sábado, 22 de janeiro de 2011

As cores de cada um


O Gay Men's Chorus of Los Angeles surgiu no final da década de 70, em pleno boom do movimento pelos direitos civis dos gays nos EUA, com o compromisso de promover a transformação social através da música.
Em dezembro de 2010, realizaram, na Immanuel Presbyterian Church, uma apresentação em tributo aos jovens que cometeram suicídio devido ao assédio que sofriam por serem gays.*

Assim como o vídeo da Pixar que postamos aqui em novembro, a apresentação faz parte do projeto It Gets Better (algo como "Vai Melhorar"), que procura mostrar a adolescentes e jovens gays atormentados pelo bullying a felicidade que podem encontrar em suas vidas para além das agressões de que são vítimas.

A música escolhida, True Colors, lançada originalmente por Cindy Lauper em 1986, tornou-se um ícone da militância gay americana e deu o título da turnê realizada pela cantora e outros artistas em 2007 em benefício da Human Rights Campaign, campanha pela promoção da igualdade de direitos dos gays.

Um fim de semana de muitas e verdadeiras cores para todos. :-)

*Fonte: Blog Entre Nós

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Be the change


Sejamos nós a mudança que queremos ver no mundo.
- Mahatma Gandhi

Bom fim de semana para todos! :-)

A água jorrará


Foto: Kevin Day

Em meio ao desencanto crescente e à disseminação da indiferença que corrói os valores mais essenciais neste mundo em que vivemos, vozes dissonantes se fazem ouvir. São vozes de pessoas que acreditam e valorizam a potencialidade do humano, a hospitalidade e cortesia, a solidariedade e a compaixão; acreditam e buscam, sobretudo, a possibilidade de um horizonte de paz.

Sobre isso escreve Faustino Teixeira, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora em artigo publicado originalmente no site Amai-vos e que reproduzimos parcialmente a seguir.

A crescente atenção para com a espiritualidade não é algo que toca exclusivamente os religiosos (...). A espiritualidade é algo essencial para todos nós, que nos acende para dimensões esquecidas ou adormecidas. Com ela nasce uma renovada alegria no coração, uma fecunda vontade de se abrir à vida, de afirmar a vida, de ouvir as vozes que vêm do Real, de escutar o clamor que vem do outro.

Um desse “amigos de Deus” que precisam ser acolhidos nesse nosso momento atual é Thomas Merton (1915-1968) (...). É difícil encontrar alguém que conseguiu traduzir de forma tão bonita e rica o significado de uma vida espiritual. Para ele, o autêntico contemplativo nunca está desligado do tempo, mas profundamente inserido em seu coração. Trata-se de alguém que assume viver a experiência integral da vida, que acende no coração uma atenção especial para com tudo o que existe, e que vive, simplesmente, a vida em sua profundidade, como o peixe na água. Em seu diário dizia: “A única coisa necessária é uma verdadeira vida interior e espiritual, um crescimento verdadeiro, por minha conta, em profundidade, numa nova direção (...). Minha obrigação é não parar de avançar, crescer interiormente, rezar, livrar-me de apegos e desafiar os medos, aumentar minha fé, que tem sua própria solidão, procurar uma perspectiva inteiramente nova e uma nova dimensão em minha vida” (setembro de 1959).

O radical despertar para o sentido da vida foi se firmando para Merton no aprendizado do silêncio da floresta, sobretudo nos últimos anos de sua vida, enquanto eremita na abadia trapista de Getsêmani. Uma experiência que viveu com todo o seu ser. E curiosamente, quanto mais vivia a unificação interior, mais dilatava o seu coração e sua abertura para os outros e para o universo inteiro. Em certo momento de sua vida, (...) se dá conta que a verdadeira vida contemplativa não pode significar separação do mundo, e que sua solidão vem animada por uma responsabilidade social: que ela não lhe pertence. Nessa ocasião percebeu de forma súbita e iluminada, como se captasse a beleza do coração de todos os seres humanos, que era um com eles. De que não eram seres estranhos à sua vida espiritual, mas que ocupavam nela um lugar central. (...) Foi o ponto de partida para uma nova percepção de Merton, quando então pôde captar a força da presença e gratuidade de Deus no íntimo de cada um.

