Paris Hair

RT @ivonepita: Por que nós nos sentimos mais confortáveis vendo dois homens segurando armas do que dando as mãos? #amaivosunsaosoutros

RT @gondimricardo: Dante me disse que no inferno tem uma sala lotada de religiosos q proibem e fiscalizam uns aos outros para não rirem, não se divertirem...

RT @mkGerald: “As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem” (Chico Buarque) #amaivosunsaosoutros

RT @Wedge_issue: "A Igreja do Diabo", Machado de Assis dominiopublico.gov.br/download/texto… Análise atemporal sobre ética, vícios, virtudes e humanidade...

RT @MarceloSpitzner: Excelente post da @escrevalola sobre Orgulho Hétero http://bit.ly/m3b7ZD #amaivosunsaosoutros

RT@delucca Internet é legal, mídia sociais são uma revolução, mas a revolução MESMO acontece nas ruas e no governo. A mobilização para derrubar os governo da Líbia e do Egito começou na internet, mas depois, o pessoal foi pra RUA protestar. Então, os gays e correlatos tem de sair as ruas pra protestar. Xingar Malafaia, Bolsonaro e outros boçais na internet é legal, mas só?

RT@lolaescreva E aí? Vc, ultrajad@ c/a aprovação do dia do Orgulho Hétero, já assinou a petição pedindo p/Kassab vetar? petitiononline.com/orhtnao/petiti…

@TonyGoes: O Dia da Vergonha Homofóbica http://bit.ly/mXpsF3 #amaivosunsaosoutros

RT @delucca: Quer ajudar o movimento gay? Converse com seus vizinhos sobre o que é ser gay e o quão natural isso é. :) #amaivosunsaosoutros

RT @delucca: Quer ajudar o movimento LGBT? Explique pros seus primos, amigos de escola de trabalho, que ser gay não é escolha, mas algo bem mais complexo.

RT @lolaescreva Orgulho das pessoas que reconhecem seus privilégios e lutam contra os preconceitos. #inventeumorgulho

RT @allanjohan: Entenda porque a aprovação do Dia do Orgulho Hétero é uma vergonha goo.gl/wsLvZ #amaivosunsaosoutros

RT@SaoJoaodaCruz "Deus é a eterna novidade"

Processo contemplativo: uma nova fase de discernimento da vida religiosa http://bit.ly/pKuKf8

O Papa e os "não indignados" da JMJ de Madri http://bit.ly/n6chH4 #amaivosunsaosoutros

Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Porque tu me amas, eu não preciso de ti. No amor, jamais nos deixamos completar. Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários. O amor é tanto, não quanto. Amar é enquanto, portanto. Ponto. (Roberto Freire)

“A verdade não produz necessariamente felicidade. Verdade conduz à lucidez. O delírio, porém, tranquiliza e gera um contentamento falso. Muitos recorrem à religião porque desejam fugir da verdade existencial e se arrastam porque a paz que a alucinação produz não se sustenta diante dos fatos.” (@gondimricardo)

Hoje: tuitaço pelo amor e contra a homofobia #amaivosunsaosutros http://bit.ly/oAzvSU

Quem tem medo dos gays? http://bit.ly/qPvueS #amaivosunsaosoutros

RT @Conteudo_Livre CONTARDO CALLIGARIS - O paradoxo de Amy Winehouse http://bit.ly/n13sgI

RT @eduquim O Dia do Heterossexual só poderia ter sido criado em SP. É uma ideia idêntica à que seria criar o Dia do Senhor de Escravos.

RT @freialvaci: É tão bom saber que Deus nos capacita acima de nossas limitações... #diadopadre #amaivosunsaosoutros

RT @homofobiaNAO: Já confirmaram presença na Marcha Pelo Estado Laico em Brasília? http://j.mp/rrjQxJ #amaivosunsaosoutros

O que pensar dos sacerdotes? 4 de agosto, #diadopadre http://bit.ly/n6WNKx #amaivosunsaosoutros @pepaulodea @freialvaci @pejulio :-)

Ironizando o Dia Do Orgulho Heterossexual no @furomtv http://bit.ly/reOj26 #DiaDoHomofobicoEnrustido #amaivosunsaosoutros

Morre último sobrevivente dos "triângulos rosas" nazistas http://bit.ly/mRQ1q9 #amaivosunsaosoutros

RT @LitaRee_real E pare de usar Jesus como desculpa para ser imbecil.

@bloghomosapiens @jadilsonr Pior: a homofobia atinge toda a sociedade pq instala e cultiva ódio, intolerância e demonização do outro, impedindo o diálogo, troca e aprendizado c/ a diferença. RT @bloghomosapiens @jadilsonr: O alvo principal da homofobia sempre foram homossexuais, mas héteros também são vítimas dela por serem confundidos com gays, lésbicas...

RT @lolaescreva Estudantes de graduação e pós: Participem do 7o Prêmio Construindo Igualdade de Gênero http://t.co/QZROFUH via@caroldeviterbo

RT @NossosTons: Alemanha comemora dez anos do reconhecimento da união gay. jornalfloripa.com.br/mundo/index1.p… #amaivosunsaosoutros

RT @luizeduardosoar: Assinei o manifesto contra a censura. Acho que todos deveríamos apoiar a iniciativa: censuranao.wordpress.com

RT @Andre_Fischer: Sensacional entrevista do Zé Celso Martinez Correa para CBN MixBrasil deste domingo.