Ao se aproximar da cavidade secreta do coração, que é o ponto de contato com o divino, Merton viveu uma tal experiência de liberdade interior, que no seu olhar ampliado soube reconhecer o segredo e o valor da alteridade. Na sua relação com a natureza pôde perceber o significado mais profundo do que denominou “ponto virgem” (...), [onde] habita o “paraíso de simplicidade, de autoconsciência – e de esquecimento de si -, liberdade e paz”. É nesse ponto “cego e suave” que se criam as condições para a sabedoria e o conhecimento de si e para a singular acolhida do outro. (...) Esse ponto vazio, que habita o centro de nosso ser, “é o centro de todos os demais amores”. É nele que habita a centelha que está na raiz de toda busca autêntica, e que pertence inteiramente ao Mistério sempre maior, que nós cristãos identificamos como Deus.

Nada mais essencial em nosso tempo sombrio do que saber cultivar o exercício de uma espiritualidade autêntica, de buscar encontrar este pontinho de nada que revela um sentido esquecido e abre portas fundamentais para a percepção do Real. Para além da lógica do mercado, marcada pela competição, pela produtividade, pela vontade de poder, pela ganância e egoísmo, existe um outro horizonte, onde o que é gratuito fala mais forte, e onde o humano pode brilhar com mais autenticidade. Como Merton assinalou, não há programa definido para esta ampliação do olhar, mas há que estar desperto para a sua irrupção. É algo que é dado de graça, e que se revela a cada momento pois está em toda parte. Como assinala Rûmî, um dos grandes místicos sufis, que estaria completando 800 anos neste ano, “Não busques a água; mostra apenas que estás sedento, e a água jorrará ao teu redor”. [Grifo nosso]

Que cada um possa cultivar o seu próprio aprofundamento e crescimento interior, rumo à fonte de água viva que jorra incessante no fundo do seu ser. :-)

Distinção entre os casamentos civil e religioso, união estável e "união civil"

Foto: Anúncio americano por ocasião do Dia de Martin Luther King 
(celebrado toda 3ª segunda-feira de janeiro) deste ano nos EUA*

O advogado Carlos Alexandre Neves Lima, autor do blog Direitos Fundamentais LGBT, nos fez a gentileza, nos comentários do post anterior, de sanar nossas dúvidas quanto às diferenças entre casamento civil (salientando a distinção entre este e o casamento religioso), união estável e a dita "união civil".

Os grifos abaixo são nossos, pois também para nós nunca é demais enfatizar que o casamento religioso pertence a uma esfera completamente distinta daquela da lei e do direito. Alimentar a confusão entre ambos tem sido uma das principais armas usadas contra os direitos civis dos gays, e cabe a todos nós dissipá-la. Como bem argumenta o movimento Catholics for Marriage Equality, a lógica que deve valer, no caso do casamento civil entre gays, é a mesma do divórcio, que é concedido pelo Estado ainda que algumas Igrejas se oponham à separação e ao recasamento.

Nosso muito obrigado ao Carlos, cujo blog é referência obrigatória na área do direito homoafetivo. :-)

Para melhor divulgação, tomamos a liberdade de reproduzir seu texto aqui. Segue abaixo.

* * *

Cris Serra e Equipe,

Uma coisa é religião e outra é a lei.

Existe o casamento religioso e o casamento civil.

Quando nos referimos aos direitos civis, evidentemente, não estamos falando de casamento religioso, mas do casamento civil que é disposto no nosso código civil brasileiro.

É muito grave esta confusão que as pessoas são induzidas entre casamento civil e religioso. Por causa dela, muitas pessoas se colocam contra o casamento para homossexuais, acreditanto que desta forma o estado, através de uma lei, estaria interferindo nas religiões.

Mas, vamos combinar, não é dificil perceber que nem todos que se casam no civil, também se casam no religioso e vice-versa. E, como imagino que todos saibam, somente do casamento CIVIL decorre os direitos estabelecidos pela lei CIVIL.

Casamento RELIGIOSO é sacramento, imposto pelas condições da igreja e o Estado não pode interferir.

Casamento CIVIL é um instituto jurídico de manifestação da vontade dos nubentes que, através normas de ordem;pública cogente, estabelecem, direitos e deveres.

Por sua vez, casamento civil e união estável são dois institutos jurídicos distintos e com efeitos diversos.

Em linhas MUITO GERAIS posso dizer que:
- enquanto no casamento o conjuge possui direito real de habitação, independente do regime de bens, sem limitação de tempo, já na união estável esse direito é questionável, e se aplicado, será limitado;
- no direito a herança, o casado, independente do regime de bens, é herdeiro necessário, está na linha do direito sucessorio, já o convivente da união estável só participa da herança na parte que contribuiu para a formação;
- no direito civil e penal, processual civil e penal, todos os inúmeros direitos previstos para os casados não se estendem aos conviventes da união estável;

Do casamento se extrai uma certidão que é um documento que representa uma prova pré existente e inquestionável de todos os direitos. A união estável não possui este documento, e mesmo que seja realizado durante a união, dependerá, obrigatoriamente, ser avaliado e decidido pelo Poder Judiciário sua existência, validade e eficácia.

Embora não seja a hipótese, mas vale lembrar que, o casal heterossexual pode OPTAR pelo casamento civil ou união estável. Este direito o casal homossexual não possui.

O indivíduo que contrai matrimônio pode expor e qualificar seu estado civil de casado, enquanto o convivente possui estado civil de solteiro.

De qualquer forma, as principais distinções são patrimoniais e de direitos e privilégios que decorrem das normas. Mas, ressalto que, para aqueles que não podem exercer o direito de optar por um ou outro instituto, o dano também é moral.

União Civil é um termo não técnico, que é utilizado pela imprensa, políticos e militância que abrange a todas as situações, ou seja, casamento, união estável, parceria civil e outro nome qualquer que queiram dar.

A união civil constava apenas no projeto de lei da Marta Suplicy, que estabelecia a tal parceria civil.

Espero ter contribuído de alguma forma.

Creio, salvo engano, que já falei sobre estas questões em algumas postagens no meu blog, inclusive, quando me referi a união estável da cantora Adriana Calcanhoto e Suzana de Moraes.

Abraços

Carlos Alexandre

* * *

*Créditos da imagem e mais informações aqui.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Católicos pela igualdade matrimonial


Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.
- 1Jo 4, 7-8

O Catholics for marriage equality (Católicos pela igualdade matrimonial) é um grupo americano de católicos de diversas tradições - romana, independente, episcopais, ortodoxos, entre outros - que defendem a igualdade de acesso ao casamento civil. Em seu site, enfatizam que não representam nenhuma Igreja específica: "somos um grupo de pessoas católicas que partilham a crença comum em que o casamento civil não pode ser negado a ninguém em virtude de sua orientação sexual". Um dos argumentos que utilizam é que, assim como o divórcio é concedido pelo Estado ainda que algumas Igrejas se oponham à separação e ao recasamento, do mesmo modo o casamento civil não poderia ser recusado com base em crenças religiosas.

Trata-se, no entender do grupo, de uma questão circunscrita à esfera jurídica e relativa ao Estado, que não diz respeito nem pretende interferir na visão de mundo de nenhuma Igreja em particular. Cabe a cada Igreja decidir que uniões serão reconhecidas e santificadas, ou não, conforme suas próprias crenças e valores. Nos EUA, várias Igrejas já realizaram cerimônias de casamento para casais do mesmo sexo, ao passo que outras não. A Igualdade Matrimonial, um direito civil, não anula nenhum direito religioso.