RT @willgomes: Petição online a Kassab p/ vetar a lei municipal q institui o Dia do Orgulho Hétero: http://j.mp/qXCSM8 #amaivosunsaosoutros

Pesquisa aponta que Brasil avança, mas ainda em passos lentos, em relação aos direitos gays http://bit.ly/r62qRa #amaivosunsaosoutros

O Dia da Vergonha Política

Instalação: Daniel Rozin

Para tudo existe um limite. Não se consegue passar pela vida sem uma boa dose de paciência, sem a capacidade de relevar certas coisas e se colocar no lugar do outro para tentar entender seu ponto de vista. Mas há um limite. E não dá mais para termos tolerância com a intolerância.

A Câmara de vereadores de São Paulo aprovou em votação simbólica o Dia do Orgulho Hétero, uma proposta de Carlos Apolinário, do DEM. Desnecessário dizer que o projeto teve o apoio da bancada evangélica, e é aqui que já começam os erros. A mera existência de uma bancada evangélica, católica ou de qualquer outra inclinação religiosa é um câncer no sistema político nacional. A nossa Constituição é clara em afirmar que o Estado brasileiro é laico, logo essa mistura que certos "representantes" insistem em criar entre política e religião vai contra a carta magna do país e acaba gerando absurdos como esse Dia do Orgulho Hétero.

A mera ideia de criação dessa data é descabida. Apolinário, a mente brilhante por trás da proposta, diz que é uma forma de protesto contra a Parada do Orgulho Gay e os "excessos e privilégios" dos homossexuais. Que privilégios, senhor Apolinário? O privilégio de não poder demonstrar seu afeto em público por quem se ama sem temer receber olhares atravessados, reclamações e até agressões? O privilégio de ter que se contentar com alguns lugares voltados apenas para o público LGBT? O privilégio de, apenas no ano de 2011, ter o direito à união civil reconhecido pelo STF, numa votação histórica, porém atrasada?

A Parada do Orgulho Gay não surgiu para oferecer mera diversão aos frequentadores. Ela foi criada para chamar a atenção da sociedade para a necessidade do reconhecimento dos direitos dos homossexuais e para clamar por uma solução para os problemas que enfrentam, como os crimes de ódio e intolerância que se repetem diariamente. Ódio incitado por pessoas que acham que podem e devem impor sua visão religiosa conservadora e atrasada sobre toda a população brasileira.

Resguardados os excessos que até podem ocorrer (que, se pararmos para analisar, não são diferentes dos que ocorrem no carnaval ou nas micaretas Brasil afora), a Parada Gay também serve para dar visibilidade a essas pessoas, para dizer à população "Ei, nós existimos, nós estamos aqui". Afinal nem na TV os gays recebem o espaço e a atenção que merecem, a menos que sirva aos interesses das emissoras. Um personagem travesti que adora dizer que "tá bandida" ou outro personagem gay que acompanha sempre uma ex-garota de programa que enriqueceu após conhecer um senador têm espaço para garantir a audiência de um humorístico que não tem a menor graça, mas Deus nos livre de ver um beijo gay em uma novela. Gays e drag queens também podem participar de reality shows rurais de uma emissora evangélica para dar ibope, mas, se a conversa começa a abordar homossexualidade, a rede de TV corta o áudio do programa.

Há anos existe o Dia da Consciência Negra para lutar contra o preconceito e dificuldades que os negros ainda enfrentam no Brasil. Se minimamente civilizada, qualquer pessoa se revolta ao lembrar do apartheid na África do Sul. Mas o que os gays enfrentam hoje é um verdadeiro apartheid: são obrigados a viver em bares gays, boates gays, praias gays para não correrem o risco de serem agredidos gratuitamente.

Se algum parlamentar ao menos cogitasse criar o Dia da Consciência Branca teríamos uma onda de protestos avassaladora. Pois é exatamente isso que o tal vereador do DEM está fazendo: está invertendo a lógica da coisa para celebrar a intolerância, insultando o princípio do protesto e da reivindicação civil justa. Os negros e os gays infelizmente precisam de um dia para clamar pelos direitos que lhe são negados e sensibilizar acerca de todos os desafios que precisam enfrentar diariamente. Os heterossexuais, não. Nenhum adolescente precisa passar pela angústia de pensar na reação de seus pais ao contar para eles que é heterossexual, correndo o risco de ser espancado ou posto para fora de casa. Um heterossexual não leva uma lâmpada fluorescente na cara porque se veste ou fala de um jeito diferente. Os casais héteros sempre tiveram garantidos seus direitos à herança, pensão e todos os benefícios da união estável, e ainda podem realizar o sonho de adotar uma criança quando são incapazes de gerá-la naturalmente.

Então, caro Carlos Apolinário, não tenha a pachorra de dizer que a Parada do Orgulho Gay é um excesso e um privilégio dos homossexuais. Você tem todo o direito de continuar com sua mente tacanha e seus preconceitos, mas lá na sua igreja. Porém aqui, no espaço público e, principalmente, nos espaços de representação política dos cidadãos, guarde sua intolerância para você. Agora só resta a Gilberto Kassab vetar esse despautério e ter a clareza que faltou à Câmara dos vereadores de São Paulo. Talvez assim os outros parlamentares brasileiros aprendam algo.

- Tiago Sitônio Guedes
Reproduzido via ParlamentoPB com grifos nossos
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