O grupo defende que os partidários dessa causa escrevam aos legisladores estaduais e federais cobrando inciativas sobre o assunto, e, sobretudo, que conversem com outras pessoas a respeito. "Muitas pessoas se opõem à Igualdade Matrimonial por medo. Ajudem-nas a dar uma face humana ao tema. De maneira respeitosa, compartilhe com elas os seus valores familiares."

Uma bela iniciativa; uma questão de cidadania. :-)

* * *
A questão do casamento gay, aliás, está dando o que falar por aqui nos últimos dias. Anteontem (18/01) foi divulgada a notícia de que o Supremo Tribunal Federal está para votar, em fevereiro, a validade jurídica das uniões homossexuais.

No meio do disse-me-disse, porém, surgiu um ruído na comunicação. No dia seguinte (19), o site Mix Brasil publicou que o "casamento gay" seria aprovado, enquanto, em seu blog, o Superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos do RJ, Cláudio Nascimento, publicou um texto similar, com modificações apontadas e analisadas pelo advogado Carlos Alexandre Neves Lima em seu blog.

O próprio Carlos Alexandre aproveitou para desfazer o mal-entendido e esclarecer a questão do ponto de vista jurídico: trata-se, de fato, da união estável entre homossexuais. Não união civil, e muito menos casamento civil - todos institutos jurídicos distintos, com conceitos e consequências diferentes.*

Ainda assim, é mais um passo na nossa caminhada.

_______________
*(Atualização em 21/01: saiba mais no próximo post.)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Homofobia e paz


O Ministério da Educação anuncia a preparação de uma cartilha sobre homofobia, "diante da constatação de que o assunto incita ódio, a violência e a exclusão, e pode até estimular a evasão escolar". Na mesma semana, a tragédia das chuvas na Região Serrana do Rio acaba trazendo inadvertidamente à tona uma questão controversa: a resolução RDC nº 153 da Anvisa, que regulamenta os procedimentos de hemoterapia no país, estipula que "homens que fizeram sexo com outros homens nos 12 meses que antecedem a triagem clínica devem ser considerados inaptos temporariamente para a doação de sangue".

Coincidentemente, a criação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, responsável também por assuntos como a homofobia, data do mesmo ano, 2004, que a resolução da Anvisa. Dois anos depois, em 31 de julho de 2006, a Anvisa emitiu uma nota de esclarecimento do veto à doação de sangue por gays de vida sexual ativa, acompanhada de uma nota técnica que procura justificar a proibição apelando para as "evidências científicas" que fundamentam a medida.

(Entre parênteses: um comentário sobre a nota da Anvisa.)

O Jornal do Brasil publicou, no apagar das luzes de 2010, uma matéria contrapondo os avanços no campo dos direitos civis de gays aos números da violência causada por homofobia no Brasil durante a era Lula, segundo dados do Grupo Gay da Bahia. O antropólogo Luiz Mott, fundador do GGB, salienta o paradoxo vigente na sociedade brasileira contemporânea entre “o lado vermelho-sangue representado pelos assassinatos de homossexuais” e “o lado cor de rosa favorável aos gays”.

Também citado na matéria do JB, Toni Reis, presidente da ABGLT, entende que as contradições da sociedade refletem-se nas diferenças entre os Três Poderes: enquanto Executivo e Judiciário vêm se mobilizando para garantir os direitos dos cidadãos gays, o Legislativo "ainda não aprovou o projeto de lei, em tramitação desde 2001, que define os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem, condição de pessoa idosa ou com deficiência, gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero". E acrescenta: “o problema no Legislativo é uma questão de fundamentalismo religioso”.

Em meio ao paradoxo, entre os números da violência explícita e o sentimento da discriminação velada, na contradição entre a crueza da homofobia real e a percepção da transformação, seja ela subliminar ou não, e, sobretudo, no fogo cruzado entre fundamentalistas cristãos e anticristãos em geral - o coração humano acalenta um profundo anseio de paz. Ainda que o conflito, o caos, o tumulto teimem em fazer barulho e ocupar espaço, não é a paz que desejamos para nós e nossas relações?

"Sim", sussurra o coração do Homem, "a paz é possível". É possível porque houve Alguém que prometeu: "Felizes os que constroem a paz, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5, 9). Assim como Sua mansidão não pode ser confundida com passividade, Sua paz consiste "não em ausência de conflitos, em falsa tranquilidade de consciência, em alienação. Mas em dinamicidade que luta e tudo faz para que a justiça aconteça, dando seu fruto maior, que é a verdadeira paz".*

Se a paz verdadeira só nos pode ser dada por Aquele que é o Príncipe da Paz, "ao mesmo tempo, responsabilizemo-nos com Ele a construir essa paz tão desejada por nós e por todos que vêm a este mundo. Ofereçamo-la, sobretudo ao que está próximo a nós. Seremos felizes, bem-aventurados. E chamados filhos de Deus!"*

Que a Paz do Senhor esteja conosco... E que cada um de nós possa ajudar a construí-la, para si mesmo e para o seu próximo. :-)

______________________
*Ref.: Maria Clara Bingemer, professora do Departamento de Teologia e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, em artigo publicado originalmente no site Amai-vos.

Parênteses sobre a nota da Anvisa



(Parênteses do post acima: o problema é que a Anvisa, em sua argumentação, procura associar o homossexual masculino ao maior risco de contaminação pelo HIV e outras DSTs - muito embora, segundo o Boletim Epidemiológico AIDS 2010 do nosso Ministério da Saúde, apenas no período entre 1980 e 1997 os homossexuais masculinos tenham sido maioria nos números da AIDS. Com efeito, desde 1998, este grupo é minoritário em relação aos homens heterossexuais, numa relação de mais de 2 para 1; ou seja, o carro-chefe da argumentação da Anvisa é um dado que, por ocasião da redação da nota, estava quase 10 anos desatualizado.

Ainda assim, para explicar o porquê do "maior risco" dos homossexuais masculinos, a Anvisa argumenta que, "devido à maior freqüência de relações sexuais anais que originam lesões dérmicas, porta de entrada para o vírus", os homossexuais "continuam tendo comportamento de risco acrescido para aquisição de HIV". E enumera uma série de outros "critérios de exclusão associados a diferentes situações de risco acrescido", tais como diabéticos, vítimas de estupro, indivíduos tatuados etc. - "não se restringindo", portanto, "apenas aos HSH , o que denota que não existe discriminação baseada em preconceitos". Nesse o caso, o veto não deveria valer para os aficionados do sexo anal em geral, em vez de para os homossexuais em particular?

Para completar, a Anvisa alega que "os serviços de hemoterapia são muitas vezes procurados para fins de diagnóstico de HIV por pessoas com comportamento de risco acrescido, incrementando desta forma a chance de transmissão". Só não fica claro se essa atitude é prerrogativa dos homossexuais, e se há alguma evidência científica que comprove isso. Fecha parênteses...)

Clique aqui para voltar ao post.

* * *

Atualização em 07/02/11
"Ministro da Saúde nomeado no governo Dilma Rousseff, Alexandre Padilha afirmou que pretende rever a proibição de homossexuais doarem sangue, em vigor no Brasil por meio da portaria nº 153, criada em 2004, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)."

Atualização em 17/03/11
"O Conselho Nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pode entrar com uma ação contra a proibição de gays doarem sangue.

A Comissão Nacional de Estudos Constitucionais da OAB analisará a polêmica Resolução nº 153 da ANVISA e se manifestará se é pertinente o ajuizamento de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade – medida contra leis/ações que desrespeitam a Constituição brasileira."

Essa iniciativa se deu a partir do questionamento do Grupo Matizes, do Piauí, que em fevereiro questionou o Ministro da Saúde sobre o assunto por ocasião de uma visita ao Estado. Isso é atuação cidadã. :-)

Reproduzido via Do Lado.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

"Quando o filho sai do armário, a mãe entra"


Uma frase da pesquisadora, professora e escritora Edith Modesto resume bem a dificuldade dos pais em aceitar um caso de homossexualidade entre a sua prole: “quando o filho sai do armário, a mãe entra”. E foi exatamente essa experiência que Edith viveu quando o seu caçula lhe disse, chorando, que era homossexual.

“Naquela época, meu mundo caiu”, lembra. “Na maioria das vezes, a descoberta da homossexualidade de um filho é vivida como uma tragédia. Por isso, passei por um processo lento de aceitação”. Edith levou anos pesquisando sobre diversidade sexual, após descobrir que não sabia nada sobre o assunto, apesar de ser professora universitária (aposentada), mestra e doutora em Semiótica pela Universidade de São Paulo (USP).

Ela começou acompanhando fóruns de bate-papo na internet sobre homossexualidade. Por muito tempo, a vergonha a impediu de interagir nessas rodas de conversas virtuais; apenas lia os diálogos dos outros integrantes. “Tinha muito preconceito e associava homossexualismo a doença, safadeza, perversão, mas fui me surpreendendo ao ver como os participantes eram cultos, interessantes e com caráter”.

Até que Edith, de 68 anos, teve coragem de se apresentar para todos como uma mãe de gay, que estava apavorada com a descoberta. Ao saberem disso, os interlocutores virtuais ficaram extasiados com o fato de estarem diante de uma mãe que, pela primeira vez, tentava entender esse mundo. Eles a “adotaram” e alguns se tornaram seus amigos.

Após esse primeiro passo, muita coisa mudou. Edith acabou criando o Grupo de Pais de Homossexuais (GPH), iniciativa que já completou doze anos. No começo, ela investia pouco em divulgação, por causa da vergonha de se expor. Mas depois que a pesquisadora “saiu do armário”, a ONG cresceu e passou a oferecer grupo de ajuda mútua, orientação, palestras e materiais educativos, além de seminários para empresas, escolas, etc.

Em 2006, Edith lançou o livro “Vidas em Arco-Íris: Depoimento sobre a Homossexualidade” (Editora Record). A publicação traz entrevistas com homossexuais, por meio de um olhar não acadêmico do mundo gay. O trabalho foi desenvolvido durante dois anos, período em que foram gravadas mais de 200 fitas com relatos sobre os mais diversos assuntos relacionados ao tema.

- Foi a maneira que encontrei para dar a palavra a eles, para que as pessoas pudessem abandonar estereótipos e saber que a homossexualidade é natural, e não uma opção. Quero mostrar também como o preconceito “social” é tão cruel que até mesmo quem é homossexual tende a não se aceitar. Até se assumirem gays, as pessoas passam por um processo tão doloroso quanto os pais.

Sentir-se amado e receber apoio são os desejos de qualquer filho, sobretudo de um homossexual. Segundo Edith, há muitos casos de suicídio e uso de álcool e drogas por jovens homossexuais, cujos pais não aceitam a sua sexualidade. Por isso, o GPH procura oferecer "um ambiente seguro e acolhedor onde pais e mães possam trocar informações e experiências sobre seus filhos". Atualmente, há grupos de acolhimento e ajuda mútua nas cidades de São Paulo e Bragança Paulista, além dos estados de Minas, Rio, Santa Catarina e Paraná.

Para mais informações, acesse o site ou mande um e-mail para o grupo. Ou, se preferir, ligue 011 3031-2106. Tudo o que é conversado entre os integrantes do grupo é estritamente confidencial.

Site: http://www.gph.org.br
E-mail: maes-de-homos@uol.com.br

(Livremente adaptado de matéria de Ciça Vallerio, publicada em 15/10/2006 no jornal Estado de S. Paulo, e baseado em informações contidas no site do GPH.)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Fome de espiritualidade

Ilustração: Deanne Cheuk

Reproduzimos abaixo, para reflexão, algumas considerações do teólogo basco Jose Antonio Pagola acerca da necessidade humana de alimentar sua dimensão espiritual. Publicado originalmente no Eclesalia, e reproduzido via Amai-vos.

(...) Na sociedade moderna, não é difícil observar sinais que mostram uma profunda fome de espiritualidade. É crescente o número de pessoas que procuram algo que lhes de força interior para enfrentar a vida de forma diferente. É difícil viver uma vida que não aponta para qualquer objetivo. Também não é suficiente se divertir.

(...) Outros sentem a necessidade de paz interior e de segurança para lidar com os sentimentos de medo e incerteza que surgem dentro deles. Algumas pessoas se sentem mal por dentro, feridas, maltratadas pela vida, desamparadas, com necessidade de cura interior.


(...) São cada vez mais numerosos aqueles que procuram por algo que não seja técnica, nem ciência, nem ideologia religiosa. Querem sentir-se de forma diferente na vida. Precisam sentir uma espécie de "salvação", entrar em contato com o Mistério que intuem dentro deles. [Grifo nosso]

(...) É um erro no interior mesmo da Igreja estar sendo incentivada, com freqüência, uma espiritualidade que tende a marginalizar Jesus como algo irrelevante e de pouca importância. Os seguidores de Jesus não podem viver uma espiritualidade séria, lúcida e responsável, se não for  inspirada pelo seu Espírito. Hoje nada é mais importante que oferecer às pessoas ajuda para se encontrarem internamente com Jesus, o nosso Mestre e Senhor.

Como será que cada um de nós tem vivido essa busca e cuidado do Mistério que vive no nosso interior?

Uma semana iluminada e luminosa para todos. :-)

domingo, 16 de janeiro de 2011

"Eis o Cordeiro de Deus"


Reproduzimos abaixo a bela reflexão de Gilda Carvalho* acerca do Evangelho deste domingo.

Ao aproximar-se de João no rio Jordão a fim de ser batizado, Jesus será chamado pelo Batista de “Cordeiro de Deus”. “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” (Jo 1, 29) – aclamará João ao ver Jesus que se aproxima com humildade para o batismo, querendo desde o início de sua missão fazer-se igual a todo aquele povo que procurava por consolo e conversão.

O cordeiro é um animal manso, pacato, e assim foi Jesus em sua manifestação à humanidade. Sua mansidão não pode ser confundida com passividade. Ao contrário, era uma resposta de não-violência a toda injustiça a que seu povo era submetida. Sua mansidão era a tradução da paz própria daqueles que se encontram em comunhão contínua com Deus Pai e sabem-se fazendo a vontade do Criador. [Grifo nosso]

Até hoje proclamamos as palavras de João Batista em nossas celebrações. A assembléia aclama o Cordeiro de Deus e Lhe pede piedade e paz. Depois, Jesus Eucarístico é elevado à frente da assembléia e apresentado a ela Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e respondemos a esta visão com um pedido de salvação. E, como João, somos também indignos de desatar as correias das sandálias do Salvador...

 Se continuarmos a ler o texto evangélico, veremos o relato do diálogo entre Jesus e os dois discípulos de João: “Mestre, onde moras?” e, à resposta de Jesus, permanecem com Ele aquele dia, reconhecendo Nele o verdadeiro Messias, passando a segui-lo e a aprender com Ele o caminho da salvação.

À visão do Cordeiro de Deus Eucarístico devemos, pois, refletir: acreditamos que aquele é realmente o Messias, feito Eucaristia em memória de Cristo e que ainda hoje permanece vivo entre nós? Fazemos da Eucaristia um momento de comunhão com o Senhor de modo que O deixemos transformar nossos corações com sua mansidão? Desejamos firmemente sermos manso como Ele o foi? Desejamos tornarmo-nos também Cordeiros de Deus, ainda que nos seja reservado o sacrifício? A visão do Cordeiro continua, portanto, a nos impelir à transformação, a um novo batismo, tal como João predisse então, tal como os primeiros discípulos que largaram tudo e seguiram Jesus viveram. O Senhor batizará não com a água, mas com o Espírito. Permitamos, pois, que o Espírito do Cordeiro nos faça mansos e diligentes para com a construção da paz.


Para reflexão: Jo 1, 29-34

*Publicado originalmente no site Amai-vos.
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